O governo brasileiro repudiou a “imagem distorcida e preconceituosa” que um livro didático alemão atribui, de modo estereotipado e xenofóbico, às crianças do Rio de Janeiro e do Brasil.
O livro infantil ABC der Tiere – Sprachbuch 4 (ABC dos animais – Livro de idiomas 4, em tradução livre), da editora Mildenberger, apresenta uma criança brasileira como personagem, que diz: “Olá. Meu nome é Marco. Moro no Rio de Janeiro. Pela manhã, busco restos de comida em latas de lixo. Na hora do almoço limpo os para-brisas dos carros. Meu sonho é me tornar um jogador de futebol profissional”.
Por meio da Embaixada do Brasil em Berlim, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro afirmou que o livro, usado em escolas na Alemanha, propaga preconceitos sobre o país e classifica o feito como uma “abordagem insensível e pouco informada da editora”.
“Para além da dificuldade em entender como texto dessa natureza possa ter a pretensão de ser didático, preocupa, o impacto em crianças de sua exposição a estereótipos e preconceitos sobre outros países”, afirma.
A Embaixada reconhece ainda “a existência de elevada taxa de inequidade” como um problema no Brasil, “que vem sendo enfrentado por sucessivos governos brasileiros ao longo das últimas décadas”, mas destaca que o presidente Lula “atribui particular relevância [ato tema] desde seu primeiro governo”.
A representação brasileira na Alemanha disse ainda que os esforços do país para garantir que crianças tenham acesso adequado à educação e saúde em políticas públicas como o Bolsa Família, Criança Alfabetizada, Escola em Tempo Integral e Proinfância “são reconhecidos como referência para outros países em desenvolvimento pelo Banco Mundial, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)”.
“O programa de merenda escolar, que garante a adequada alimentação de alunos brasileiros, também é exemplar e tem sido mencionado como referência pelas competentes autoridades do governo alemão”, afirmou a Embaixada, lembrando que a taxa de escolarização de crianças no Brasil entre 6 e 14 anos chega a 99,4% segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

“Moro no Rio de Janeiro. Pela manhã, busco restos de comida em latas de lixo. Na hora do almoço limpo os para-brisas dos carros”, diz criança brasileira retratada em livro alemão
Editora assume responsabilidade
Em contraste com as afirmações sobre a criança brasileira, outras crianças fictícias de diferentes países tinham descrições positivas, como uma menina alemã de Berlim que gostava de tocar violão e sonhava ser educadora ou um garoto japonês que estudava o dia inteiro para ser advogado
Assim, a representação brasileira em Berlim também informou que “está buscando contatos com a editora e com autoridades alemãs” para que providências sejam tomadas.
O caso veio à tona após um menino brasileiro de 11 anos se deparar com o conteúdo na escola e relatar sua frustração aos pais, que decidiram expor a situação. A mãe do garoto compartilhou a imagem do trecho em um grupo de WhatsApp de mães brasileiras, desencadeando uma mobilização nas redes sociais que pressionou a editora a se manifestar.
A polêmica levou a editora a se retratar. Por meio de uma nota oficial, a Mildenberger assumiu a responsabilidade do feito e disse que nunca foi sua “ intenção reforçar estereótipos negativos ou transmitir uma representação unilateral”.
Ao lamentar o ocorrido, pediu “sinceras desculpas à comunidade brasileira e a todos os leitores afetados” e informou que a versão corrigida da obra já está disponível para download, além de afirmar que seu manual será revisto.
“Nosso objetivo é capacitar as crianças na sua abertura e respeito por um mundo diversificado e culturas diferentes. Agradecemos as suas dicas e empenho – porque somente através do diálogo podemos aprender e melhorar juntos”, finalizou.
Leia a nota da Embaixada do Brasil em Berlim na íntegra
A Embaixada do Brasil em Berlim repudia a referência que se atribui a um fictício personagem infantil brasileiro no livro pretensamente didático “ABC der Tiere – Sprachbuch 4”, da editora Mildenberger, em uso em escolas na Alemanha, que propaga imagem distorcida e preconceituosa acerca as crianças do Rio de Janeiro e do Brasil.
A existência de elevada taxa de inequidade é um problema reconhecidamente grave no Brasil, que vem sendo enfrentado por sucessivos governos brasileiros ao longo das últimas décadas e ao qual o Presidente Lula atribui particular relevância desde seu primeiro governo.
Os esforços empreendidos para garantir que crianças tenham acesso adequado à educação e saúde são reconhecidos como referência para outros países em desenvolvimento pelo Banco Mundial, pela OIT e pela FAO. A implementação de grande número de políticas públicas de longo prazo (como os programas “Bolsa Família”, “Criança Alfabetizada”, “Escola em Tempo Integral” e “Proinfância”) tem permitido significativos avanços no acesso à educação de qualidade, na luta contra a pobreza e o combate à fome. O programa de merenda escolar, que garante a adequada alimentação de alunos brasileiros, também é exemplar e tem sido mencionado como referência pelas competentes autoridades do governo alemão.
O programa “Bolsa Família”, criado em 2003 se tem ampliado de forma sucessiva ao longo dos anos e condiciona o recebimento de recursos à realização de exames pré-natal por gestantes, o cumprimento de calendário de vacinas estabelecido pelo governo federal e acompanhamento do estado nutricional para crianças menores de sete anos, além de frequência escolar mínima para crianças e adolescentes de 4 a 18 anos.
No Brasil, a taxa de escolarização de crianças entre 6 e 14 anos chega a 99,4% (PNAD, 2023).
A Embaixada do Brasil em Berlim lamenta a abordagem insensível e pouco informada da editora Mildenberger no livro em questão. Para além da dificuldade em entender como texto dessa natureza possa ter a pretensão de ser didático, preocupa, o impacto em crianças de sua exposição a estereótipos e preconceitos sobre outros países.
Ao associar-se às inúmeras mensagens de repúdio da comunidade brasileira na Alemanha à publicação, a embaixada esclarece que está buscando contatos com a editora e com autoridades alemãs para a adoção de providências a respeito do texto em questão.
(*) Com Revista Fórum