Quarta-feira, 16 de julho de 2025
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Suítes privativas: luxo para poucos visitantes; apenas dois assistindo à partida da Copa do Mundo

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Fotos revelam o estilo de vida efervescente que a Fifa oferece ao público endinheirado que vem ao Brasil para a Copa do Mundo. Essa semana, o secretário geral da Fifa, Jerôme Valcke, anunciou que a Maison Taittinger terá exclusividade para abastecer de champanhe os compradores dos pacotes VIP Hospitality.

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Essas suítes, em estádios como o Maracanã, custam mais de US$ 2,3 milhões para todo o campeonato. Esse folheto de propaganda de circulação limitada foi disponibilizado pela Fifa apenas para os 250 indivíduos e empresas mais ricos do mundo, com condições de usufruir a vida nas suítes milionárias que aparecem nas ilustrações.

De modo chocante revelam que são poucos os consumidores ricos que realmente querem ver o futebol. Enquanto os jogos rolam, eles irão bebericar champanhe em copos flute, falar de negócios e se entreter, todo o tempo de costas para o campo!

As suítes privativas, as mais caras, têm assentos para oito visitantes. O folheto mostra dois deles assistindo ao jogo e os outros seis comendo, conversando e fazendo pedidos ao garçom sem demonstrar o menor interesse pelo espetáculo no gramado.

Os clientes se sentarão em poltronas confortáveis e terão a seu dispor “bar e serviço de alimentação luxuosos, um brinde comemorativo, um kit vip de hospitalidade e serão recebidos por hostesses”. No Studio Bossa Nova a situação é ainda pior. Ali são 14 visitantes, bebendo, comendo e conversando — mas apenas dois entretidos com o futebol.

Os clientes ainda podem optar por “poltronas especialmente acolchoadas”, as Business Seats, com bar de primeira linha e alimentação de alta qualidade.


Bossa Nova Studio: imagens extraídas do folder para convidados VIP da Fifa

O contrato para vender esse estilo, digamos, borbulhante de torcer é de exclusividade da companhia Match que tem laços há muito estabelecidos com o presidente da FIFA, Sepp Blatter, e seu sobrinho Philippe Blatter.

Os irmãos Jaime e Enrique Byrom, mexicanos que vivem em Londres, têm 85% da Match Hospitality e a Infront, companhia de Philippe Blatter sediada em Zurique, tem 5%. O grupo japonês Dentsu também tem 5%. O Dentsu era sócio da ISL, a companhia de marketing hoje falida que pagou propinas de mais de US$ 100 milhões aos diretores da Fifa, incluindo Havelange e Teixeira.

Os irmãos Byrom foram premiados com os melhores ingressos do Match Hospitality. Os preços são altos mesmo para milionários porque a companhia Byrom perdeu cerca de US$ 50 milhões na Copa da África do Sul em 2010 e estão determinados a recuperar esse dinheiro no Brasil — e realizar grandes lucros também. Há um ano, os Byrom se gabavam de que o programa Hospitality já tinha atingido o recorde de US$ 262 milhões vendidos.

Vamos ver agora se os estrangeiros ricos não terão receio de ocupar suas suítes Hospitality. O cheiro do gás lacrimogêneo não combina com champanhe e salada de lagosta.

Os Byrom têm 12 mil ingressos Hospitality para o Jogo de Abertura, mais 12 mil ingressos para dois jogos do grupo do Brasil e outros 110.500 para jogos de outras equipes favoritas. Se o Brasil for para a próxima rodada — de 16 times — vai jogar duas partidas para as quais os Byrom tem 20 mil ingressos. A Fifa também os brindou com 33 mil ingressos para outras partidas dessa rodada. Se o Brasil passar para as quartas de final, os Byrom terão mais 20 mil ingressos para essas duas partidas — e mais 16 mil para outros jogos dessa rodada. Ele também tem 24 mil ingressos para as duas semifinais. Para a final no Rio, eles têm pelo menos 12 mil ingressos.

Aparentemente, os Byrom se apropriaram da maior parte da Copa 2014. Eles vão operar a venda de ingressos da Fifa e distribuir cerca de 3,3 milhões ingressos.

A Fifa também garantiu aos Byrom o privilégio de operar a agência oficial de hospedagem para 2014.

Em seu site, os Byrom se anunciam como operadores da “hospedagem, ingressos, hospitality, soluções de TI, tours para visitantes, e oferta de alimentação para as seleções, delegações, patrocinadores, membros da mídia e torcedores”. Preste atenção: eles colocaram os torcedores por último.

* Texto publicado originalmente pela Pública

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