Autoridades espanholas atualizaram neste domingo (03/11) para 217 o número de mortos nas inundações-relâmpago que devastaram o leste do país no início da semana.
O saldo de vítimas do pior desastre natural na história recente da Espanha aumenta à medida que os serviços de resgate avançam por áreas arrasadas pelas chuvas torrenciais que caíram entre a terça (29/10) e a quarta-feira (30/10.
Na região de Valência, onde há 213 mortes confirmadas, a força da enxurrada arrastou carros, árvores e destroços de casas e comércios pelas ruas cobertas de lama. Pontes também foram destruídas e algumas estradas estão intransitáveis. A polícia e os serviços de resgate usaram helicópteros para retirar pessoas de casas e carros.
Ainda não se sabe quantas pessoas estão desaparecidas.
“Infelizmente há pessoas mortas dentro de alguns veículos”, afirmou na manhã desta quinta-feira (31/10) o ministro espanhol dos Transportes, Óscar Puente.
“Estamos diante de uma situação muito difícil”, disse na quarta-feira o ministro de Políticas Territoriais, Angél Víctor Torres. “O fato de que não podemos dizer o número de pessoas desaparecidas indica a magnitude da tragédia.”
O governo da Espanha declarou três dias de luto oficial, a começar na quinta-feira.
“Vi corpos flutuando”
O soldador Luís Sánchez disse à agência de notícias Associated Press que salvou várias pessoas presas em seus carros em uma rodovia ao sul da cidade de Valência que foi rapidamente inundada.
“Vi corpos flutuando. Gritei, mas nada”, afirmou. “Os bombeiros tiraram os idosos primeiro, quando conseguiam entrar. Sou daqui de perto, então tentei ajudar e resgatar as pessoas. Havia gente chorando por toda parte, estavam presas.”
Segundo o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, a prioridade agora é encontrar as vítimas e desaparecidos, “para que possamos ajudar a acabar com o sofrimento das famílias”.
Mais chuva em 8 horas que nos 20 meses anteriores
As chuvas torrenciais causaram estragos em várias partes do país, principalmente nas regiões de Valência, Andaluzia e Múrcia.
Segundo o Aemet, serviço meteorológico do país, partes de Valência receberam em oito horas mais água de chuva do que nos 20 meses anteriores.
“Ontem foi o pior dia da minha vida”, disse Ricardo Gabaldón, prefeito de Utiel, uma cidade em Valência, ao canal nacional RTVE nesta quarta. Ele contabilizava seis mortos, mais outros ainda desaparecidos. “Ficamos presos como ratos. Carros e contêineres de lixo flutuavam rua abaixo. A água estava chegando a 3 metros de altura”, relatou.
Além das fortes chuvas, houve também queda de granizo e fortes rajadas de vento. O Aemet previu que as tempestades devem continuar até esta quinta-feira.
O transporte aéreo e ferroviário também foi afetado. Um trem de alta velocidade com quase 291 pessoas a bordo descarrilou perto de Málaga devido a um deslizamento de terra. A empresa ferroviária estatal Renfe informou que o acidente, porém, não deixou feridos.
O serviço de trens de alta velocidade e outras linhas de passageiros entre Valência e Madri foi interrompido. Aulas tiveram de ser canceladas em várias escolas e universidades. Propriedades rurais também foram devastadas.
Brigadistas e mais de 1,1 mil soldados da unidade espanhola de resposta a emergências foram deslocados para as regiões afetadas, e o governo da Espanha criou um comitê de crise para coordenar os esforços de resgate, presidido pelo primeiro-ministro Sánchez.
Tempestades após fortes secas
A tempestade já havia atingido Mallorca e outras Ilhas Baleares na segunda-feira, onde um alerta amarelo de tempestade ainda está em vigor para algumas áreas.
As chuvas excepcionais vêm após a Espanha sofrer quase dois anos com uma seca severa, que comprometeu a capacidade de drenagem do solo.
Cientistas afirmam que o aumento dos episódios de clima extremo provavelmente está associado às mudanças climáticas. À medida que as temperaturas globais aumentam, o ar mais quente retém mais umidade, o que intensifica os níveis de precipitação.
Atividades humanas, como desenvolvimento urbano, desmatamento e infraestruturas inadequadas, também contribuem significativamente para os riscos de inundações.
Em relatório divulgado nesta quinta-feira, o grupo de pesquisa Climate Central disse que um sistema de baixa pressão, responsável pelas enchentes na Espanha, se conectou a um “rio atmosférico” carregando excesso de umidade de um Atlântico Tropical mais quente que o normal.
Segundo o grupo, a mudança climática causada pelo homem tornou essas temperaturas elevadas da superfície do mar de 50 a 300 vezes mais prováveis.