Com muito pouco você
apoia a mídia independente
Opera Mundi
Opera Mundi APOIE
  • Política e Economia
  • Diplomacia
  • Análise
  • Opinião
  • Coronavírus
  • Vídeos
  • Podcasts
Samuel

Carta de uma prostituta à presidente Dilma Rousseff

Encaminhar Enviar por e-mail

Talvez o maior dos legados que tu tenhas nos deixado, querida Dilma, querida Presidenta, seja que nós, as mulheres deste país, hoje sabemos que podemos; minha filha cresceu com uma mulher na Presidência da República, ela sabe que pode

Monique Prada

2016-05-11T19:23:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

Em carta enviada à presidente Dilma Rousseff, Monique Prada, prostituta e líder do sindicato das trabalhadoras sexuais, critica o sexismo presente nos xingamentos feitos contra a mandatária: "Na imensa maioria das vezes [as ofensas] nos deixavam muito acuadas, pois usavam aquilo que para nós é ao mesmo tempo ofensa e ofício: te chamavam de prostituta".

Em defesa da presidente, Prada ressalta as conquistas sociais obtidas nos últimos anos, como a possibilidade de ingressar no curso superior: "nossas filhas e filhos, e algumas de nós mesmas, já conseguem hoje cursar a universidade — sonho antes distante para o povo aqui da margem".

Reprodução

Querida Presidenta:

(E escrevo ‘Presidenta’ bem assim, com ‘P’ maiúsculo e ‘a’ no final, Presidenta. O som gostoso dessa palavra que nunca antes tínhamos ouvido, porque nunca antes tivemos uma presidenta. O som lindo desta palavra que, para nós, passa a existir a partir de ti – embora já fizesse parte do vocabulário da língua portuguesa há décadas, nos era desconhecida. O machismo velado e o desaforo vulgar, o despeito, no tom de voz das pessoas que se negavam a usá-la. Presidenta. Talvez o maior dos legados que tu tenhas nos deixado, querida Dilma, querida Presidenta, seja mesmo este: nós, as mulheres deste país, hoje sabemos que podemos. A minha filha cresceu com uma mulher na Presidência da República, ela sabe que pode.)

Mas eu te escrevo de longe, eu te escrevo da margem. Aqui, onde políticas públicas mal chegam que não sejam aquelas com o intuito de nos salvar — justo a nós, que salvação outra não desejamos que não passe por exercer nossa atividade em paz e protegidas por um modelo de regulamentação que nos favoreça. Eu te escrevo da margem pra te contar: nós, mulheres prostitutas – marginalizadas e estigmatizadas por uma sociedade que não nos quer à mesa ao mesmo tempo em que segue nos alimentando — nós, mulheres trabalhadoras sexuais, também nos orgulhamos de nossa presidenta. Ainda que nosso último grande avanço enquanto categoria tenha sido a inclusão do trabalho sexual na CBO sob o número 5198/05 — e isso date de mais de uma década atrás — ainda assim, tiveste nosso apoio. Por muitas vezes sentamos juntas pra te ouvir falar, compartilhamos entre nós as tuas palavras, torcemos juntas por tua vitória em 2010 e 2014. Estivemos nas ruas até aqui, e seguiremos nas ruas enquanto for possível —  dessa vez não a trabalho, mas em defesa de direitos conquistados a duras penas. Nossas filhas e filhos, e algumas de nós mesmas, já conseguem hoje cursar a universidade — sonho antes distante para o povo aqui da margem. Já não se passa fome em nosso país, e 12 anos de governo popular nos provaram que era possível sim ter orgulho da nossa brasilidade. Há ainda muitos problemas, mas estávamos indo no rumo certo.

No entanto, uma elite machista, racista e asquerosa foi levantando sua voz. Hoje te condenam, e aos governos do PT, e não por aquilo que nós possamos ter considerado errado neste período. Essa elite raivosa babava e ainda baba pelos nossos acertos. Essa elite babava e te ofendia. Na imensa maioria das vezes nos deixavam muito acuadas, pois dentre essas violentas ofensas, usavam aquilo que para nós é ao mesmo tempo ofensa e ofício: te chamavam de prostituta, em suas centenas de variações semânticas. O mais torpe refúgio dos canalhas e covardes é este: agredir uma mulher utilizando-se de sua sexualidade. Não importa quem seja ela ou o que tenha feito para isso, verdadeiramente não importa: seu grande crime é ter nascido mulher, e sua sexualidade deve ser atacada para humilhá-la. É a força do estigma sendo usada como potente fator de manutenção do sistema patriarcal: “não se porte como prostituta ou será tratada como uma”. No entanto, não nos é claro como seria este comportamento —  de modo que todas, todas nós, todas as mulheres, estamos sujeitas a este tipo de tratamento. Vil. Indecoroso. Violento.

Tens sido vítima diariamente e há tempos de muitas injustiças e graves agressões. E nós nos solidarizamos, e a cada dia nos fazemos mais orgulhosas de ti, por que tens suportado a tudo, forte e altiva  — como uma de nós.

Nos tempos assustadores que temos vivido, querida Dilma, e na noite sombria que parece não tardar a cair sobre nosso país, temos achado importante te dizer e repetir: também nós nos orgulhamos de ti. Da tua postura. Da tua serenidade diante ‘disso tudo’, serenidade que muitos homens não teriam. Tens sido ao mesmo passo inspiração e fortaleza. Da tua honestidade e franqueza também nós nos orgulhamos.

E asseguramos: estaremos juntas, haja o que houver. A luta pela democracia, a luta contra os retrocessos que ameaçam, é também uma luta nossa. Não desistiremos.

* Monique Prada é trabalhadora sexual, Co-editora do projeto mundoInvisivel.org e presidenta da CUTS (Central Única de Trabalhadoras e Trabalhadores Sexuais)

--

Publicado originalmente pelo Sul 21

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Direitos Humanos

Maioria dos católicos alemães rejeita condenação do aborto

Encaminhar Enviar por e-mail

Declarações do papa e da Igreja contra a interrupção da gravidez são rechaçadas por 58% dos católicos, indica pesquisa

Darko Janjevic

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-09T21:59:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

Uma pesquisa de opinião realizada na Alemanha revelou uma grande distância entre a os fiéis católicos e a os líderes da Igreja Católica, em relação ao aborto.

O levantamento, realizado pela INSA Consulere a pedido do jornal Die Tagespost, perguntou aos entrevistados: "É bom que o papa e a Igreja se manifestem contra o aborto?"

Somente 17% dos respondentes católicos responderam que sim. Outros 58% disseram que não. Entre os protestantes, apenas 13% eram favoráveis às declarações contra o aborto. Mais de dois terços discordaram dos posicionamentos do papa Francisco ou da Igreja Católica sobre o aborto.

Para a pesquisa foram entrevistados 2.099 cidadãos no fim de julho e início de agosto.

Igreja progride, mas só até certo ponto

O papa Francisco reorientou a Igreja Católica para um caminho mais liberal desde que assumiu o cargo de pontífice, em 2013. Ele tomou posições contundentes sobre padres envolvidos no abuso sexual de crianças, condenou governos de países do Ocidente por deportarem imigrantes, pediu mais ajuda para os pobres e mais esforços para preservar o meio ambiente. Publicamente, ele também agiu para reduzir o preconceito contra pessoas LGBTQ, afirmando que Deus "não renega nenhum de seus filhos" e endossando as uniões civis entre homossexuais.

Papa Francisco conduziu iniciativas para modernizar a Igreja Católica, mas mantém sua firme condenação ao aborto
Eric Gay/dpa/AP/picture alliance

No entanto, o papa Francisco também decepcionou alguns de seus apoiadores mais liberais ao rejeitar a benção católica para os casamentos gays. Ele também recusou-se a abandonar a posição tradicional da Igreja sobre o celibato de sacerdotes, assim como sobre o aborto, que o Vaticano vê como um ato de assassinato.

Francisco sobre o aborto: "É correto contratar um assassino?"

Em entrevista à agência de notícias Reuters em julho, Francisco reafirmou a sua opinião de que fazer um aborto seria semelhante a contratar um assassino.

"A questão moral é se é correto matar uma vida humana para resolver um problema. De fato, é correto contratar um assassino para resolver um problema?" questionou.

A questão do aborto não é a única em que o Vaticano enfrenta perda de apoio na Alemanha. Há menos de três semanas, a Igreja Católica pronunciou-se contrária ao movimento católico progressista alemão Caminho Sinodal, advertindo-o que não tem autoridade para instruir bispos sobre questões de moralidade e doutrina.

O movimento vem fazendo pressão para que os padres sejam autorizados a casar, mulheres possam tornar-se diáconos e que a Igreja dê sua benção a casais do mesmo sexo.

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!
Opera Mundi

Endereço: Avenida Paulista, nº 1842, TORRE NORTE CONJ 155 – 15º andar São Paulo - SP
CNPJ: 07.041.081.0001-17
Telefone: (11) 4118-6591

  • Contato
  • Política e Economia
  • Diplomacia
  • Análise
  • Opinião
  • Coronavírus
  • Vídeos
  • Expediente
  • Política de privacidade
Siga-nos
  • YouTube
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Google News
  • RSS
Blogs
  • Breno Altman
  • Agora
  • Bidê
  • Blog do Piva
  • Quebrando Muros
Receba nossas publicações
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

© 2018 ArpaDesign | Todos os direitos reservados