A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou nesta sexta-feira (23/08) o primeiro caso de poliomielite na Faixa de Gaza em 25 anos. Trata-se de um bebê de 10 meses na cidade palestina de Deir al-Balah, na região central do enclave palestino, e que não havia recebido nenhuma das doses previstas no esquema vacinal contra a doença.
Em seu perfil na rede social X, o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse estar “seriamente preocupado” com a confirmação do caso.
“A OMS e seus parceiros trabalharam arduamente para colher e transferir amostras da criança para testagem em um laboratório certificado na região”, afirmou. “O sequenciamento genômico confirmou que o vírus está ligado à variante do poliovírus tipo 2, detectada em amostras ambientais recolhidas em junho em águas residuais de Gaza. A criança, que desenvolveu paralisia na perna esquerda, está em situação estável.”
O vírus tipo 2 (cVDPV2), embora não seja inerentemente mais perigoso do que os tipos 1 e 3, tem sido responsável pela maioria dos surtos no mundo nos últimos anos, especialmente em áreas com baixas taxas de vacinação.
Crise humanitária
Deir al-Balah, onde vive o bebê que contraiu polio, tem sido alvo de repetidos ataques israelenses, incluindo um bombardeio no final de julho a uma escola, que deixou dezenas de mortos, segundo as autoridades locais ligadas ao Hamas – Israel disse que tinha como alvo um “centro de comando” do grupo extremista palestino.
Neste semana, os israelenses ainda ordenaram a evacuação de diversas partes de Deir al-Balah, que já estava abarrotada de refugiados que fugiam de outras partes do enclave devastado.
Na semana passada, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) disse que Israel reduziu as “zonas seguras” em Gaza para apenas 11% do território, causando pânico e medo entre as pessoas deslocadas. De acordo com o governo de Gaza, controlado pelo Hamas, dois milhões de pessoas no enclave foram deslocadas pela ofensiva contínua de Israel.
Apelos por pausa humanitária
A OMS e outras agências das Nações Unidas também reforçaram apelos por uma trégua humanitária em Gaza para que as duas rodadas de vacinação contra a pólio possam ser realizadas.
“A pólio não faz distinção entre crianças palestinas e israelenses”, disse Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA na sexta-feira em um post no X. “Atrasar uma pausa humanitária aumentará o risco de disseminação entre as crianças.”
Em nota, a OMS, junto ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), também pediu que todas as partes envolvidas no conflito implementem pausas humanitárias durante um período de pelo menos sete dias.
“Essas pausas nos combates permitiriam que crianças e famílias chegassem em segurança às unidades de saúde e que agentes comunitários alcançassem crianças que não têm acesso a essas unidades para serem imunizadas contra a poliomielite. Sem as pausas humanitárias, a realização das campanhas não será possível”, disse a OMS.
A expectativa é que, em cada uma das rodadas de vacinação, mais de 640 mil crianças com menos de 10 anos possam receber a vacina oral contra a pólio, conhecida popularmente como gotinha.
Ainda de acordo com a OMS, a Faixa de Gaza mantinha boa cobertura vacinal antes da escalada dos conflitos, em outubro do ano passado. De lá para cá, a vacinação de rotina foi fortemente impactada – incluindo a segunda dose da vacina contra a pólio, que caiu de 99% em 2022 para menos de 90% em 2023 e no primeiro trimestre de 2024.
“O risco de disseminação do vírus, dentro da Faixa de Gaza e internacionalmente, permanece alto em razão de lacunas na imunidade das crianças, provocadas por interrupções na vacinação de rotina, dizimação do sistema de saúde, deslocamento constante da população, desnutrição e sistemas de água e saneamento gravemente danificados”, alerta a OMS.
“A situação também aumentou o risco de propagação de outras doenças preveníveis por vacinação, como o sarampo, além de casos de diarreia, infecções respiratórias agudas, hepatite A e doenças de pele entre crianças”, disse a OMS.