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Sociedade

Biden: 'quando vamos enfrentar o lobby das armas?'

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Massacre a tiros deixou 21 mortos em escola no Texas, presidente questionou os motivos dos EUA estarem 'dispostos a viver com essa carnificina?'

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-05-25T12:31:00.000Z

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um apelo urgente por restrições ao acesso a armas de fogo no país, depois que um atirador de 18 anos matou ao menos 19 crianças e dois adultos em uma escola primária no Texas, nesta terça-feira (24/05).

Em um pronunciamento emocionado na Casa Branca, o líder democrata pediu aos norte-americanos que enfrentem o lobby das armas e pressionem os membros do Congresso a aprovar leis sensatas sobre o tema. Biden culpou os fabricantes de armas e seus apoiadores por bloquearem legislações do tipo em Washington.

"Quando, em nome de Deus, vamos enfrentar o lobby das armas? Quando, em nome de Deus, vamos fazer o que todos nós sabemos que precisa ser feito?", questionou Biden na noite desta terça, logo após retornar de uma viagem de cinco dias à Ásia. "Estou cansado disso. Temos que agir. E não me digam que não podemos ter um impacto nessa carnificina."

Autoridades disseram que um rapaz de 18 anos abriu fogo em uma escola na pequena cidade de Uvalde, onde estudavam crianças de 7 a 10 anos de idade, antes de ser morto pela polícia. Segundo investigadores, ele carregava um revólver e um fuzil semiautomático.

"A ideia de que um garoto de 18 anos pode entrar em uma loja de armas e comprar duas armas de assalto é simplesmente errada. Para que, em nome de Deus, você precisa de uma arma de assalto, exceto para matar alguém?", declarou Biden. "E os fabricantes de armas passaram duas décadas comercializando agressivamente armas de assalto que lhes deram grandes lucros. Pelo amor de Deus, temos que ter a coragem de enfrentar a indústria."

Ataques a tiros nos Estados Unidos são frequentemente seguidos por manifestações públicas e pedidos de ação por políticos democratas, mas políticas federais de segurança de armas de fogo, como verificação de antecedentes criminais para a compra de armas, que são comuns em outros países, fracassaram diante da forte oposição republicana.

Em sua campanha à Casa Branca em 2020, Biden prometeu impulsionar tais medidas de segurança de armas e reduzir as dezenas de milhares de mortes anuais por armas de fogo no país. Mas o presidente e seus colegas democratas têm fracassado em conseguir os votos necessários no Senado para aprovar seus projetos.

"Leis funcionam"

Em 1994, Biden, então senador por Delaware, conseguiu aprovar uma proibição de armas de assalto com duração de dez anos em uma votação apertada de 52 a 48 no Senado dos EUA, que acabou não sendo renovada em 2004.

Kevin Lamarque/REUTERS
'Temos que ter a coragem de enfrentar a indústria', afirmou Biden

"Quando aprovamos a proibição de armas de assalto, os ataques a tiros em massa diminuíram. Quando a lei expirou, os ataques triplicaram", afirmou Biden nesta terça-feira. "Não podemos e não vamos evitar todas as tragédias. Mas sabemos que elas [as leis antiarmas] funcionam e têm um impacto positivo", completou o presidente.

Os Estados Unidos são a sociedade mais fortemente armada do mundo, de acordo com o grupo de pesquisas Small Arms Survey, sediado em Genebra.

Estados pequenos e rurais, muitas vezes liderados por republicanos, onde a posse de armas é generalizada, têm uma influência desproporcional no Senado norte-americano, onde uma maioria de 60 votos é necessária para avançar a maior parte das leis na câmara de cem assentos.

Segundo o FBI, os EUA registraram 61 incidentes envolvendo um "atirador ativo" no ano passado, um aumento acentuado em relação ao ano anterior e a maior cifra em mais de 20 anos.

"Por que estamos dispostos a viver com essa carnificina? Por que continuamos deixando isso acontecer? Onde, em nome de Deus, está nossa espinha dorsal para ter coragem de lidar com isso e enfrentar os lobbies? É hora de transformar essa dor em ação", insistiu Biden.

Tragédia pessoal

Em seu discurso, o presidente ainda lamentou a morte de crianças "bonitas e inocentes em mais um massacre". "Eu esperava que, quando me tornasse presidente, não tivesse que fazer isso de novo."

Biden, cuja vida foi marcada por uma tragédia familiar, afirmou que os pais das vítimas no Texas "nunca verão suas crianças novamente, nunca as farão pular em suas camas e abraçá-las".

"Perder um filho é como ter um pedaço de sua alma arrancado. Há um vazio em seu peito, e você sente que está sendo sugado para dentro dele e nunca será capaz de sair. É sufocante. E nunca será o mesmo", disse o presidente, que perdeu sua primeira mulher e uma filha bebê em um acidente de carro em 1972. Seu filho Beau morreu de câncer em 2015, aos 46 anos.

Biden foi informado sobre o ataque no Texas ainda a bordo do avião que o levava da Ásia de volta aos EUA, segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

Em proclamação emitida antes de desembarcar, o presidente ordenou que as bandeiras na Casa Branca e nos prédios federais e públicos norte-americanos sejam hasteadas a meio mastro até o pôr do sol de 28 de maio, em memória das vítimas.

O atentado é o pior em escolas norte-americanas desde dezembro de 2012, quando um homem de 20 anos matou 26 pessoas, incluindo 20 estudantes, na escola primária Sandy Hook, em Connecticut.

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Análise

Patentes na OMC é uma derrota para os países do Sul Global

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Pandemia de covid-19 reativou a debate sobre a quebra de patentes para medicamentos e vacinas. Apesar de sua união em torno do tema, países subdesenvolvidos sofreram uma derrota

Alessandra Monterastelli

Outras Palavras Outras Palavras

2022-07-06T22:35:00.000Z

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No dia 17 de junho, saiu fumaça branca das chaminés da Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade, responsável pela regulação de patentes internacionais, anunciou que chegara a uma conclusão sobre as vacinas contra o coronavírus. Tratava-se do pedido de isenção do acordo TRIPS – sigla em inglês para Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio. Firmado na virada do século, tal compromisso obriga os países-membros da OMC a adotar padrões mais rigorosos de proteção patentária. Consequentemente, encarece o acesso às inovações tecnológicas, inclusive no setor farmacêutico. Mas a decisão final foi amplamente criticada por ativistas da saúde e movimentos populares em todo o mundo, já que a OMC rejeitou a isenção total do TRIPS. 

Em 2020, diante da disseminação do novo coronavírus, África do Sul e Índia protocolaram a proposta de isenção do Acordo, que obteve amplo apoio dos países em desenvolvimento e de baixa renda – com exceção do Brasil. A nova decisão foi saudada pelo Secretariado da OMC e por representantes de países ricos como um resultado sem precedentes, mas ativistas condenam que, na prática, a decisão não atende as necessidades mínimas da maior fatia do mundo. “Houve um esvaziamento da proposta pelos países mais ricos. O texto perdeu totalmente sua força, não trouxe nada novo”, explica Felipe Carvalho, Coordenador Regional da Campanha de Acesso do Médicos Sem Fronteiras ao Outra Saúde.

A conclusão do órgão concedeu uma exceção temporária à restrição das quantidades de vacinas que podem ser exportadas sob licença compulsória; diagnósticos e tratamentos não estão incluídos e devem obedecer ao limite de exportação durante o tempo de licença compulsória – decretada durante emergências sanitárias, como é o caso da pandemia. Além disso, a concessão vale apenas para responder à covid-19 e não tem validade diante de outras crises de saúde. O acordo final não inclui o compartilhamento de segredos comerciais e know-how de fabricação, o que prejudicará a produção de vacinas com tecnologia avançada por países de baixa renda – como é o caso dos imunizantes de RNA.

Carvalho conta que o problema é abordado com frequência em reuniões escpecais da OMS e da ONU.  “Existe um consenso entre especialistas e órgãos multilaterais de que as patentes causam constantes crises de acesso e inovação na saúde”. Em maio, o The Guardian divulgou que a Pfizer lucrou 25,7 bilhões de dólares só no início de 2022 – mais da metade do valor está relacionado à venda de vacinas contra a covid-19. Tim Bierley, ativista do Global Justice Now, denunciou ao jornal britânico que apesar do apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras organizações, a farmacêutica seguia se recusando a compartilhar a tecnologia de produção do imunizante. O diretor da OMS, Tedros Adhanon, afirmou em 2021 que a pandemia estava sendo prolongada por uma “escandalosa desigualdade” diante do acúmulo de doses de imunizantes por países ricos enquanto países pobres não conseguiam avançar em sua meta de vacinação em massa. 

“Desde a criação do acordo TRIPs nós temos um cenário de constantes crises de acesso a medicamentos essenciais”, conta Felipe. Ele relembra o caso emblemático da epidemia de HIV/AIDS, na década de 1990. “Em 1996 surgiu a primeira terapia para a doença. As pessoas pararam de morrer e passaram a conviver com o vírus. Mas essa terapia não chegou nos países onde o cenário era mais grave”, explica. O ano de 1996 foi também quando o acordo TRIPS entrou em vigor, após sua criação em 1994 e preparação em 1995. “A partir daí se criou uma coalizão na sociedade civil, da qual fazemos parte, chamada Movimento de Luta pelo Acesso a Medicamentos. A pergunta era: por que os preços eram tão altos e o tratamento se tornava inacessível para milhões de pessoas? Nos aprofundamos no sistema de patentes e entendemos que o monopólio era a causa”, relembra.

Apesar do TRIPS possuir cláusulas que permitem flexibilizações, elas são de difícil utilização devido a dois fatores principais: sua não-incorporação completa em leis de países-membros e a pressão que as farmacêuticas exercem sobre as decisões da OMC. Na década de 1990, diante da grave situação vivida na África do Sul – país com maior número de mortes pela AIDS na época – o governo então liderado por Nelson Mandela aprovou uma das medidas previstas no TRIPS para importar genéricos. Na ocasião, Mandela sofreu o processo de 39 farmacêuticas que se opuseram à decisão tomada para conter a crise de saúde pública. Apesar da derrota das corporações na justiça, “esse é um exemplo de como essas empresas e seus países-sede tentam barrar as normas legítimas existentes no TRIPS”, exemplifica Carvalho.

A OMC é uma instituição formada por 164 membros e opera com base na tomada de decisões por consenso. “A OMC falhou em fornecer uma isenção. O acordo coloca os lucros à frente das vidas e mostra que o atual regime de propriedade intelectual falha em proteger a saúde e promover a transferência de tecnologia. Essa não-renúncia estabelece um mau precedente para futuras pandemias e continuará a colocar vidas em risco” declarou Lauren Paremoer, médica e integrante do Peoples’ Health Movement na África do Sul. 

A Health Action International, referência no trabalho para expandir o acesso a medicamentos essenciais, argumentou em nota que a decisão da OMC impõe obstáculos ao licenciamento compulsório, uma das poucas flexibilidades existentes no TRIPS, em troca de uma abertura tímida para a facilitação da exportação de vacinas. Outras entidades representantes da sociedade civil já denunciaram a atuação dos países ricos e vêm aumentando a pressão sobre os governos. O objetivo, segundo seus porta-vozes, é que sejam tomadas medidas concretas para desafiar as regras de monopólio farmacêutico da OMC e garantir mais acesso a medicamentos e tecnologias. 

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