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Demitido sem explicação, professor diz ter sido alvo de perseguição política no interior de SP

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Filiado ao PT, docente afirma que escola o demitiu sem justa causa após ceder a pressão de pais de alunos que o acusavam de comunista; críticas tiveram início após postagem no Facebook defendendo ex-presidente Lula

Igor Truz

2016-04-15T19:53:00.000Z

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Pouco mais de um ano de “lua-de-mel”. Foi isso o que Paulo Ramos viveu no Colégio Candelária, em Indaiatuba, no interior de São Paulo. De janeiro de 2015 até a semana passada, quando foi demitido sem explicações claras, o professor mantinha boas relações com colegas, estudantes e com a direção da escola que é famosa na região por ter Kim Kataguiri, fundador do MBL (Movimento Brasil Livre), entre seus alunos egressos. 

“Fui para Indaiatuba por motivos familiares, minha esposa é de lá. Aí eu comecei a dar aula em 2015. A escola é muito boa. Eu planejava colocar minha filha de três anos para estudar lá no futuro", afirma Ramos.

Pixabay

Conduta do professor passou a ser criticada após defesa feita a Lula nas redes sociais

Formado em Ciências Sociais pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Ramos é atualmente doutorando na USP (Universidade de São Paulo). Em razão dos estudos e do novo emprego, não tinha mais muito tempo disponível para a militância política que exercia desde os tempos de graduação. Secretário de Promoção da Igualdade Racial do diretório estadual do PT (Partido dos Trabalhadores) em São Paulo, dedicava dois dias da semana ao partido e planejava encerrar seu mandato este ano.

Apesar de nunca ter tocado no assunto no colégio, ele acredita que a filiação partidária - facilmente encontrada nos primeiros resultados de uma pesquisa no Google - pode ser uma das razões de sua demissão, ocorrida no dia 6 de abril. Os argumentos da coordenação para o seu desligamento, no entanto, foram evasivos. A justificava, sem explicações claras, limitaram-se a creditar a demissão como um resposta a reclamações feitas por pais de alunos contra sua postura em sala de aula.

“Quando eu recebo a demissão e a justificativa é baseada em supostas posturas em sala de aula, eu quero saber exatamente quais foram essas posturas. Isso não foi explicado, em momento algum. O que foi insinuado é que pais de alunos estavam reclamando que eu defendia o comunismo em sala de aula”, afirma Ramos. “Não houve uma conversa. Me disseram que eles não tinham a obrigação de dar este tipo de explicação. Acredito ter indícios para supor que minha demissão tenha se dado por perseguição política”, continua.

Chamado à sala de Recursos Humanos do colégio na manhã de quarta-feira (06/04) da semana passada, o professor, que se preparava para entrar em sala de aula, apenas foi informado que receberia o aviso prévio de sua demissão sem justa causa.

Ramos procurou então os coordenadores da escola que, segundo o relato, apenas explicaram que vários pais de alunos enviaram reclamações sobre sua postura em sala de aula. Nenhuma postura foi detalhada pelos coordenadores que, aproximadamente 15 dias antes, haviam alertado o professor sobre o risco de algumas postagens feitas em seu perfil pessoal no Facebook em defesa do ex-presidente Lula.

Cronologia

Até ali, sua relação com a escola e os alunos era excelente. Responsável pelas aulas de História para os 8º e 9º anos, Sociologia para o ensino médio e Atualidades para o cursinho pré-vestibular, Ramos estava contente com a possibilidade de rever conteúdos que havia trabalhado apenas na graduação.

“Quando eu comecei a dar aula de Sociologia, de fato eu me encantei com o conteúdo. Eu podia resgatar os clássicos, coisas que eu não tinha mais contato. Durkheim, Weber, Marx, Lévi- Strauss. Uma série de autores que estavam esquecidos para mim de certo modo”, explica.

Com métodos criativos, as aulas de Ramos faziam sucesso na escola. Cine-debates, exibição de séries de TV, música. Os alunos chegaram até mesmo a se reunir para agradecê-lo e dizer que era um ótimo professor.

Ele conta que a avaliação da coordenação da escola também era positiva. O aumento no número de aulas concedidas no início de 2016, quando sua carga horária praticamente dobrou, demonstra que o Colégio confiava, de fato, em seu trabalho.

Contudo, se na escola tudo parecia bem, nas redes sociais o professor começou a enfrentar problemas neste ano. Uma sequência de posts feitos nos dias 4, 11 e 16 de março, com comentários em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gerou reações negativas de alguns alunos no Facebook. Vários comentários foram feitos pelos jovens na publicação, muitos com ofensas.

Da internet, a discussão foi parar na escola. No dia seguinte à última postagem, Ramos foi chamado para conversar por um dos coordenadores, que mencionou a discussão sobre Lula no Facebook para sugerir ao professor que se preservasse nas redes sociais. Alguns pais de alunos teriam reclamado não só da situação, mas acusado o professor de falar bem do socialismo em sala de aula.

“Tem um capítulo da apostila, sobre as bases materiais da sociedade, que era uma reprodução da Ideologia Alemã, do [Karl] Marx. Como era muito marxista o conteúdo, eu propus uma análise dos autores que dialogavam à esquerda e à direita do Marx. John Keynes, Max Weber, Adam Smith. Dei três liberais para um marxista. E fui acusado de defender o comunismo”, lembra Ramos. “Eu não defendo o comunismo assim desta maneira, não sou antiquado, não sou prosaico”, se defende.

No dia 23 de março, novo incidente. Durante uma aula sobre multiculturalismo e racismo, alguns alunos começaram a provocar Ramos. O professor - que estuda o tema desde o início de sua formação acadêmica, quando participou do movimento que implantou o pioneiro sistema de cotas da UFSCar, o qual mais tarde inspiraria a Lei de Cotas – discutiu com estudantes que exigiam que ele falasse sobre os prós e contras das cotas.

“Não foi [uma discussão] ríspida. Eu percebi que havia um constrangimento. Eram só um ou dois alunos que falavam e o resto permanecia calado. Parecia que a sala estava constrangida”, relata Ramos. Mais nenhuma reclamação teria sido comunicada ao professor até o dia de sua demissão. Nem ao menos de quem foi a decisão final para o seu desligamento.

“Minha demissão foi uma medida de exceção. Ela não respeitou nenhum rito previsível, do ponto de vista da gestão”, disse. “Mas o principal, eu acredito, seja a pressão dos pais. Por isso que eu acho que foi uma medida de exceção. Talvez algum pai tenha visto minha relação partidária e pediu para eu sair”.

Apesar de abatido com a situação, Paulo C. Ramos não considera ser o maior prejudicado com sua demissão. Para o professor, a mensagem antidemocrática transmitida pela escola tem um efeito devastador justamente para os alunos que o questionavam.

“A escola não tirou apenas o meu direito de trabalhador. "Ela calou a voz do aluno que em geral tem algum questionamento a mim, porque ele tem alguma coisa para falar. A mordaça não foi sobre mim. Eu sou professor, tenho currículo, vou escrever dois artigos este ano e colocá-los em debate em congressos científicos. Mas o aluno perdeu a oportunidade de ser educado, qualificado enquanto agente político”, lamenta. “Em breve ele vai entender que o método de resolver divergência é assim. Quando aparecer um problema, você cala um lado e mantém o outro. Como ela vai conviver com diferente? Em vez de abraçar ele vai expurgar o diferente. Ele vai se tornar um sujeito intolerante”, conclui.

A reportagem de Painel Acadêmico procurou o Colégio Candelária, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.

Texto publicado originalmente em Painel Acadêmico 

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Política e Economia

Organizações da Sociedade Civil tiveram direitos violados no governo Bolsonaro, diz associação

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Pesquisa feita com 135 organizações sociais de todas as regiões do país foi apresentada no Fórum Político de Alto Nível da ONU

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2022-07-05T21:50:00.000Z

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A Associação Brasileira de ONGs afirmou, por meio de uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (05/07) no Fórum Político de Alto Nível da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, que as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) foram submetidas a violações sistemáticas de direitos pelo Estado brasileiro no período entre 2019 e 2021.

O estudo, intitulado Criminalização Burocrática, foi feito a partir do levantamento do perfil de 135 organizações sociais de todas as regiões do Brasil, combinando abordagens qualitativa e quantitativa, incluindo ainda grupos focais e entrevistas entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022. Para conferir o relatório completo, clique aqui. 

“Desde o início do governo de Jair Bolsonaro, o que se observa é um aumento de desconfiança sobre o campo da sociedade civil organizada. Há uma escalada nas tentativas de criminalização das OSCs, com projetos de lei e outras medidas legais destinadas ao controle e restrição do espaço de atuação dessas organizações”, apontam os pesquisadores da pesquisa. 

Segundo a Abong, as organizações têm sido alvo de uma “série de ataques” por meio de medidas em âmbito administrativo que “visam dificultar a captação de recursos, impor pagamentos indevidos e, de forma geral, inviabilizar o trabalho das entidades”. 

Flickr
Segundo a Abong, as organizações têm sido alvo de uma “série de ataques” por meio de medidas em âmbito administrativo

“As informações também apontam que as OSCs têm sofrido, com o governo federal como agente, crimes de calúnia, difamação ou injúria, todos previstos no Código Penal”, diz a associação.

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