Um folheto de missa trazendo apelos contrários à homofobia e solidários às pessoas LGBT que sofrem física e psicologicamente por conta de sua orientação sexual foi divulgado pelas redes sociais no último fim de semana.
O folheto circulou na missa da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, da região episcopal Itaquera-Guaianazes (São Paulo), no domingo (21). O texto apresentava argumentos progressistas e anti-homofóbicos e solicitava aos cristãos que desenvolvessem atitudes “samaritanas” junto às pessoas que sofrem insultos de agressores homofóbicos.
O documento também pedia uma ruptura com a “demonização das relações afetivas” e o fim da criminalidade sexual, garantindo-se a toda e qualquer pessoa a decisão sobre sua própria orientação sexual.
“Para que a ofensiva homofóbica, fundamentalista e histérica presente no Congresso Nacional seja enfrentada com ousadia e serenidade; pelo ascenso das causas libertárias, suplicamos”, diz um trecho extraído da “Oração dos fiéis”.
A reportagem entrou em contato com o padre da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Paulo Sergio Bezerra, que também é diretor da equipe de redação do semanário litúrgico “Memorial do Senhor”, responsável pelos folhetos.
O religioso ressaltou que o teor do folheto se alinha ao pensamento da Igreja Católica e ao discurso de seu líder. “Nosso posicionamento reflete uma resposta da paróquia aos apelos do papa Francisco por 'misericórdia' e por uma 'Igreja que não seja uma alfândega', conforme o que está no documento Evangelii Gaudium, redigido pelo Sumo Pontífice”.
Padre Paulo também falou do posicionamento da bancada evangélica no Congresso Nacional. Segundo ele, a atuação desses parlamentares “é anacrônica e sonha com um Estado Teocrático”.
“As religiões devem servir à humanidade, ao belo de Deus e à exigência da Justiça. Entre os cristãos isso se chama testemunhar o Reino de Deus”, finalizou o sacerdote.
A reportagem também entrou em contato com Edilson da Silva Cruz, professor de espanhol na rede municipal paulistana e frequentador da Paróquia Nossa Senhora do Carmo. O conteúdo do folheto foi compartilhado a partir de seu perfil no Facebook.
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Ele, que também faz parte de grupos de discussões da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT, considerou positiva a circulação de sua postagem. “Me surpreendi porque muitos dos que compartilharam escreveram coisas como 'ainda há esperança', 'dá até vontade de voltar pra igreja', 'nesse Deus eu acredito'”, afirmou.
“Pra mim, [foi] um sopro de esperança em meio a tanta violência que testemunhamos diariamente contra a comunidade LGBT e contra todos que são diferentes por vários motivos”, declarou Cruz.
Edilson disse que a Paróquia está promovendo um ciclo de palestras aos domingos, na qual se discutem temas que envolvem Igreja e sociedade. O tema do dia 21 de junho foi “Igreja e sexualidades: um diálogo necessário” com palestra do padre Luis Correia, jesuíta que fez doutorado na PUC-RJ sobre sexualidades/homoafetividades e religiões cristãs.
Os próximos encontros debaterão: “Crise política: onda conservadora e avanços democráticos”, com a participação do historiador e deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) e “Movimentos Sociais: a outra face da política”, com a presença de Guilherme Boulos, do MTST.
Matéria original publicada no site do jornal Brasil de Fato.