Ghanshyam Trivedi e Madhuben Dave: exemplo da mudança da mentalidade sobre os idosos
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“O que eu quero em um homem? Bom, pode ser difícil encontrar um cavalheiro perfeito, mas ele deve ser digno, financeiramente sólido e ter hábitos limpos”, declara Reba P. M. Mukerji. São coisas que qualquer moça poderia procurar em um parceiro. Só que Reba tem 61 anos. “Eu gosto de cantar, então se ele tiver interesse por música será uma boa maneira de passarmos nossas noites juntos”, ri ela. Reba é naturalmente jovial, tem um ótimo papo, frequenta a academia, nunca se casou — e por enquanto nem pretende. “Sou totalmente a favor de uma relação em que moremos juntos numa primeira etapa. Se der certo, vou pensar em casamento”, diz ela com firmeza. “Essa é uma fase interessante da vida”, afirma. As preocupações domésticas — Reba é professora e foi a única responsável por cuidar da sua mãe doente – finalmente ficaram em segundo plano. Reba tem sorte. Há muitos homens da sua idade por aí, igualmente interessados em ingressar ou retornar ao jogo da paquera.
Mas isso não inclui Felix Braganza, 66, também morador de Mumbai e já comprometido. Pela primeira vez em vários anos, ele tem algo com o que estar ansioso: seu próximo casamento. Ele conheceu Eliza Fernandes, 61, em agosto de 2012 e rapidamente noivaram. “Nada de nervosismo matrimonial ainda”, diz Braganza, um executivo aposentado que perdeu a esposa há alguns anos e mora sozinho. “Talvez porque eu esteja profundamente feliz em sossegar outra vez.”
As histórias de Reba e Braganza não são casos isolados. Eles estão entre os muitos idosos e idosas que querem namorar e se casar outra vez. Afinal de contas, como dizem eles, nunca é tarde demais para se apaixonar.
O empresário Kumar Deshpande, 33, de Mumbai, começou em casa. “Apesar da oposição familiar, arrumei o casamento do meu sogro há alguns anos, quando minha sogra faleceu. Vi como isso o deixou feliz e sinto que todo o esforço valeu a pena”, diz ele. Isso levou Deshpande a abraçar a causa apaixonadamente, promovendo a convivência com os idosos por meio de campanhas de conscientização em grandes e pequenas cidades da Índia – Mumbai, Hyderabad, Kolhapar, Vijayawada. A resposta tem sido expressiva, com mais de mil participantes comparecendo a cada evento. Deshpande também é bombardeado com pedidos de idosos, alguns nonagenários. Há filhos, também, que fazem consultas para que seus pais consigam encontrar parceiros.
Novos caminhos
Para alguns, encontrar um parceiro numa idade mais avançada não difere em nada de como teria sido há 20 ou 30 anos. A única diferença é que, ao contrário daquela época, quando anúncios matrimoniais nos jornais eram o único caminho, agora existe a internet. Pressentindo um nicho de mercado, sites matrimoniais para idosos vêm pipocando. Há vários portais para quem quer se casar de novo, mas são os que adotam uma abordagem personalizada que mais atraem os idosos. É o caso do médico Venkateswara Reddy, 55, de Hyderabad, que conheceu Sumati, também médica, no portal secondwedlock.com, onde descobriram que seus temperamentos e visões de mundo se encaixavam. “Ajuda que estejamos ambos na mesma profissão, em um ponto semelhante na vida, solteiros e com filhos bem estabelecidos no exterior. Queríamos alguém com quem dividir nossos dias”, diz Reddy, que se casou com Sumati um mês depois de conhecê-la.
O secondwedlock.com foi criado pelo engenheiro de software Prasanna Babu, de Hyderabad. O site já abriga mais de 1.100 perfis, sendo 300 de indivíduos com mais de 50 anos. “Com o aumento no número de divórcios e a redução de estigmas a respeito de como os idosos atendem a certas expectativas, esta é a hora certa para iniciar um portal como esse”, diz ele. Nandini Chakraborty, cofundadora do marrygold.in, um serviço de relacionamentos amorosos, concorda: “Em geral, nossa sociedade restringe o acesso dos idosos às agências matrimoniais. Mas, ultimamente, temos recebido muitas consultas de idosos, mais mulheres do que homens, na verdade. Mas encontrar um par pode ser difícil. Fazendo parte de uma faixa etária mais alta, eles demoram mais a abrir mão do tipo de vida que levavam”, diz ela.
Juntar dois idosos não é uma tarefa fácil. “As mulheres muitas vezes hesitam em aparecer devido a tabus. Se as mulheres têm filhos dependentes, os homens nem sempre estão dispostos a assumir essa responsabilidade. Depois, há questões de propriedade envolvidas, e os filhos de casais de idosos muitas vezes criam problemas aí”, diz Natubhai Patel, 62, proprietário de uma agência matrimonial com sede em Ahmedabad, a Vina Mulya Amulya Seva, que já ajudou cerca de 40 casais idosos a juntarem as escovas de dentes, incluindo alguns septuagenários e octogenários. Também por isso, ele acha que o modelo de relacionamento com coabitação funciona melhor – serve ao propósito da companhia, mas sem os empecilhos jurídicos. Deshpande, no entanto, encontrou uma maneira de contornar isso. “Temos uma equipe de advogados que ajudam e cuidam de todas as questões de propriedade antes que um casamento se realize. Também asseguramos que testamentos sejam preparados antes que o casal se una oficialmente”, diz ele.
Mas será então que a mentalidade acerca dos idosos está mudando? Ghanshyam Trivedi e Madhu Dave, ambos de 65 anos de idade e casados há seis, acham que sim. “Os velhos têm mais espaço para se entenderem mutuamente, sem que a sociedade aponte o dedo o tempo todo”, diz Trivedi, bancário aposentado. A história dele é pungente. Primeiro ele perdeu a esposa, e depois o filho. “Foi uma época ruim para mim. Depois que eu conheci a Madhu, sinto que a vida voltou aos trilhos”, diz ele. Como muitos outros no seu círculo, Trivedi acha que os seus melhores anos estão apenas começando.
Tradução por Rodrigo Leite
* Texto originalmente publicado na revista semanal indiana Outlook
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