Durante 39 dias, o maratonista Rodolfo Lucena realizará uma série de corridas em São Paulo para recuperar a memória do operário metalúrgico Manuel Fiel Filho, torturado e morto pela ditadura militar em 1976, três meses após o assassinato de Vladmir Herzog.
Blog Lucena Corredor
Maratona pela memória é evento inédito no país
“A queda da ditadura começou com a morte dele [Manuel Filho]. O comandante do 2° Exército foi exonerado e então veio uma série de articulações que culminou com o movimento pela anistia em 1979”, diz Maurice Politi, que foi uma das vítimas da repressão militar no país.
De acordo com Lucena, o percurso das corridas irá contemplar os locais por onde viveu Fiel Filho: onde conheceu a esposa, onde trabalhava, onde foi preso, o cemitério onde está enterrado…
José Francisco Campos, diretor e coordenador do Departamento de Memória Sindical, lembrou a mobilização da diretoria do sindicato em 1976, logo que correu pela “rádio-peão” a notícia da prisão e, depois, da morte de Fiel Filho: “Nós fomos à casa dele, levar solidariedade a dona Thereza”, disse Campos. Era o fim da tarde de sábado, e um saco de lixo tinha sido atirado em frente à casa dela: era o macacão azul que Manoel vestia quando fora preso.
Todo o processo pode ser acompanhado no blog Lucena Corredor
Confira a reportagem da TVT sobre a maratona:
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Após a prisão de Fiel Filho, o sindicato dos metalúrgicos distribuíram panfletos relatando a morte do metalúrgico. O site Documentos Revelados recuperou um deses documentos: “Um operário foi assassinado.
Seu nome: Manoel Fiel Filho.
Era metalúrgico. Trabalhava na fábrica Metal Arte em São Paulo.
No dia 16 de janeiro dois agentes da polícia política prenderam Manoel no trabalho e entregaram aos militares gorilas do II Exército.
Na noite do dia seguinte, um desses agentes jogou no quintal de sua casa um saco de lixo. Dentro do saco estavam as roupas e documentos de Manoel. Manoel estava morto.
O que fez esse companheiro para merecer a morte depois de ser torturado nas mãos dos gorilas assassinos do II Exército?
Que “crime” cometeu esse trabalhador?
Havia contra ele vagas acusações de “atividades subversivas”.
A ditadura o acusava do “crime” de combater o arrocho salarial.
Acusava-o do “crime” de lutar contra a carestia: contra o aumento do pão de leite e de todos os alimentos. Contra o aumento dos aluguéis, da condução, de tudo. Contra a roubalheira do BNH e por uma vida mais decente para os trabalhadores.
Acusava-o de “crime” de reivindicar as liberdades democráticas e lutar por uma sociedade sem exploradores, onde os trabalhadores que tudo produzem sejam também o poder.
Esses “crimes” a ditadura dos patrões não tolera e quando pode pune com a morte.
Mas esses gorilas selvagens que assassinam para defender os lucros dos patrões também são os reis da covardia. Matam mas não reconhecem o crime. E inventam histórias pensando que o povo é idiota e que engole qualquer mentira.
Mandaram dizer pelos jornais que Manoel se suicidou enforcando-se com uma meia.
Onde já se viu alguém se enforcar com uma meia?
Não é a primeira vez que essas desculpas cínicas e covardes são usadas para encobrir os crimes mais monstruosos contra presos acusados de “atividades subversivas”.
Assim foi com o metalúrgico Olavo Hansen, preso e assassinado em maio de 1970 pelo DEOPS paulista. Também disseram que ele se suicidou envenenando-se na prisão.
Assim foi com Mário Alves, Joaquim Câmara Toledo, João Lucas Alves, Paulo Wright, Alexandre Vannucci Leme, Stuart Jones, Lincon Bicalho Roque, Luiz Hirata, Rubens Paiva e muitos outros.
Assim foi com os 17 “desaparecidos”.
Assim foi com o jornalista Vladimir Herzog, assassinado há 3 meses nas mesmas dependências do II Exército. Pelos mesmos torturadores do DOI-CODI. Também disseram que ele se suicidou enforcando-se com um cinto.
Com medo de que esse assassinato provoque uma revolta muito grande, o presidente da república tirou o general Ednardo D’Ávila Mello (responsável direto pelas torturas e assassinatos em São Paulo) do comando do II Exército e isso bastou para que a maioria dos políticos do MDB passasse a elogiar a atitude de Geisel.
Mas porque Geisel não bota esse assassino na cadeia? Por que não manda prender seus cúmplices? Por que não dissolve o DOI, o CODI, o DOPS, o SNI e todos esses órgãos de repressão através dos quais os militares gorilas perseguem, torturam e matam?
A resposta é simples: É porque Geisel não passa de um cúmplice desses torturadores.
Os políticos do MDB, apesar da censura e das cassações, ainda podem fazer declarações nos jornais. E se não protestam contra esse crime, se não exigem sua apuração, se não exigem que Ednardo e seus gorilas sejam trancafiados atrás das grades, estarão sendo cúmplices também.
Cúmplices dos torturadores: cúmplices de Geisel. Cúmplices da ditadura!
Esse crime não pode ficar em branco, ele tem que ser investigado. Os culpados por esse assassinato têm que aparecer. Têm que ser desmascarados e punidos.
O sangue dos trabalhadores não pode continuar servindo de alimento para saciar a fome e a sede desses gorilas fardados que resolveram, as custas no nosso suor, fazer desse país um paraíso para os grandes patrões e um inferno para os trabalhadores.
Pau neles!
Pela punição do general Ednardo e de todos os assassinos e torturadores de presos políticos – Pelo desmantelamento dos órgãos de repressão e pelo fim das perseguições políticas – Pela anistia completa a todos os presos políticos do país – Lutemos pelas liberdades democráticas e pela derrubada da ditadura – Lutemos pelo fim da exploração e por um governo dos trabalhadores”