A perda do poder aquisitivo é uma fonte constante de ansiedade e terror para o futuro imediato. Os ícones dos aplicativos de investimento estão se multiplicando nos telefones celulares.
Movimentar o dinheiro para que ele não se desvalorize e gere renda é a preocupação de uma quantidade crescente de pessoas que assistem tutoriais na internet, seguem influenciadores e apostam suas economias em títulos, ações, criptomoedas ou no Mercado Eletrônico de Pagamentos (MEP).
Aqui trazemos depoimentos quatro pessoas que trabalham em pequenas corretoras e que relatam suas experiências no mundo das apostas financeiras.
A arte de investir
Comecei a trabalhar com vidro fundido há pouco tempo. No entanto, trabalho também com design em 3D, que é meu ganha-pão há mais ou menos dez anos. Nunca me faltou dinheiro, mas o máximo que consegui economizar na minha vida até algum tempo atrás foi provavelmente US$ 3 mil, e sempre acabava gastando esse dinheiro em alguma viagem.
Então decidi investir no mundo das criptomoedas. Quando entrei no Bitcoin, estava trabalhando em um estúdio de design e a verdade é que esse é um ambiente bastante nerd, então confiei no que me diziam. Investi em muitas criptomoedas. Naquela época, eu gastava talvez uma hora e meia por dia assistindo a vídeos sobre diferentes tipos de moedas e havia algumas que eram muito obscuras, e portanto também não eram fáceis de comprar. Talvez eu não conseguisse encontrá-las na Binance [uma corretora de criptomoedas] e tivesse que recorrer a outras [plataformas de negociação].
Eu tinha investido dinheiro em uma empresa chamada Cryptopia e um dia entrei no site e ele dizia que estava em reparo. Em seguida, foi publicado um comunicado dizendo que o site não estava mais funcionando e que o cara havia declarado falência. Muitas pessoas haviam depositado dinheiro, então foi feita uma reivindicação em grupo e ainda estou recebendo e-mails. Eu havia depositado 150 dólares no site, não era muito dinheiro. Se eu fizesse besteira, seria pior. Fiz muitas coisas erradas relacionadas às criptomoedas, mas isso me ajudou a aprender. Eu entrava nos sites de mercados financeiros todos os dias, e quando via que a valorização dessas moedas estava caindo, mudava para outra moeda. Mas é aí que você perde dinheiro, porque eles cobram uma comissão para a compra e venda.
Em um determinado momento, eu estava trabalhando na Holanda e estava solicitando a cidadania italiana. Lembro que meu passaporte saiu e tive que fazer uma viagem de emergência para a Itália. Tive que sacar dinheiro justamente quando o Bitcoin havia caído, então perdi dinheiro. Mas agora mudei meu foco, estou com os fundos de investimento, então não estou muito atento às altas e baixas desse mercado. Tenho um plano de longo prazo.
Pouco antes de voltar para a Argentina, houve uma demissão coletiva na empresa em que eu estava trabalhando, e nesse momento eu ainda não tinha conseguido economizar os 3 mil, mas a empresa me pagou 14 mil euros. E bem, eu gastei um pouco desse dinheiro, mas quando decidi voltar, considerando a atual situação econômica da Argentina, pensei: “tenho que colocar isso em algum lugar”. Foi então que decidi investir em ações [da bolsa de valores]. Você pode investir na Apple, na Amazon ou em qualquer outra empresa, mas isso depende do que acontece com essa empresa. Com os fundos de investimento, ETFs [Exchange Traded Funds], você compra um pacote de ações de diferentes empresas. Atualmente, estou investindo em um chamado S&P 500, que tem as empresas mais importantes dos Estados Unidos, portanto, é relativamente seguro.
Digamos que se esse tiver um desempenho ruim, o capitalismo entra em colapso. Mas há outros que são mais voláteis e proporcionam mais lucros. Assim, coloquei 75% no S&P 500 e os 25% restantes em empresas que fabricam semicondutores. Não entendo muito bem do assunto, mas os semicondutores são os materiais usados em quase todos os objetos tecnológicos. Vi que, nos últimos 10 anos, esse foi o melhor desempenho e o coloquei lá. Investi 4 mil dólares há dois meses e, até o momento, deve ter me rendido cerca de US$ 40. Agora vou ao YouTube e, se algo me parece interessante, começo a pesquisar no Google.
Se não fosse pelo meu erro com o Bitcoin, eu teria investido tudo em semicondutores. Isso me ajudou a perceber que não se pode entrar em algo tão arriscado se você não souber como fazê-lo. De qualquer forma, posso dizer que aprendi com o mau investimento em Bitcoin, mas a verdade é que logo depois cometi o mesmo erro novamente com os NFTs. Eles são tokens [criptoativos] que representam uma obra de arte física ou digital. Como faço design 3D, comecei a ver que muitos artistas estavam ganhando muito dinheiro com isso.
Sempre me interessei por questões ambientais e houve uma discussão sobre NFTs que geravam muitos danos. Na época, eu estava bem ciente disso, mas parte da criptografia usa muita energia. Então, entrei em uma plataforma que supostamente era menos prejudicial, com um projeto chamado Coral Club. Eram corais feitos com desenho animado e a ideia era que uma porcentagem de cada venda fosse destinada à recuperação de corais. Mas como a plataforma era pouco conhecida, vendemos cinco ou seis, e depois as criptomoedas caíram muito e o projeto estagnou. Foi o cara com quem trabalhei no Coral Club que me disse que os NFTs do Messi estavam prestes a sair, que em quantidade limitada, que ele ia promovê-los em seu Instagram, que não sei o quê. Eu comprei uma imagem que tinha um milhão de cópias e valia 500 dólares cada uma. Hoje em dia, não deve valer nem cinquenta. Além disso, era uma animação do Messi com as seis bolas de ouro e depois ele ganhou mais uma.
Joaquín (33 anos), designer de arte 3D e artesão
Pai ausente, mãe investidora
Trabalho desde muito jovem. Não foi só a universidade que me proporcionou tudo o que conquistei até hoje. Sempre tentei economizar, mesmo que em pequena escala. Mas sempre com a ideia de comprar dólares e colocá-los embaixo do colchão. Depois da pandemia, comecei a ler que havia inflação em dólares e disse a mim mesma: “o que eu faço?” Naquela época, já ganhava um pouco mais dinheiro, mas não tinha muita oportunidade de consumi-lo. Sou consultora de comunicação em uma empresa multinacional e moro sozinha com minha filha de cinco anos, sou mãe solteira e com pai ausente. Não tenho conhecimento técnico, mas continuo lendo, e a verdade é que a página web Coco’s Capital me ajudou muito, porque tem um aplicativo confiável, onde é informado sobre os diferentes instrumentos. No início, era mais intuitivo, um pouco mais aleatório. Hoje, quando vejo oportunidades para comparar “obrigações não negociáveis” ou simplesmente “títulos de créditos”, eu dou um clique duplo neles. Vou ao Google, leio e vejo se posso aplicar algum dinheiro lá. No início, eu não entendia muito bem o que eram “obrigações não negociáveis” e depois percebi que eles são como os “títulos de créditos”, mas de empresas.
Há muitos geradores de conteúdo que divulgam muitas informações interessantes. Aqui na Argentina tem muitas influenciadoras financeiras, como a Luli Invierte, que também tem outra página chamada Feminanza. Ela tem um curso simples sobre investimentos, e eu acho isso ótimo. Gosto dela porque é jovem e faz um conteúdo muito real. Você pode ver que o mundo dos investimentos sempre foi atribuído mais aos homens, embora isso tenha mudado um pouco nos últimos anos. Mas, de repente, essa garota, Luli Invierte, que é mãe, diz que está arrecadando dinheiro para o filho desde que ele nasceu para que, aos 18 anos, ele tenha uma educação garantida. Não vejo esse tipo de raciocínio nos homens. Não estou dizendo que eles não as tenham, mas elas não estão na ordem de suas prioridades. O dinheiro é útil para bens materiais, para viagens. Mas uma viagem longa, de três meses, não me ajuda nem um pouco porque minha filha está na escola. Vou fazer com que ela falte à escola? Somos um grupo [etário] que trabalha, que gera dinheiro, mas onde você vai colocá-lo? Você nunca vai conseguir comprar uma casa só com o salário que ganha.
Todos demonizam os empréstimos da Unidade de Valor Aquisitivo (UVA, programa de crédito hipotecário do governo argentino), mas conheço muitas pessoas que agora têm casa própria e pagam menos do que o aluguel custaria. Aconteceu comigo que, uma época, eu não tinha dinheiro para obter um empréstimo hipotecário e, agora que tenho, não existe nenhum disponível. Portanto, algo que ouço muito é: “ok, prepare-se para o dia em que houver um”. Tenho um grupo no WhatsApp com cinco amigos da escola que fazem o mesmo. É tudo muito amador, não há muito conhecimento, mas o importante é que há interesse.
Quando recebo informações, eu mando e digo: “meninas, vejam isso” e algumas delas ficam fazendo perguntas sobre o tema. Sem contar que trabalho em um lugar que me dá estabilidade, que este ano aumentou meu salário. É um privilégio que sei que nem todo mundo tem. No meu trabalho há um programa em que podemos comprar ações da empresa com um desconto percentual. Você acumula um fundo por seis meses para que, quando as ações estejam disponíveis, você possa comprar.
Há muitas empresas que têm essa possibilidade, que em parte as beneficia também. Eu retiro parte do meu salário, as ações são compradas e isso gera dividendos para mim. No dia em que eu precisar do dinheiro, simplesmente deixo o programa e pronto. Já vi muito isso em criadores de conteúdo: preveja desde o início que uma porcentagem de sua renda será destinada a investimentos. Tenha isso dentro de seu orçamento. Quando eu era mais jovem, adorava viajar, então eu tinha um apartamento minúsculo, a cozinha tinha poucos centímetros. Eu poderia pagar por algo maior? Sim, eu poderia. Mas eu não ia fazer isso se quisesse viajar por dois meses. Sempre vi o dinheiro como um instrumento de liberdade.
Vejo que muitas mulheres ao meu redor talvez queiram se separar do marido e não podem porque pararam de trabalhar ou trabalham poucas horas e não podem pagar um lugar para morar. Por isso, sempre digo a elas que nunca parem de crescer no que quer que escolham, porque amanhã isso pode ser uma carta de liberdade. Nunca deixo meu dinheiro parado. Quando recebo meu salário, transfiro-o automaticamente para a plataforma e o coloco em um fundo mútuo com 24 horas de resgate. Verifico algumas vezes por semana para ver o que está acontecendo. E, em geral, uma vez por mês, tento fazer algum investimento. Em geral, sempre tive um histórico positivo.
Para dizer a verdade, não tenho ideia de quanto consegui, porque considero esse um instrumento de longo prazo. Mas estou verificando-os aqui no aplicativo e alguns deles me dão resultados muito, muito bons. Em um deles, estou com +826% e em outro com +2117%. Nunca investi em criptomoedas. Não aprendi sobre isso, não entendo muito bem, mas tenho certeza de que o farei em breve.
Marisa (34), consultora de comunicação social
Cercadinho das criptomoedas
Eu me formei como médico, me especializei em cardiologia e depois fiz vários cursos de pós-graduação sobre coisas relacionadas a engenharia de dados. Na verdade, praticamente não me dedico mais à assistência médica, mas trabalho em uma empresa de telemedicina. A primeira vez que pensei que tinha que começar a investir no mundo financeiro foi durante a desvalorização da moeda argentina, durante o governo de Mauricio Macri, em 2018, quando o dólar estava em 20 pesos e em dois meses estava em 40 pesos. Na época, foi muito perceptível: estava mais pobre que há uma semana.
Naquela época, eu não tinha tanta capacidade de poupança e a prioridade era sempre fazer uma pequena viagem com minha esposa, porque nós dois somos médicos e a residência queima a cabeça. Ela gostava mais de comprar dólares. Eu colocava meu dinheiro em poupança de renda fixa e esse dinheiro perdia valor. Mas em 2020 comecei a procurar outras alternativas.
Tive uma reunião com um investidor que me ofereceu colocar meu dinheiro em um fundo de investimento nos Estados Unidos. O sistema era um pouco incômodo e não funcionou para mim. Então, entrei em uma criptomoeda chamada UST, que era uma stablecoin que tinha paridade com o dólar. Você comprava essa moeda e a colocava em um depósito criptográfico a prazo fixo que lhe dava 10% de juros anuais em dólares. Era bom demais para ser verdade e era uma bolha, que acabou estourando. A criptomoeda perdeu valor rapidamente porque o mecanismo pelo qual ela funcionava era bastante ineficiente. Nesse tipo de investimento de risco, pode ser muito fácil aplicar e obter bom retorno, mas também é fácil perder dinheiro. Eu nunca tinha feito isso e, em um verão, quando estava em quarentena, comecei a assistir aos vídeos do influenciador argentino Young Investor. Há muitas pessoas no YouTube que, teoricamente, conhecem o assunto e dão conselhos.
O que fez eu ir buscar esse tipo de investimentos foi o fato de haver inflação nos Estados Unidos. Eu tinha alguns dólares do Mercado Eletrônico de Pagamentos (MEP) que havia comprado e disse à minha esposa que deveríamos comprar criptomoedas, que nos rendiam juros. E, de fato, elas nos deram juros por três ou quatro meses. Depois começaram a cair: valiam um centavo por dólar. Foi então que vendi tudo o que tinha e disse “está indo para o inferno”. Perdi cerca de US$ 5 mil. Achei que minha esposa ia me matar, mas felizmente ela aceitou bem. É preciso saber o que se está comprando.
Há muitas criptomoedas que são uma porcaria e acho que há todo um mercado por trás delas que se aproveita das pessoas que não conhecem como funcionam. Quarenta bilhões de dólares, toda a dívida que tínhamos com o fundo, todo esse dinheiro desapareceu. Na verdade, a pessoa por trás dos USTs é um coreano que agora está na prisão. Fiquei irritado com o sistema porque todas as plataformas que comercializavam essa moeda lavaram as mãos. Eu recomprei o criptodólar temporariamente, mas quando Milei ganhou eu achei que o dólar perderia valor frente a moeda argentina.
Lembro-me claramente que recebi meu bônus de Natal em uma sexta-feira e que no sábado o ex-ministro de Economia, Martín Guzmán, deixou a pasta. E o que aconteceu com o dólar? E o que aconteceu com o dólar do MEP? Foi para o inferno. Isso fez muita gente perder dinheiro com essa operação. Porque quando você compra, não sabe o valor do dólar, porque a transação é fechada após 48 horas. Você pensou ter comprado 500 dólares e acabou recebendo 350. Mas bem, agora o dólar está estável. Eu compro dólares que posso retirar fisicamente do banco, porque não confio nem um pouco na gestão macroeconômica desse governo. Não vou me arriscar.
Pierre (34 anos), cardiologista e analista de dados
Eu sou um jogador
Tenho um canal na Twitch há oito anos e ele vem mudando de acordo com meus interesses. Agora, gosto muito de criptomoedas e sou um nerd, um jogador, e o que me excita é que esse é o jogo mais difícil do mundo. Investir em criptografia em geral é um pouco difícil, porque você está colocando no mesmo saco moedas que não são tão seguras ou filosoficamente sólidas.
O Bitcoin é o que é porque é descentralizado e não depende de um ator central que possa desvalorizá-lo, como acontece com outras moedas, ou como o dólar. Há um página web muito boa chamada Wtfhappenedin1971 que mostra um compêndio de estatísticas que começaram a ir por água abaixo quando deixamos o padrão ouro. No final, eles citam um monetarista liberal que diz que nunca poderemos ter dinheiro de verdade a menos que o tiremos das mãos dos governos e – isso me dá arrepios – há um link para o white paper de Satoshi Nakamoto, que é o [pseudônimo do] fundador anônimo do Bitcoin.
De algum modo, para mim, o Bitcoin é o abraço entre o capitalismo e a horizontalidade do comunismo. Não voto, sou muito anarquista nesse sentido e também não sou milionário, mas é verdade que se pegarmos a maquininha e começarmos a imprimir, empobreceremos todos igualmente. A mesma coisa está acontecendo com os ianques. Nós economizamos em dólares, mas o que acontece se amanhã os Estados Unidos enlouquecerem e começarem a imprimir moeda como loucos? Eu invisto em dólares, porque ainda não existe esse problema. E em Bitcoin, é claro. Mas também não tenho muito, porque não estou no negócio de vadiagem [comprar e esperar que suba para vender].
O que eu faço é chamado de negociação de futuros. Eu não compro e vendo Bitcoin, eu aposto em seu aumento ou queda de valor. E faço isso ao vivo na Twitch, o que é muito incomum aqui no nosso país. É muito louco, porque é a forma mais comum de negociação hoje em dia e poucas pessoas na Argentina fazem isso. Isso se deve ao fato de que a maioria perde mais do que ganha e, por isso, vende os cursos. Se você der ao algoritmo um pouco de pista, começará a ver esse submundo de criadores de conteúdo financeiro: “seja seu próprio chefe e fique rico em três etapas simples”. Essa narrativa baseia-se, em primeiro lugar, na premissa de que existe uma maneira infalível de ganhar dinheiro e, em segundo lugar, que você pode acessá-la. Mas, acima de tudo, isso nasce do desespero das pessoas por dinheiro. E é daí que vem a Generation Zoe e todos esses esquemas de pirâmide.
Cositorto tinha literalmente uma mesa de traders trabalhando para ele. Minha contracultura é apenas dizer que isso é uma bagunça, que você vai perder, que vai ganhar e que essas são as regras que você precisa aprender para não se ferrar. Eu não falo sobre dinheiro. Como meu negócio não está centrado na ganância, lido com quantias que não me comovem. Minha negociação pública, a que mostro na transmissão, começa sempre com 300 dólares.
Não importa o que aconteça, no início do mês eu volto a esse valor. Agora estou US$ 800 acima do valor inicial. Em outras palavras, ganhei 250% sobre o investimento inicial em quatro meses, o que é muito. É realmente obsceno. Mas eu jogo com o trading, não penso nisso como algo monetário. Trezentos dólares não me comovem nem um pouco. Posso perder tudo e parecer um tolo, mas no dia seguinte estarei bem. E esse é o segredo para que eu possa jogar concentrado. Já negociei com mais dinheiro e passei por maus bocados, fiquei mal no fim de semana, ou fiquei estressado.
Durante a pandemia, quando ninguém tinha o que fazer, um amigo meu assumiu a tarefa de me treinar por duas semanas. Conheci o mundo do Bitcoin e disse: “isso é uma loucura”. Não posso colocar em números reais, mas peguei um terço de todo o meu dinheiro e coloquei lá. Depois, comecei a experimentar coisas, comecei a negociar e, se você estiver sozinho, será apenas uma bola. E isso não é típico das criptomoedas, é típico dos mercados. Perdi tudo e fiquei tão amargurado que coloquei metade do dinheiro e perdi tudo de novo.
Naquela época, eu estava muito triste. Foi quando entrei em contato com as pessoas para quem trabalho agora [da bolsa de valores] e elas me disseram as três ou quatro coisas que eu precisava ouvir. Eles me deram um patrocinador para que eu pudesse negociar novamente e, com esse pouco de dinheiro, recuperei tudo o que tinha perdido. Fiz meu arco de redenção na frente de seus olhos e foi quando eles disseram “aqui tem algo”. E agora estou estendendo o patrocínio a pessoas que acho que podem se sair bem. Nesta semana, duas garotas entraram, o que é inédito. Essas garotas são grandes jogadoras em um nível competitivo, portanto, já possuem algumas habilidades, como trabalhar bem sob pressão ou ter uma alta tolerância à frustração.
O que eu faço é dar a elas consultoria individualizada para que possam começar a negociar ao vivo. Em meu fluxo, não tenho uma estrutura muito definida. Há dias em que nos ferramos com o ditado “às vezes, a melhor negociação é não negociar nada”. Em seguida, fazemos uma análise, avaliamos as possibilidades do que poderia acontecer, eu anoto as coisas e digo “não há negociação para mim hoje”. Pelo contrário, há dias em que pego minha ferramenta de trabalho, que é a página do perfil do meu patrocinador, então observo um pouco, opero ao vivo e completo meu diário. Tenho minhas regras pessoais, recursos, modelos de coisas que podem acontecer, mas o mais importante é que mantenho um registro rigoroso de todas as minhas operações. Eu comento como se fosse um diário íntimo: “vou fazer isso e aquilo, sinto isso, estou um pouco cético”.
Quando a negociação é fechada, faço um corte e comento como foi. E mantenho um registro de todos os que estão negociando comigo, para que eu possa ir até alguém que esteja indo mal e dizer: “ei, você precisa conversar? Existe uma ferramenta chamada alavancagem, que é um multiplicador de seu capital. Talvez você não tenha o dinheiro com você, mas sabe que sua leitura está correta e é totalmente válido usar alavancagem. O problema é que é muito fácil ir para o inferno. Se você negociar vezes 100, estará assumindo um risco 100 vezes maior. Recentemente, um sujeito sofreu um grande golpe de cinco dígitos em dólares e eu tive com ele a mesma conversa que tiveram comigo quando perdi muito dinheiro.
Cerca de 90% dos problemas começam quando você negocia com valores com os quais não consegue lidar em sua cabeça. Você está confiando em acertar na roleta e ficar rico. Portanto, talvez você não goste de negociar, talvez queira apenas ficar rico. Os mercados são movidos pela ideia de consenso de massa: quando todos concordam com algo, acontece exatamente o oposto. Eu me baseio muito nessas premissas e não em todas as outras bobagens técnicas, monetárias e matemáticas. Minha abordagem é muito mais psicológica: se você não sabe quem é o idiota na mesa, você é o idiota.
Isso está acontecendo cada vez mais com as crianças. Elas estão usando sites de apostas, roleta, há hiperjogos. Venderam a você uma visão boomer de que você poderia ter sua própria casa, seu próprio carro, e aos 30 anos sua vida não corresponde a essa realidade. Como você sempre se sente atrás na corrida, vai apostar muito mais do que o necessário se não for um especialista. Você cometerá erros porque quer se livrar desse problema existencial que tem. Falar sobre dinheiro é uma receita para o fracasso. É um jogo. E eu quero ser o melhor nisso.
Manuex (31 anos), streamer
(*) Publicado originalmente pela Revista Crisis, da Argentina.
(*) Tradução: Fania Rodrigues