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Em 2050, Índia terá a maior população muçulmana do mundo; fato desafiará equilíbrio político do país, avalia pesquisador

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Projeção aumentou a crescente tensão entre grupos militantes hindus, como o Rashtriya Swayamsevak Sangh e os muçulmanos; desigualdade com que são tratados os seguidores do islã ameaça estabilidade política do país

Riaz Hassan

2015-10-19T08:00:00.000Z

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Em três décadas e meia, a demografia das religiões no mundo vai mudar consideravelmente, com consequências significativas para o mundo — políticas, sociais e econômicas. A proporção de várias religiões na população mundial vai permanecer de modo geral a mesma ou diminuir, com exceção do islamismo. No Sul da Ásia, especialmente na Índia, onde as tensões entre a maioria hindu e a minoria muçulmana estão em ascensão, tal mudança demográfica traz o risco de provocar revoltas.

As constatações foram tomadas com base no estudo The Future of World Religions: Population Growth Projections, 2010-2050 (O Futuro das Religiões no Mundo: Projeções do Crescimento da População, 2010-2050, em tradução livre).

 

No mundo inteiro os muçulmanos têm a mais alta taxa de fertilidade e a mais baixa idade média, e a projeção é que seu número passe de 1,6 bilhão em 2010 para 2,76 bilhões em 2050. Pela primeira vez na história, a população muçulmana vai igualar a de cristãos, até agora o maior grupo religioso do planeta. O número de cristãos nos Estados Unidos, Europa e Austrália vai decair significativamente em razão do grande aumento do grupo dos que se identificam como “sem filiação”, talvez uma indicação de agnosticismo ou ateísmo.

Essas mudanças também terão repercussões nos relacionamentos entre muçulmanos e não muçulmanos globalmente, especialmente no Sul da Ásia – exacerbando tensões existentes ou dando margem a novos desafios para a promoção de relações harmoniosas entre os grupos religiosos.

A população muçulmana de todos os países do Sul da Ásia vai registrar variados graus de mudança. No Nepal e Afeganistão vai mais do que dobrar. Bangladesh terá o menor acréscimo, de cerca de 36%. O número de muçulmanos na República Islâmica do Paquistão e no Sri Lanka vai aumentar em 63% e 48%, respectivamente. No entanto, a maior mudança, e de maior consequência, será na Índia, prestes a se tornar a nação de maior população muçulmana. Sua população hindu vai crescer 35%, passando de 1,03 bilhão em 2010 para 1,38 bilhão em 2050, mas o número de muçulmanos indianos vai aumentar 76%, passando de 176 milhões para 310 milhões no mesmo período. Isso significa que a maior expansão na população muçulmana no Sul da Ásia se dará na Índia.

Wikicommons

Jama Masjid, a maior mesquita da Índia, localizada em Nova Déli

A Índia vai adquirir um novo status em termos de composição religiosa de sua população. Com um total de 310 milhões de muçulmanos, a Índia se tornará o maior “país” muçulmano do mundo. Embora a previsão seja que os hindus continuem a ser a maioria da população, com 77% do total, a proporção de muçulmanos vai crescer de 14% em 2011 para 18% em 2050. O aumento populacional representará um desafio adicional e mais complexo para o sistema político democrático da nação, baseado em uma Constituição secular que prevê justiça, liberdade, igualdade e fraternidade para todos os cidadãos indianos – mas é cada vez mais contestada.

Embora haja melhoria geral nas condições de vida no país, esses benefícios não foram distribuídos de modo equitativo. Os muçulmanos indianos não foram igualmente beneficiados pelo crescimento econômico da nação. Seu status não é muito diferente do ocupado pelo grupo dos dalits, ou intocáveis, em meados do século 20, que levou a uma ação afirmativa compulsória determinada pela Constituição. Tomando 1947 como ponto de referência, os muçulmanos tiveram sua mobilidade social reduzida.

Foi essa constatação que levou a Índia a estabelecer em 2004 um Comitê de Alto Nível do Primeiro Ministro, popularmente conhecido como Comitê Sachar, para investigar se os muçulmanos indianos enfrentavam um grande nível de privação relativa em diferentes esferas e que medidas corretivas poderiam ser adotadas para reduzir injustiças.

[Quadro de 1852 retrata muçulmanos indianos, com a mesquita Jama Masjid ao fundo| Imagem: Wikicommons]

O Relatório Sachar, divulgado em 2006, marcou uma decisiva mudança das políticas de identidade para políticas de desenvolvimento porque demonstrou que a abordagem dos problemas dos muçulmanos precisava ir além das políticas de identidade e do costumeiro compromisso com o secularismo e pluralismo. Mostrou que as condições dos muçulmanos são apenas levemente melhores do que as das chamadas castas hindus marcadas e tribos marcadas – grupos em desvantagem social que são protegidos– e piores do que a categoria de hindus designada como “outras castas atrasadas”

O Comitê Sachar realizou extensivas consultas por todo o país para documentar as percepções dos muçulmanos sobre o problema que enfrentavam, com foco em identidade, segurança e justiça. A investigação verificou que, ao contrário de outras minorias religiosas, os muçulmanos indianos carregavam o peso extra de serem rotulados como “antinacionalistas” e serem ao mesmo tempo “apaziguados”. Suas más condições econômicas e educacionais significam que o chamado “apaziguamento” não funcionou, e tais marcas de identidade conduzem com frequência à suspeita e à discriminação por pessoas e instituições. A discriminação é disseminada em emprego, habitação e educação. As mulheres muçulmanas enfrentam contínua discriminação por causa de seus símbolos de identidade. Ao mesmo tempo uma maioria de seus compatriotas não muçulmanos considera as características socioculturais da comunidade muçulmana como a causa de seu atraso.

Em agosto, o governo indiano divulgou dados do Censo de 2011 sobre comunidades religiosas. Uma parte da mídia aproveitou a oportunidade para fazer sensacionalismo com o relatório, buscando apontar que a população hindu na Índia está em declínio enquanto a população muçulmana tem aumentado. Um olhar mais apurado sobre os dados revela que tanto a população hindu como a muçulmana cresceu.

Flickr/CC/Nagarjun Kandukuru

Muçulmanos, cristão e hindus em pintura sacra na cidade de Goa, no interior da Índia

O governo indiano retardou por quatro anos a divulgação dos dados do Censo de 2011 sobre a composição religiosa. Um motivo plausível é que o governo anterior, da Aliança Progressiva Unida, liderada pelo Partido do Congresso, era visto como “pró-minorias/muçulmanos” e não queria que o Partido Bharatiya Janat (BJP, na sigla original), atualmente no poder, explorasse os dados da composição religiosa que mostram um decréscimo na proporção de hindus e um aumento na de muçulmanos na população. A divulgação dos dados da composição religiosa do Censo de 2011 pelo governo liderado pelo BPJ parece ser conveniente do ponto de vista político para consolidar apoio entre o núcleo de seu eleitorado.

Também alimenta movimentos como o Ghar Wapsi, encabelado por grupos afiliados ao BJP, tais como o Vishva Hindu Parishad e o Rashtriya Swayamsevak Sangh e suas ramificações. O movimento Ghar Wapsi se posiciona não como um programa de conversão, mas como uma cerimônia de “purificação” para acolher na nação as minorias cristãs e muçulmanas, vistas como poluidoras da população majoritariamente hindu. É também uma estratégia explícita de polarização da comunidade usando a religião como ferramenta para impulsionar o majoritarianismo, uma filosofia política que sugere que um grupo majoritário tem que deter o papel primordial nas decisões da sociedade.

Movimentos como o Ghar Wapsi são estratégias degradantes e humilhantes que buscam desvalorizar os muçulmanos e os cristãos e lhes negar a autenticidade de sua identidade religiosa. Ações degradantes cotidianas, a experiência de discriminação e repressão, a noção de queixas coletivas, a violação de códigos de identidade culturalmente estabelecidos, deslocamentos econômicos e sociais, guetização, ansiedade e desamparo são poderosos meios de infligir humilhação. Isso leva ao sentimento de baixa autoestima, que por sua vez induz à disposição de desobedecer à autoridade que humilha ou então a se engajar em ostensiva rebelião e a cultivar o ressentimento.

Esse é o desafio do Estado indiano para os próximos anos.

Documentário da TV Al-Jazeera mostra como dalits hindus estão se convertendo ao islamismo para escapar da pobreza (em inglês):

Texto publicado orginalmente pelo site  Yale Global Online Magazine

Tradução: Maria Teresa de Souza

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Guerra na Ucrânia

Rússia diz que assumiu o controle total de Lugansk

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Ministério da Defesa da Rússia afirma que suas tropas tomaram a cidade estratégica de Lysychansk, assegurando o controle da região de Lugansk, no leste da Ucrânia

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-07-03T20:53:00.000Z

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A Rússia reivindicou neste domingo (03/07) o controle de toda a região de Lugansk, no leste da Ucrânia, após a conquista da cidade estratégica de Lysychansk, que foi palco de intensos combates.

Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, o titular da pasta, Serguei Shoigu, informou oficialmente "o comandante em chefe das Forças Armadas russas, Vladimir Putin, sobre a libertação da República Popular de Lugansk".

Mais tarde, o Estado-Maior da Ucrânia confirmou em um comunicado publicado no Facebook que as tropas ucranianas foram forçadas a se retirar de Lysychansk,

"Depois de intensos combates por Lysychansk, as Forças de Defesa da Ucrânia foram forçadas a se retirar de suas posições e linhas ocupadas", disse o comunicado.

"Continuamos a luta. Infelizmente, a vontade de aço e o patriotismo não são suficientes para o sucesso - são necessários recursos materiais e técnicos", disseram os militares.

Lysychansk era a última grande cidade sob controle ucraniano na região de Lugansk.

Na manhã deste domingo, o governador ucraniano da região de Lugansk, Serguei Gaidai, já havia sinalziado que as forças da Ucrânia estavam perdendo terreno em Lysychansk, uma cidade de 100.000 habitantes antes da guerra. "Os russos estão se entrincheirando em um distrito de Lysychansk, a cidade está em chamas", disse Gaidai no Telegram. "Eles estão atacando a cidade com táticas inexplicavelmente brutais", acrescentou.

A conquista de Lysychansk - se confirmada - pode permitir que as tropas russas avancem em direção a Sloviansk e Kramatorsk, mais a oeste, praticamente garantindo o controle da região, que já estava parcialmente nas mãos de separatistas pró-russos desde 2014.

Militärverwaltung der Region Luhansk/AP/dpa/picture alliance
Lysychansk está em ruínas após combates entre as forças russas e ucranianas

No sábado, um representante da "milícia popular de Lugansk" havia afirmado que os separatistas e as tropas russas haviam cercado completamente Lysychansk, algo que foi inicialmente negado pela Ucrânia

Explosões em cidade russa

Ainda neste domingo, a Rússia acusou Kiev de lançar mísseis na cidade de Belgorod, perto da fronteira entre os dois países.

"As defesas antiaéreas russas derrubaram três mísseis Totchka-U lançados por nacionalistas ucranianos contra Belgorod. Após a destruição dos mísseis ucranianos, os restos de um deles caíram sobre uma casa", informou o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.

O governador da região, Viacheslav Gladkov, já havia anunciado anteriormente a morte de pelo menos três pessoas em explosões naquela cidade.

As acusações levantadas por Moscou foram divulgadas um dia depois de a Ucrânia denunciar o que chamou de "terror russo deliberado" em ataques na região da cidade ucraniana de Odessa.

Segundo autoridades militares e civis ucranianas, pelo menos 21 pessoas, incluindo um menino de 12 anos, foram mortas na sexta-feira por três mísseis russos que destruíram "um grande edifício" e "um complexo turístico" em Serhiivka, uma cidade na costa do Mar Negro, a cerca de 80 km de Odessa, no sul da Ucrânia.

"Isso é terror russo deliberado e não erros ou um ataque acidental com mísseis", denunciou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na noite de sexta-feira, enquanto as autoridades locais asseguraram que "não havia qualquer alvo militar" no local dos ataques.

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