Florestan Fernandes é um dos grandes intelectuais do século 20. Autor de 'A revolução burguesa no Brasil' — livro seminal para a interpretação social do país —, o sociólogo concentrou boa parte da vida em defesa daquilo que ele não teve: direito à educação, ou seja, uma formação regular e que respeitasse a singularidade dos indivíduos.
Esta é uma das análises de Haroldo Ceravolo Sereza, doutor em letras pela USP e autor do livro 'Florestan, a Inteligência Militante', ao discutir O que a Vida de Florestan Fernandes nos Ensina Sobre o Direito à Educação, na Aula Pública Opera Mundi.
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Nascido em uma família pobre, Florestan teve que interromper os estudos para trabalhar. Só depois de alguns anos, conseguiu concluir o ciclo básico em uma escola para jovens e adultos. Foi nessa época que entrou na Universidade de São Paulo (USP), onde, anos depois, se tornaria professor, construindo uma carreira acadêmica de destaque. Todavia, a trajetória educacional de Florestan foi marcada por percalços que quase inviabilizaram sua ascensão intelectual.
“Florestan passou por uma experiência muito difícil. Ao ouvir as palavras dele, você sente a dor em cada passo que ele deu. Por exemplo, entre os familiares, tinha uma resistência muito grande para que ele estudasse, pois tinham medo que ele deixasse de fazer parte da família. Portanto, ao invés de ajudar, os próprios familiares criavam dificuldades para que Florestan estudasse”, explica Sereza.
Assista ao primeiro bloco da Aula Pública com Haroldo Ceravolo Sereza: O que a vida de Florestan Fernandes nos ensina sobre o direito à educação?
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No segundo bloco, Sereza responde perguntas do público, na Universidade Anhembi Morumbi, campus Vila Olímpia
Na USP, Florestan percebeu que ele era o diferente da turma. Em razão da origem humilde, as coisas eram mais complicadas. Então, após tirar notas baixas e ter dificuldades para acompanhar os colegas, ele teve que estudar mais, de forma quase obsessiva, passou a ficar mais tempo na biblioteca, e se esforçar até se tornar aluno de destaque, admirado pelos professores.
“Quantos iguais a mim não conseguiram chegar até lá? Quantos ficaram no meio do caminho? Essas eram perguntas que permeavam o pensamento de Florestan. Foi nesse sentido que ele se tornou na década de 60 um grande batalhador da educação. Após consolidar a carreira como sociólogo, a escola passa a ser uma questão central de seu pensamento. Ele participa de uma campanha em defesa da escola pública, que, mais tarde, foi uma das razões para o golpe de 1964. Não havia interesse das classes dirigentes em garantir a democratização do conhecimento”, afirma Sereza.
“No ano de 1986, eleito deputado federal, Florestan pede para participar da comissão de educação da Constituinte. Durante esse processo, ele joga pesado para que o país tenha regras que permitam a expansão do ensino e a garantia do ensino público e gratuito em toda a sociedade. Florestan também trabalha pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, projeto que define e regulariza a educação brasileira com base nos princípios constituionais. Ou seja, ele reservou grande parte da vida dele para lutar por aquilo que ele não teve: educação regular”, conclui.
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Na Aula Pública, Haroldo Ceravolo Sereza discute como a vida de Florestan se entrelaçou com a luta pelo direito à educação