Desde que Uganda notificou o primeiro caso de ebola no país, no final de janeiro, outros oito foram confirmados. A escala de propagação do vírus está sendo registrada nas cidades de Kampala, Mbale e Wakiso.
O primeiro paciente, uma enfermeira de 32 anos do principal hospital do país, na capital Kampala, morreu. Outros pacientes infectados, segundo o Ministério da Saúde de Uganda, estão em condições estáveis recebendo atenção médica em estrito isolamento.
Além deles, 265 pessoas que tiveram contato com os contaminados estão em quarentena, também sob estrito isolamento.
As informações foram dadas nesta segunda-feira (11/02) à noite pelo diretor-geral interino do Ministério da Saúde de Uganda, Charles Olaro.
O surto envolve a variedade do ebola conhecida como Sudan (SVD) para a qual ainda não existe vacina ou tratamento com eficácia comprovada, ao contrário da cepa do Zaire, relatada nas últimas epidemias no Congo.
A cepa Sudan não só é menos contagiosa que a do Zaire, como também tem mortalidade mais baixa, de 40% a 100%, contra 70% a 100% no caso da cepa do Zaire.
OMS liderou desenvolvimento da vacina
Após o anúncio do surto, entretanto, o Ministério da Saúde de Uganda, em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), passou a oferecer que sua população participe do primeiro teste clínico de eficácia de uma vacina desenvolvida para esta variedade específica do vírus.
Para isso, os principais pesquisadores da Makerere University e do Uganda Vírus Research Institute, com apoio da OMS e outros parceiros, trabalharam para finalizar a preparação do teste, que foi lançado na semana passada, apenas quatro dias após o anúncio do surto.
As vacinas estão sendo doadas pela Iniciativa Internacional de Vacinação contra a Aids (IAVI), que realizou as fases clínicas anteriores. São cerca de 5 mil doses, das quais 2.160 já chegaram a Kampala.
“Esta é uma conquista crítica para uma melhor preparação para pandemias e para salvar vidas quando surtos ocorrem”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
A OMS liderou a pesquisa que desenvolveu a vacina contando com a colaboração de centenas de cientistas da rede internacional de pesquisa de Filoviruses, e com o apoio de diversas instituições internacionais.
Desafio é vencer a desconfiança
Entretanto, apesar da vacina contar com a garantia da OMS de que obedece a todos os requisitos regulatórios e éticos nacionais e internacionais, vem despertando desconfiança na população.
Embora mais da metade dos contatos do primeiro paciente serem profissionais de saúde e pacientes do hospital nacional de referência onde a vacina está sendo oferecida, apenas uma pessoa se vacinou na segunda-feira. Outro havia concordado em se vacinar, mas mudou de ideia.
Bruce Kirenga, diretor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Makerere, que lidera os testes da vacina, reconheceu que a hesitação em relação à vacina é um desafio.

Pacientes isolados no Hospital de Gulo, Uganda, durante o surto de ebola de 2000
“Meu trabalho é remover essa hesitação. Fiz isso pela covid e farei agora. O que falta é informação, então vamos fornecer as informações de que as pessoas precisam e elas entenderão a importância de participar”, disse Kirenga.
Os sobreviventes de surtos anteriores de ebola são aliados nisso. Eles pedem que as pessoas não acreditem em teorias conspiratórias que colocam suas vidas e comunidades em risco.
Mas os obstáculos são muitos, indo desde teorias conspiratórias até a preferência por acudir a curandeiros. A enfermeira que faleceu na semana passada, segundo o Ministério da Saúde, aos primeiros sintomas acudiu a um curandeiro tradicional. Além disso, após seu enterro, os parentes teriam tentado exumar o corpo para enterrá-lo novamente de acordo com as regras muçulmanas.
O último surto de ebola em Uganda foi em 2022, quando registraram-se 142 casos confirmados e 55 mortes ao longo de quatro meses. Edward Kayiwa foi um dos sobreviventes do surto de 2022.
Ele se lembra que quando apresentou os primeiros sintomas, corriam boatos de que os pacientes que iam ao hospital recebiam injeções que os matavam instantaneamente. Felizmente, optou por chamar uma ambulância.
Kayiwa também se lembra que as primeiras informações sobre o surto de 2022 o vinculavam às minas de outo de Kassanda-Mubende. “Muitas pessoas, inclusive eu, pensaram que era uma conspiração para expulsar os mineradores artesanais e os grandes grupos assumirem as áreas”.
Descoberto em 1976 na República Democrática do Congo (então chamada Zaire), o ebola é uma doença grave, muitas vezes fatal, que afeta humanos e primatas e é transmitida pelo contato direto com sangue e fluidos corporais de pessoas ou animais infectados. O contato pode ser direto ou por tecidos e objetos contaminados.
O período de incubação varia de dois a 21 dias e os sintomas incluem, primeiro, febre alta repentina, fraqueza intensa, dores de cabeça, de garganta e musculares, além de vômitos. Depois pode haver dor abdominal, diarreia e sangramentos pelo nariz, gengivas, ouvidos e olhos.