Com chamas ainda não controladas, os incêndios em Los Angeles e arredores, na Califórnia, já mataram ao menos dez pessoas, deixaram 14 mil hectares queimados, 10 mil construções destruídas e 400 mil ordens de evacuação.
Embora os bombeiros tenham contido alguns focos, outros continuam fora de controle e os hidrantes de algumas áreas secaram, obrigando os agentes a recorrer à água das piscinas, totalmente insuficiente.
O que já se tornou o pior incêndio da história de Los Angeles começou na noite de terça-feira (07/01) no luxuoso bairro de Pacific Palisades, mas logo surgiram outros focos, como Hurst, Altadena, Eaton.
Em Pacific Palisades, a água dos hidrantes acabou já na quarta-feira (08/01) pela manhã porque o abastecimento hidráulico do bairro não foi projetado para combater incêndios florestais. Seus três tanques de 1 milhão de galões secaram.
Com o clima seco, os fortes ventos e bombeiros sem água, o fogo avançou rapidamente para Pasadena e Hollywood Hills.
As chamas já reduziram à cinzas bairros inteiros e chegaram a dez quilômetros do centro de Los Angeles. Muitas estrelas de cinema estão entre os que tiveram que abandonar suas casas.
Cães vasculham os escombros
Equipes vasculham os escombros com cães farejadores em busca de mais vítimas e a previsão é de que o número de mortos aumente.
Os relatos de saques já fizeram a polícia decretar toque de recolher. Já na tarde de quarta-feira, mais de 153.000 residências e empresas sofriam com falta de eletricidade.
“Estamos enfrentando um desastre natural histórico”, disse Kevin McGowan, diretor de gerenciamento de emergência do condado de Los Angeles.
Os bombeiros disseram à reportagem do britânico Guardian que jamais viram destruição comparável, que os últimos dias foram os “mais devastadores e aterrorizantes da história da cidade”, com “cenas apocalípticas”.
“Essas rajadas de vento erráticas estavam lançando brasas a vários quilômetros à frente do fogo”, disse o chefe dos bombeiros de Passadena, Chad Austin.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, mobilizou 1.400 bombeiros para combater o fogo.
Em Pacific Palisades, um bombeiro estimou que as chamas destruíram quatro de cada cinco casas, incluindo mansões de muitas de celebridades, como Anthony Hopkins, Billy Crystal e Eugene Levy.
Dois terços da área total destruída até agora foi entre as colinas de Santa Mônica e Malibu.
Incêndios em Palisades, que começou na cidade de Los Angeles, deixa milhares de desabrigados
Vítimas mortais
Mas as chamas atingiram também áreas mais populares. Todas as vítimas mortais até agora são dessas áreas.
A filha de Anthony Mitchell disse que seu pai cuidava do filho Justin que tem paralisia cerebral. Ambos morreram esperando uma ambulância para fugir do fogo. Mitchell foi encontrado ao lado da cama do filho.
Rodney Nickerson morreu em casa em Altadena. Com 82 anos, ele já havia sobrevivido a outros incêndios, comuns na região, e acreditou que esse seria como os anteriores. Ele comprou sua casa em 1968, com uma entrada de US$ 5 dólares e criou a família lá, relatou sua filha, Kimiko Nickerson à KTLA.
Altadena abriga uma comunidade bem diversificada. Ali, muitas famílias negras e latinas que se instalaram há décadas convivem com artistas e engenheiros mais jovens que trabalham na Nasa, com poder aquisitivo maior.
Sherri Solinger, moradora do bairro adora essa diversidade e diz que Altadena é a melhor comunidade de Los Angeles porque ali os moradores se ajudam mutuamente, como ocorreu no incêndio.
Muitos deles, porém, sentiram que não eram prioridade das autoridades, mais preocupadas, segundo eles, com as grandes mansões de celebridades que ardiam.
Vários relataram que ainda não tinham visto nenhum carro de bombeiros na quarta-feira pela manhã, quando eles já fugiam das chamas.
Solinger, que sobreviveu ao terremoto de 1994, diz que aquilo não parecia tão apocalíptico como este incêndio.
Milhares de pessoas foram evacuadas de Altadena, onde as chamas voltaram a se intensificar na noite de quinta-feira (09/01).
Condições climáticas críticas
O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos prevê que as condições climáticas críticas para o incêndio devem se manter ao menos até esta sexta-feira (10/01) à noite em boa parte dos condados de Los Angeles e Ventura em função da combinação da baixa umidade e dos fortes ventos que vem do mar.
Os ventos, que diminuíram um pouco na quinta-feira, devem voltar a se intensificar nesta sexta-feira, segundo as previsões meteorológicas.
Os grandes incêndios no oeste dos Estados Unidos estão se tornando mais frequentes. Dez dos maiores incêndios florestais da Califórnia ocorreram nos últimos 20 anos, sendo cinco deles somente em 2020.
E os cientistas alertam que o aquecimento global deve piorar o cenário, aumentando em 25% os riscos de incêndios de rápida propagação como o atual.
Coincidentemente, nesta sexta-feira, o Serviço Copérnico de Mudanças Climáticas da União Europeia, divulgou um relatório que revela que 2024 foi o ano mais quente desde que se começaram a se medir as temperaturas.
A média planetária subiu superando o limite de 1,5ºC que os cientistas haviam calculado como seguro para conter o aquecimento global. A partir de agora, aumentam os riscos de que o fenômeno seja irreversível, provocando cada vez mais eventos climáticos extremos.
