Todo ano mais ou menos nesta época o rio Paraguai sobe e inunda as casas ribeirinhas de Assunção. As cheias atingem primeiro as residências dos mais pobres, os imigrantes do campo, que chegam à capital e se instalam onde podem. Este ano, a inundação é histórica. Segundo as autoridades, 16 pessoas já morreram por causa das inundações e cerca de 240 mil foram retiradas dos seus lares.
Décadas de desmatamento ao longo do rio e a falta de investimentos estatais para urbanizar áreas ribeirinhas deixam à mercê das águas a vida e os sonhos de milhares de pessoas a cada ano. São crianças que não podem ir à aula, jovens que perdem seus empregos e animais de granja que morrem afogados.
Alguns vizinhos voltam em botes todos os dias para vigiar suas casas. Muitos ainda resgatam seus pertences da água, que invade janelas e tetos de escolas, igrejas, casas, e cobre campos de futebol.
“As pessoas estão tirando as coisas das suas casas com balsas, canoas”, relata Bruno Cubilla, que é pescador e cabelereiro canino. Ele é um dos milhares de paraguaios afetados pela inundação. Enquanto percorre em barco o popular e agora silencioso Bañado Norte, Cubilla lamenta a falta de investimento do governo. “Aqui temos que sobreviver, temos que aprender a fazer qualquer coisa pra sobreviver porque o governo não ajuda. Não dá nada”, afirma.
Cheia atinge os mais pobres
O largo e tranquilo rio Paraguai, que junto com o caudaloso Paraná desenha o contorno do país, costuma permanecer com 4 metros de altura na região do porto de Assunção. Isso permite vida tranquila ao seu redor. Com a cheia, no entanto, as águas estão acima de 7,5 metros, a apenas 50 centímetros do nível considerado catastrófico.
A região das cheias é ocupada principalmente por famílias camponesas que migram para Assunção em busca de trabalho e se refugiam em terrenos que margeiam o rio na cidade grande . Esses bairros são conhecidos popularmente como “bañados” por sua proximidade com a água. Essa área abriga um quarto dos habitantes de Assunção, o que significa 250 mil pessoas. Todo ano os moradores enfrentam o mesmo problema.
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Décadas de desmatamento ao longo do rio e a falta de investimentos estatais para urbanizar áreas ribeirinhas deixam milhares de pessoas