A junta militar que governa Mianmar informou nesta sexta-feira (19/05) que 145 morreram quando o ciclone Mocha atingiu o país nesta semana. Agências humanitárias e residentes, entretanto, afirmam temer que mais pessoas perderam a vida em decorrência da tempestade.
Mocha atingiu a costa no domingo, e o empobrecido estado de Rakhine, no oeste de Mianmar, sofreu os maiores danos, enquanto partes da vizinha Bangladesh também foram atingidas. “Ao todo, 145 moradores locais foram mortos durante o ciclone”, disse um comunicado das autoridades da junta militar de Mianmar, a maioria das vítimas pertencem à minoria rohingya.
Em Rakhine, o impacto do ciclone no domingo derrubou casas, torres de comunicação e pontes com ventos de até 210 quilômetros por hora e provocou uma tempestade que inundou a capital do estado, Sittwe.
A junta disse em um comunicado que até 18 de maio um total de 145 pessoas foram encontradas mortas, incluindo 91 em campos para deslocados internos. No início desta semana, havia dito que três pessoas foram mortas pela tempestade.
Número de vítimas pode aumentar
Alguns moradores contatados pela agência de notícias Reuters disseram no início desta semana que mais de 400 pessoas foram mortas e muitas outras estão desaparecidas, acrescentando que os sobreviventes estavam lutando com falta de alimentos e suprimentos médicos.
Líderes locais baseados nos arredores de Sittwe disseram à agência de notícias AFP que mais de 200 rohingyas morreram apenas em suas áreas, com a contagem ainda em andamento.
O estado de Rakhine é o lar de centenas de milhares de refugiados rohingya que vivem em campos de deslocados lotados após décadas de conflito étnico em Mianmar. Suas casas precárias em terras baixas foram severamente atingidas pela tempestade.
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Em Rakhine, o impacto do ciclone no domingo derrubou casas, torres de comunicação e pontes
Os rohingya vivem em Mianmar há gerações, mas são amplamente vistos como intrusos de Bangladesh. Eles não têm cidadania, acesso a cuidados de saúde e precisam de permissão para viajar para fora de seus municípios.
Bangladesh, por sua vez, disse que ninguém morreu em seu lado da fronteira, inclusive nos extensos campos de refugiados rohingya em seu território, que abrigam quase um milhão de pessoas.
“Grupos de socorro dos respectivos estados estão trabalhando em resgates e trabalhos de reabilitação junto com grupos de caridade da sociedade civil”, disse a junta no comunicado compartilhado em seus canais no Telegram e na Rádio e Televisão de Mianmar (MRTV).
No entanto, as Nações Unidas e outras organizações não governamentais disseram que os esforços de socorro foram interrompidos enquanto aguardavam a permissão da junta para enviar pessoal e alimentos, água e suprimentos médicos necessários para as regiões afetadas.
Pontes danificadas pela tempestade e bloqueios de estradas com árvores arrancadas também estão impedindo a ajuda, disseram as agências internacionais.
ONU fala em 800 mil necessitados
Cerca de 400 mil pessoas foram evacuadas em Mianmar e Bangladesh antes de o ciclone atingir a costa, enquanto as autoridades se esforçavam para evitar pesadas baixas de uma das tempestades mais fortes a atingir a região nos últimos anos.
O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas disse na sexta-feira que pelo menos 800 mil pessoas em Mianmar agora precisam de ajuda alimentar de emergência e outros tipos de assistência após o ciclone.
A mídia apoiada pela junta militar informou na sexta-feira que navios da Marinha e a Força Aérea levaram milhares de sacos de arroz, enquanto milhares de eletricistas, bombeiros e equipes de resgate foram mobilizados em Rakhine.
Várias nações, incluindo Índia, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, já prometeram ajuda. Três navios da Marinha indiana transportando alimentos, tendas, remédios, bombas de água e produtos sanitários e de higiene chegaram a Yangon, a maior cidade de Mianmar, na quinta-feira, e um quarto navio chegará na sexta-feira, disse Nova Déli.