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#NiUnaMenos: feminicídios e violência contra mulheres ganham destaque na nova literatura argentina

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Causa que levou milhões de pessoas às ruas em protestos no início de junho chega aos romances e contos de escritoras argentinas; autora de 'Chicas muertas', sobre assassinatos de mulheres, diz buscar 'colocar em palavras tanto horror'

Lucía Lijtmaer | El Diario

2015-08-14T09:00:00.000Z

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Divulgação / Facebook Selva Almada

A escritora argentina Selva Almada, autora de "Chicas muertas" ["Garotas mortas"], que aborda os feminicídios recentes no país

“A manhã de 16 de novembro de 1986 estava limpa, sem nenhuma nuvem, em Villa Elisa, o povoado onde nasci e me criei, no centro e ao leste da província de Entre Ríos.” Assim começa o livro “Chicas muertas” [“Garotas mortas”, em tradução livre], da escritora argentina Selva Almada. O olhar cristalino sobre um povoado do interior escurece logo nas primeiras páginas: a lembrança dos 13 anos da escritora desfia como, dali a poucas horas, uma voz no rádio noticia o assassinato de Andrea Danne, de 19 anos, no povoado de San José, a apenas 20 quilômetros de Villa Elisa.

Desde então, a presença de Andrea não abandona a escritora. Na realidade, acaba por somar-se a todas as outras mulheres mortas que surgem nas páginas dos jornais: María Soledad Morales, Gladys Mc Donald, Elena Arreche, Adriana e Cecilia Barreda, Liliana Tallarico... Cada história é um mundo próprio, um ponto de interrogação, e, por sua vez, o mesmo final: garotas mortas.

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Na Argentina, o livro de Almada é único em narração e forma, mas não em temática. Nos últimos tempos, a literatura do país está reunindo histórias relacionadas à violência contra as mulheres, algo que foi cristalizado com a chegada do movimento #NiUnaMenos [#NemUmaAMenos, em tradução livre], após o assassinato de Chiara Páez, 14 anos, por seu namorado em maio deste ano na província de Santa Fé. “É um tema que nos preocupa, que está presente. É bastante natural que isto termine incorporado em livros que tratem de colocar em palavras tanto horror”, diz Almada. Em seu caso, Andrea, a primeira “garota morta”, atua como gatilho, porém ainda há todas as outras. “Nesta altura havia muitos anos que a violência contra as mulheres era um tema de preocupação constante para mim. Então pensei que contando as histórias destas mulheres podia dar conta desta preocupação, do espanto do feminicídio, de como vivemos as mulheres em sociedades como a minha”, conta.

[Capas das edições argentinas dos livros "Beya" e "Chicas muertas". Imagens: divulgação]

Semelhante é a reflexão da escritora Gabriela Cabezón Cámara, que publica agora na Espanha “Y su despojo fue uma muchedumbre” [“E seu espólio foi uma multidão”, em tradução livre], um romance em quadrinhos, depois de ter tratado primeiro o abuso e os maus tratos em “Beya. Le viste la cara a Dios” [“Ela viu a cara de Deus”, em tradução livre]. Cámara, uma das principais ativistas do #NiUnaMenos, analisa por que a temática chega finalmente à literatura: “Não se pode escrever de fora da História, do emaranhado político e cultural no qual se vive. No caso de ‘Le viste la cara a Dios’, essa relação com a realidade da Argentina – e também, lamentavelmente, do mundo inteiro – é muito direta: os casos de tráfico de mulheres, dos crimes mais lucrativos da economia global hoje”, afirma.

Agência Efe

Manifestante durante marcha #NiUnaMenos em Buenos Aires, realidada no dia 03 de junho em várias cidades do país

Cámara define o movimento #NiUnaMenos como “uma maravilha, uma surpresa, uma alegria enorme, já que se gestou uma manifestação enorme em apenas três semanas. O repúdio à violência machista foi, podemos afirmar, um evento nacional”, sendo a cristalização de algo que permeia toda a sociedade argentina e que se demonstra tanto na ficção quanto na não ficção. “Não acredito que seja casual, tem a ver como o que está acontecendo no mundo, com essa tensão louca e contraditória. Por um lado, há mulheres como Angela Merkel, que governam meio mundo. E por outro lado, há mulheres compradas e vendidas como se fossem objetos”, reflete Cámara.

Tanto “Beya” quanto “Chicas Muertas” colocam o dedo na ferida de uma problemática social urgente. Cámara denuncia os maus tratos e o crime, porém também o negócio que sustenta o tráfico de mulheres. “Na Argentina, há o caso emblemático de Marita Verón, conhecido pela luta heroica de sua mãe, Susana Trimarco, para encontrá-la. Sabemos que uma rede de tráfico a sequestrou em 3 de abril de 2002, porém ela continua desaparecida. Algo deste caso, do horror e dos depoimentos de mulheres que foram resgatadas de redes de tráfico por Trimarco, está contado em ‘Le viste la cara a Dios’”, diz Cámara.

Almada, por outro lado, analisa o progresso na visibilidade: “Se uma mulher é assassinada por seu cônjuge, hoje fala-se de feminicídio e não de crime passional, por exemplo. Há penas mais duras para os feminicidas. Há entidades governamentais que ajudam as vítimas. Há mais informação. De qualquer forma, há muitíssima coisa a fazer, há muito o que pensar sobre o assunto... Como educamos nossos homens e nossas mulheres, por exemplo”, conclui.

 

Tradução: Mari-Jô Zilveti

Matéria original publicada no site do jornal espanhol El Diario.

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Direitos Humanos

Abbas chama de Holocausto ataques de Israel a palestinos

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Declaração do presidente da Autoridade Nacional Palestina foi feita durante visita a Berlim e causou indignação do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-17T14:15:00.000Z

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Em visita a Berlim, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, classificou nesta terça-feira (16/08) como "Holocausto" os frequentes ataques de Israel contra os palestinos, provocando indignação do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz.

"Israel cometeu 50 massacres em 50 locais palestinos desde 1947", disse Abbas, em entrevista coletiva ao lado de Scholz. "Cinquenta massacres, cinquenta Holocaustos", acrescentou Abbas.

Scholz acompanhou as declarações com uma expressão petrificada, visivelmente irritado. No entanto, não fez nenhum comentário sobre o assunto durante a coletiva.

A polêmica declaração veio após Abbas ser questionado por um jornalista se pediria desculpas a Israel no 50º aniversário do ataque à equipe olímpica israelense por terroristas palestinos em Munique.

Abbas disse haver pessoas mortas pelo exército israelense todos os dias. "Se queremos continuar cavando no passado, sim, por favor". No entanto, não se pronunciou diretamente sobre o ataque durante os Jogos Olímpicos de 1972, no qual 11 israelenses foram mortos.

Steffen Hebestreit, porta-voz de Scholz, declarou a conferência de imprensa encerrada imediatamente após a fala. A pergunta ao presidente da Autoridade Nacional Palestina já havia sido anunciada como a última da coletiva. Mais tarde, Hebestreit relatou que Scholz ficou indignado com a declaração de Abbas.

Horas depois, o próprio Scholz comentou a polêmica ao jornal alemão Bild. "Especialmente para nós, alemães, qualquer relativização do Holocausto é insuportável e inaceitável", disse. Durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de seis milhões de judeus foram assassinados no programa de extermínio promovido pelo regime nazista.

Em 5 de setembro de 1972, um esquadrão terrorista palestino entrou no complexo olímpico de Munique e fez reféns membros da equipe israelense. Onze atletas israelenses e um policial alemão morreram em uma operação fracassada de resgate.

O líder do partido de oposição União Democrata-Cristã (CDU), Friedrich Merz, disse que foi "incompreensível" a forma como Scholz tratou o incidente. Pelo Twitter, Merz afirmou que o chefe de governo deveria ter "claramente contrariado" o presidente da Autoridade Nacional Palestina. O político da CDU Armin Laschet chamou a fala de Abbas de "a pior gafe já ouvida na Chancelaria Federal".

Janine Schmitz/photothek/picture alliance
Abbas fez declaração em coletiva de imprensa na Chancelaria em Berlim

Scholz critica acusações de "apartheid"

Na mesma coletiva, Abbas já havia feito outra declaração polêmica e sido repreendido por Scholz.

O presidente da Autoridade Palestina descreveu a forma como os palestinos são tratados pelo governo israelense como "apartheid", levando Scholz a se distanciar imediatamente dos comentários.

"Quero dizer explicitamente neste momento que não adoto a palavra apartheid e que não acho que seja a maneira correta de descrever a situação", disse Scholz.

Embora no passado a Alemanha tenha manifestado apoio à criação de um eventual Estado Palestino, sob o que é chamado de "solução de dois Estados", Scholz disse nesta terça-feira a repórteres que "não seria o momento de mudar a situação".

O apartheid é a doutrina de separação de grupos populacionais étnicos individuais, como o ocorrido na África do Sul até 1994. É reconhecido internacionalmente como um crime contra a humanidade.

Em 1967, Israel conquistou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã na Guerra dos Seis Dias. A ONU classifica as áreas como ocupadas. Os palestinos as querem para seu próprio estado da Palestina - com Jerusalém Oriental como capital. O processo de paz entre Israel e os palestinos está parado desde 2014.

Polêmica com precedentes

Não é a primeira declaração controversa de Abbas sobre o tema. Em 2018, ele afirmou que os judeus não haviam sofrido historicamente por causa de sua religião, mas por terem sido banqueiros e credores de dinheiro. Abbas disse que os judeus que viviam na Europa sofreram massacres "a cada dez a 15 anos em algum país desde o século 11 até o Holocausto".

"Dizem que o ódio contra os judeus não foi por causa de sua religião, foi por causa de sua função social. Então, a questão judaica que se espalhou contra os judeus em toda a Europa não foi por causa de sua religião, mas por causa de agiotagem e dos bancos", disse Abbas na época. Dias depois, ele se desculpou pelas declarações antissemitas.

Abbas obteve um doutorado em História no Instituto de Orientalismo de Moscou, em 1982, na então União Soviética. Sua dissertação, intitulada A relação secreta entre o nazismo e o movimento sionista, atraiu críticas generalizadas de grupos judaicos, que o acusaram de negação do Holocausto. Em 2014, ele se defendeu das acusações de ser antissemita ao afirmar que o Holocausto foi "o pior crime da história moderna".

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