A cidade de Trípoli, no norte do Líbano, guarda uma verdadeira joia arquitetônica criada pelo brasileiro Oscar Niemeyer em 1962. O projeto foi um pedido do governo libanês para a idealização dos pavilhões da Feira Internacional, como relatou à RFI o arquiteto libanês Wassim Naghi.
Ele lidera a luta na Unesco para tombar a obra — uma das preferidas de Niemeyer, hoje completamente abandonada — como Patrimônio da Humanidade.
O Líbano tem sido palco de confrontos e conflitos armados por mais de 40 anos, mas o país do Oriente Médio foi certamente o centro cultural e intelectual do mundo árabe nos anos 1960.
Entre os vestígios desta época de ouro está a Feira Internacional Rachid Karamé em Trípoli, um sonho de concreto realizado em 1962 por Oscar Niemeyer, brasileiro que é considerado o “pai da arquitetura moderna”, famoso por sua participação na construção de Brasília e também da sede da ONU em Nova York, além da sede do Partido Comunista francês, em Paris.
Localizado em um terreno de 70 hectares, este complexo futurista de edifícios de concreto, cuja construção foi interrompida pela guerra civil que dilacerou o Líbano entre 1975 e 1990, leva o nome de um ex-primeiro-ministro libanês da região de Trípoli.
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Arquiteto libanês Wassim Naghi luta na Unesco para tombar a obra como Patrimônio da Humanidade
Utilizados pelas milícias e pelas forças armadas durante a guerra e depois abandonados à sua sorte, os pavilhões da antiga feira internacional de Trípoli contam, há alguns anos, com um defensor: Wassim Naghi, presidente da UMAR, a União Mediterrânea de Arquitetos, e um verdadeiro especialista em Niemeyer, cujo conjunto da obra visitou no Brasil, além de colecionar documentos e objetos pessoais como cartas.
Como Le Corbusier, cujo trabalho admirava, Niemeyer defendia um verdadeiro estilo de vida através de suas criações e imaginou, dentro deste projeto, estruturas como um teatro ao ar livre rodeado por espelhos d’água, um auditório, um heliporto, uma casa de hóspedes, ou seja, uma verdadeira utopia urbana composta de 15 edifícios com curvas ovoides, sensualmente futuristas, como aquelas que se vê em Brasília, Belo Horizonte, Rio ou São Paulo.
Tudo agora se encontra ameaçado pelo completo abandono e a falta de interesse do governo libanês, e uma parte do teto do pavilhão internacional colapsou em 2016, como mostrou à RFI o arquiteto Wassim Naghi.
Assista ao vídeo no complexo abandonado de Niemeyer em Trípoli, na companhia de Wassim Naghi: