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Galeria de imagens: Retratos de mulheres afegãs presas por 'crimes morais'

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A fotógrafa polaco-canadense Gabriela Maj visitou prisões femininas no Afeganistão e conheceu mais de 100 mulheres presas por crimes como sexo fora do casamento, por terem sido estupradas ou por terem fugido de casamentos forçados

Alice Tchernookova | Vice

2015-05-29T09:00:00.000Z

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Todas as fotos por Gabriela Maj / Vice

Mesmo que a queda do Talibã em 2001 tenha reduzido a violência contra as mulheres no Afeganistão, as afegãs ainda têm um logo caminho pela frente quando se trata de viver com segurança. Enquanto as tropas estrangeiras deixam o território e a presença internacional se torna mais discreta, o financiamento e apoio a programas de desenvolvimento também estão sendo reduzidos. O medo de um aumento na violência contra as mulheres e um retorno a valores mais tradicionais e conservadores também está em alta.

Um dos exemplos mais extremos de violência aconteceu em março: uma estudante foi espancada até a morte com pauladas por uma multidão de homens no centro de Cabul. Seu corpo foi incendiado e arrastado até o principal rio da cidade. A mulher de 27 anos, de acordo com a agência de notícias Reuters, foi "falsamente acusada de queimar um Corão", o que desencadeou a violência nas ruas da cidade.

A lei islâmica ainda é amplamente aplicada no Afeganistão; assim, a "zina", que se refere à relação sexual entre pessoas fora do casamento, leva a condenação e prisão de muitas mulheres.

A fotógrafa polaco-canadense Gabriela Maj visitou sete prisões femininas no Afeganistão e falou com mais de 100 mulheres presas por "crimes morais". Ela apresenta suas histórias em imagens em seu livro “Almond Garden”. O título é uma tradução direta do nome de uma das penitenciárias femininas mais famosas do país, Badam Bagh (Jardim de Amendoeiras), localizada nos arredores de Cabul. Liguei para Gabriela a fim de conversar sobre o que ela descobriu em suas visitas a essas prisões.

Oi, Gabriela. Você pode falar um pouco mais sobre as condições em que essas mulheres vivem dentro das prisões?

Gabriela Maj: São geralmente cinco ou dez mulheres por cela. As celas ficam abertas durante o dia; então, elas podem andar e passar algum tempo em espaços abertos (se houver algum). Geralmente, as condições são muito básicas, mas aceitáveis. As mulheres têm acesso a água corrente e a banheiros. Elas recebem duas refeições por dia.

O interessante é que essas instalações são geralmente novas – elas foram construídas recentemente graças a financiamento estrangeiro. Por exemplo, o governo italiano gastou uma boa soma nelas recentemente.

Sob que acusações as mulheres que você fotografou estavam presas?

Muitas mulheres têm sido presas por crimes morais. Isso se refere a maneiras como uma mulher pode ser acusada de "zina", o que pode incluir fugir de casa ou de um casamento forçado, ser estuprada, às vezes ficar grávida em consequência disso...

Essas são mulheres inocentes que vivem em instalações de prisão abertas, muitas vezes com mulheres de comportamento violento. Isso torna o ambiente muito instável e difícil, especialmente para se criar um filho. Não há apoio para a saúde mental, e muitas sofrem de transtorno de estresse pós-traumático.

No livro, você menciona que algumas mulheres realmente cometeram crimes, como matar o marido ou o agressor por estrangulamento ou cortando sua garganta. Nesses casos, você sentiu que as sentenças eram "merecidas"?

A maioria foi presa injustamente. Depois de um tempo, parei de distinguir entre quem era "culpada" e quem era "inocente" – se essas mulheres tivessem tido experiências de vida diferentes, acesso a educação ou um sistema legal que oferecesse proteção a vítimas de abuso, elas provavelmente teriam feito outras escolhas. Muitas vezes, eu pensava que teria feito o mesmo no lugar delas. O que você faria se fosse obrigada a se prostituir pelo seu marido ou estuprada por um grupo de estranhos?

Alguma história te fez sentir particularmente desconfortável?

Só uma pessoa me fez sentir "desconfortável". Era uma assassina em série, presa com cinco homens de sua família por 137 assassinatos. Ela tinha sido vítima de abuso desde muito pequena e estava constantemente exposta à violência, da qual ela tomava parte junto com os homens. Era evidente que ela sofria de problemas sérios. Ela era imprevisível e tinha explosões violentas.

Nas fotos, muitas mulheres estão posando com os filhos. Elas realmente dão à luz na prisão? As crianças podem ficar e viver com suas mães?

Muitas mulheres são presas enquanto estão grávidas, geralmente como resultado de estupro ou de um relacionamento fora do casamento. Em alguns casos, elas fazem o parto em instalações especiais fora da prisão, mas em muitos outros não há essa opção.

Como as penas geralmente envolvem um crime moral, às vezes as famílias rejeitam a mãe e a criança, já que o entendimento de "zina" traz uma vergonha tremenda para a família. No pior dos casos, há até ameaça de morte, já que assassinatos de honra ainda acontecem muito no Afeganistão. Isso também significa que a criança não tem para onde ir. As crianças podem ficar na prisão tecnicamente até os cinco anos de idade.
 

 

O que acontece quando elas saem?

Elas voltam à família ou vão parar num abrigo para crianças. Infelizmente, muitas também acabam nas ruas e têm poucas oportunidades. Isso só mostra como esse aspecto da justiça não só drena recursos limitados – custa muito manter essas mulheres presas –, mas também destrói comunidades e famílias. Isso destrói não só as vidas das mulheres, mas as vidas das crianças também.

No livro, você menciona redes de prostituição dentro das prisões. Você pode falar mais sobre isso?

Não testemunhei isso com meus próprios olhos, mas ouvi muitas menções – tanto de guardas como de pessoas de fora [das prisões] – nos cinco anos em que viajei pelo país. As presas também falavam sobre isso. Um diretor prisional que conheci falou abertamente sobre estar substituindo um diretor que estava envolvido na exploração sexual dessas mulheres.

Existem problemas endêmicos no sistema judicial do Afeganistão ou a ideia de "crime moral" está profundamente enraizada na mente da população?

O sistema judicial no Afeganistão é muito corrupto, e um contingente conservador significativo ainda tem o poder no governo. Mas, se isso fosse uma questão de política, seria fácil resolver. Porém é uma percepção social maior. Nas famílias com que fiquei, as mulheres ficavam horrorizadas quando eu contava que passei tempo com essas mulheres presas, especialmente mulheres acusadas de crimes morais.

Ser acusada disso é quase uma sentença de morte na sociedade afegã – isso causa reações muito fortes. Essa ideia de trazer vergonha para sua família é quase a pior coisa que uma mulher pode fazer. Associar-se a essas mulheres é quase visto como se associar a leprosos.

Há grupos de apoio para essas mulheres por lá?

O Women for Afghan Women, que é financiado em parte por doadores independentes internacionais, é uma organização comandada no Afeganistão por mulheres afegãs. Elas têm um sistema de abrigos para mulheres que fugiram de suas famílias ou que estão saindo da prisão e não têm para onde ir. Elas também têm programas educacionais para crianças e oferecem apoio legal. Mas a demanda é muito maior do que elas conseguem atender.

Há alguma ajuda vindo da comunidade internacional?

Depois de 2001 [e da queda do Talibã], havia muito financiamento da comunidade internacional para programas apoiando a saúde e educação de mulheres. Havia programas de alfabetização e treinamento básico dentro das prisões para permitir que essas mulheres garantissem alguma renda depois que saíssem. Mas, agora, muito disso secou. As tropas estão sendo retiradas, assim como muito do apoio e da ajuda para o país. A situação dessas mulheres é desesperadora. É quase pior fora das prisões, porque elas não têm as ferramentas e os recursos para garantir um meio de vida para elas mesmas.

 

Tradução: Marina Schnoor

Matéria original publicada no site da Vice.

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Sociedade

Número de vítimas de pedofilia dentro da Igreja pode chegar a 10 mil na França

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Em parceria com o Ministério da Justiça, uma linha telefônica foi colocada à disposição em 2019 para receber testemunhos de vítimas de todo o país

Redação

RFI RFI

Paris (França)
2021-03-02T22:41:00.000Z

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Desde 1950, 10.000 crianças e adolescentes podem ter sido vítimas de violências sexuais cometidas por membros da Igreja Católica na França. Essa é a estimativa do presidente da comissão independente que investiga a pedofilia dentro da maior instituição religiosa no país. 

A comissão foi criada em 2018 pelo episcopado francês e institutos religiosos após diversos escândalos no país. Em parceria com o Ministério da Justiça, uma linha telefônica foi colocada à disposição em 2019 para receber testemunhos de vítimas de todo o país. A estimativa foi feita a partir dos relatos recolhidos.

O número de crianças e adolescentes sexualmente abusados, no entanto, ainda pode mudar. “Nossa campanha está pedindo testemunhos, certamente não reuniu a totalidade [de vítimas]”, afirmou o presidente da comissão Jean-Marc Sauvé nesta terça-feira (02/03). “A grande pergunta neste momento é qual o percentual de vítimas que atingimos. 25%? 10%? 5%?”, completou.

O presidente da comissão não informou quantos são os possíveis agressores envolvidos. Segundo ele, no entanto, "em várias instituições católicas ou comunidades religiosas, tem havido um verdadeiro sistema de abuso, mas esta situação representa uma minoria muito pequena dos casos de que ouvimos falar".

Pxhere
Cerca de 10.000 possíveis vítimas de pedofilia cometida por membros da Igreja Católica na França foram identificadas desde 1950

O relatório final com recomendações de práticas de combate à pedofilia na Igreja deve ser divulgado em setembro. 

Responsabilidade pelo passado

Em fevereiro, a Conferência de Bispos da França reuniu 120 representantes ao longo de três dias para discutir a responsabilidade nos casos de pedofilia do passado. A discussão terminou sem nenhuma decisão prática.

"Nós concordamos todos que, no passado, houve falhas na gestão das coisas, sem falar dos crimes cometidos", afirmou o Monsenhor Luc Ravel. "Mas ainda estamos divididos sobre a noção de responsabilidade coletiva em relação ao passado. Alguns acreditam que é preciso solidariedade em relação às gerações precedentes", disse na ocasião da conferência.

Os 120 bispos devem se encontrar novamente no final deste mês para votar um dispositivo de reconhecimento do sofrimento vivido pelas vítimas que, se aprovado, pode prever medidas financeiras, criação de monumentos e políticas de prevenção à pedofilia.

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