O número de mortos pelas enxurradas que afetam a Espanha desde terça-feira (29/10) chegou oficialmente a 202 no início da tarde desta sexta-feira (01/11) e as chuvas intensas não param. Na Andaluzia, o alerta para riscos de inundação é vermelho nas zonas costeiras de Huelva, Andévalo e Condado.
Em Valência, o alerta de inundações caiu de vermelho para laranja, mas o aguaceiro ainda atrapalha as equipes de emergência. Mais de 750 militares se juntaram aos 1.200 da Unidade Militar de Emergência, que desde terça trabalham na área para localizar pessoas sob os escombros, limpar ruas e estradas e tentar reabilitar minimamente a infraestrutura e as casas.
Castellón e Tarragona estão sob alerta laranja, e há riscos de inundações também na Catalunha e nas Ilhas Baleares (Ibiza, Mallorca, Menorca e Formentera).
Nas ilhas já chove forte e a previsão é de muita água em pouco tempo. Mas a preocupação cresce, sobretudo, por que alguns fenômenos observados pelos meteorologistas nas últimas horas não haviam sido previstos.
Milhares de voluntários
Milhares de familiares dos afetados e vizinhos das cidades próximas à tragédia também acudiram à região afetada, muitos deles a pé, trazendo alimentos e pás para tentar ajudar, aproveitando o feriado prolongado na Espanha, que começa nesta sexta-feira.
Mas a coordenação das equipes de emergência pediu que voltassem às suas casas porque a circulação no local está colapsada. Conseguir que as equipes de emergência cheguem às áreas mais atingidas está sendo um dos maiores desafios dessa tragédia.
Transitar em muitas ruas e estradas é impossível mesmo com motos e, muitas vezes, até a pé. Milhares de carros estão amontoados em diversas vias e inclusive sobre a ferrovia que liga a região ao resto da Espanha. Há trechos de estrada desmoronaram ou estão alagados.
Nas ruas das cidades e vilarejos os automóveis se amontoam misturados a contêineres, móveis, eletrodomésticos, postes de iluminação, restos de casas em ruínas e muito barro. A isso se soma que as chuvas estão restringindo também os resgates aéreos.
“É imperativo que vocês voltem às suas casas”, disse Carlos Mazón, presidente do Governo de Valência, a comunidade autônoma mais afetada. E diversos prefeitos da região lhe faziam eco explicando que mesmo os pedestres prejudicam a já difícil a circulação dos profissionais de emergências.
Ajuda não consegue chegar
Enquanto as doações não conseguem chegar, os saques, ao pouco comércio que escapou do barro, foi a alternativa para alguns dos que perderam tudo.
Em Alfafar, um dos 20 municípios que continuam sem luz, os moradores invadiram um supermercado, cujo estacionamento se converteu em uma piscina de carros.
Outro morador de lá, o aposentado Francisco Pérez, de 64 anos, decidiu ir até a cidade vizinha em busca de pão. Caminhava sozinho à noite pelo acostamento da autoestrada V-31, rodeado de caminhões empilhados quando a reportagem do El País o encontrou: “quero chegar a Sedaví porque ouvi falar que ali ainda tem pão. Não aguento um dia mais sem pão”, disse.
Assim como Francisco, os 17 mil habitantes de Chiva também só recebem notícias pelo boca a boca. Estão sem luz, água ou telefone desde terça-feira (29/10). Eles não tem como localizar seus desaparecidos, nem buscar notícias sobre eles no rádio ou na TV. Já contabilizaram 10 mortos, mas muitos acham que serão mais de 100 pelas centenas de carros jogados pelo entorno.
“Cada vez que um cachorro se mete na lama, aparecem corpos” confirmou a prefeita de Chiva, Amparo Fort, à agência EFE.