Durante a abertura da conferência dos líderes da Igreja Católica no Vaticano para debater os casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero, o papa Francisco fez um apelo por “medidas concretas e efetivas” para punir os religiosos criminosos. Em seu discurso nesta quinta-feira (21/02), o Pontífice afirmou que os fiéis exigem mais do que apenas a condenação dos que cometeram tais crimes, mas ações concretas para por fim aos escândalos. “Confrontados com o flagelo do abuso sexual perpetrado por clérigos contra menores, pensei em me consultar com todos juntos, patriarcas, cardeais, arcebispos, bispos, superiores religiosos e responsáveis, para que juntos possamos ouvir o grito dos pequenos que pedem justiça”, enfatizou perante a mais de 180 religiosos. Segundo Jorge Bergoglio, a cúpula sobre os casos de abusos deve ser pesada pela responsabilidade pastoral e eclesial, o que “os obriga a discutir em conjunto, em um sínodo, de forma sincera e profunda sobre como lidar com este mal que aflige a Igreja e a humanidade”.
Aos presidentes de todas as Conferências Nacionais de Bispos do mundo, além dos superiores de ordens religiosas convocados ao encontro no Vaticano, Francisco disse que todos têm a responsabilidade de lidar efetivamente com os membros da Igreja que cometem abusos contra crianças.
“Ouçamos o choro dos jovens que clamam por justiça”, disse o papa, pedindo aos 190 membros do alto clero presentes no Vaticano que “transformem esse mal em uma oportunidade de compreensão e purificação”. “O povo sagrado de Deus está nos observando e espera não somente as condenações simples e óbvias, mas que sejam adotadas medidas concretas e eficientes”, afirmou.
Francisco pediu que os líderes religiosos se esforcem para “curar as graves feridas que o escândalo de pedofilia infligiu tanto nas crianças quanto nos fiéis”. A conferência no Vaticano, a primeira desse tipo a ser realizada pela Igreja Católica, tem como objetivo conscientizar os participantes sobre a importância da prevenção aos abusos em suas congregações, além dos cuidados às vítimas e de investigar as denúncias.
Mais de 30 anos após os primeiros escândalos surgirem na Austrália e na Irlanda, e 20 depois de as denúncias eclodirem nos Estados Unidos, bispos e membros do clero em muitas partes da Europa, América Latina, África e Ásia ainda tentam negar ou minimizar a ocorrência de tais abusos em suas regiões.
O próprio papa Francisco admitiu ter errado ao negar inicialmente um escandaloso caso de acobertamento de abusos sexuais cometidos no Chile. Mais tarde, após assumir o equívoco, ele prometeu conduzir a Igreja a um novo caminho.
Um grande número de vítimas de abusos sexuais viajou a Roma para exigir responsabilização e transparência dos líderes católicos. Uma das principais reformas defendidas pelos fiéis é a expulsão obrigatória de todos os padres e bispos que protegem ou protegeram criminosos, algo que dificilmente será atingido durante a conferência.
No Vaticano, poucos esperam avanços significativos durante o encontro ou mesmo uma declaração final após os quatro dias de conferência. O próprio papa tentou diminuir as expectativas em relação ao evento.
Mesmo assim, os organizadores afirmam que a conferência marca uma virada na forma como a Igreja Católica lida com o problema, após o próprio papa admitir que errou no caso dos abusos cometidos no Chile.
“Um dos objetivos é o de que todos os bispos entendam que este é um desafio que temos de enfrentar. Em toda parte, na Igreja e também na sociedade”, disse o líder da Conferência dos Bispos da Alemanha, o cardeal Reinhard Marx.
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O líder católico discursou na abertura da reunião nesta quinta-feira (21/02)