Quarta-feira, 26 de março de 2025
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Cerca de 300 pessoas participaram nesta quarta-feira (20/02) de uma festa de boas vindas para o líder indígena Leonard Peltier, que deixou a prisão após cinco décadas. O evento ocorreu na reserva indígena de Turtle Mountain, no Estado de Dakota do Norte,  e foi transmitido pelo Youtube.

Em um discurso emotivo, Peltier não conseguiu conter as lágrimas, enquanto agradecia o apoio dos presentes e de todos os membros da comunidade que celebravam sua liberdade depois de quase 50 anos.

“É surpreendente ver todos vocês me dando as boas vindas a casa”, disse o líder indígena, depois de passar horas cumprimentando todos os presentes, que fizeram uma longa fila para abraçá-lo. Alguns dos participantes levaram presentes, outros pediram autógrafos em livros, DVDs ou camisetas.

Peltier foi condenado pela morte de dois agentes do Departamento Federal de Investigação (FBI, por sua sigla em inglês) durante um tiroteio entre esse órgão federal e integrantes do movimento indígena dentro da reserva indígena Pine Ridge, em Dakota do Sul. Os agentes invadiram a reserva para cumprir mandatos de prisão e os ativistas reagiram.

“Estou muito orgulhoso dessa demonstração de apoio que vocês estão me fazendo. Tive muita dificuldade para não chorar, mas disse a mim mesmo: guerreiro forte não pode chorar na frente dessas pessoas. Então, não vou chorar”, contou Peltier.

‘Estou orgulhoso e grato por este apoio’

Erguendo o punho direito repetidas vezes, Peltier discurso durante oito minutos,  demonstrando notável resistência para um homem de 80 anos que precisa de andador.

Segundo o diário Minnesota Star Tribune, o líder indígena foi recebido pelo presidente da reserva Turtle Mountain, Jamie Azure, que colocou em seus ombros um adorno cerimonial e entregou a ele um cajado de águia, o que teria sido levado em uma caravana chamada Caminhada da Justiça, organizada em 2022 pela Movimento Indígena Norte-Americano (AIM, por sua sigla em inglês), com o objetivo de defender sua libertação.

 Fotos e desenhos usados na campanha pela libertação de Peltier em 2009
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Fotos e desenhos usados na campanha pela libertação de Peltier em 2009

Aquela iniciativa resultou em uma travessia a pé ao longo de 1770 quilômetros, de Minneapolis a Washington. O AIM foi fundado em Minneapolis em 1968. Quatro anos depois Peltier se juntou ao grupo e se tornou membro proeminente da entidade.

“Desde o primeiro dia, da primeira hora após a minha prisão, eu tive o apoio do movimento indígena, que trabalhos durante todos esses anos para tentar me libertar. Foram 800 tribos lutando por mim, e isso faz eu me sentir muito bem”, disse Peltier, que passou seus primeiros dias de cárcere confinado em uma cela de privação sensorial, no silêncio e escuridão absolutos.

‘Tentaram tudo para me derrotar, mas eu os venci’

“Esperavam que eu morresse naquela cela, mas a Suprema Corte me salvou, disse que aquilo era ilegal e que eu já tinha cumprido a minha sentença. Eles tentaram de tudo para me derrotar, mas eu os venci, venci os bastardos”, disse Peltier em seu discurso.

Ele também lembrou que, em junho passado, a Justiça rejeitou seu último pedido de liberdade condicional, estabelecendo que deveria cumprir mais 15 anos de pena.

“Eu já tinha 80. Ficar na prisão mais 15 era uma sentença de morte, ainda mais sem os remédios de que preciso”, confessou. A medida só foi revertida porque o então presidente Joe Biden (2021-2025), em um dos seus últimos atos oficiais, comutou a sentença de Peltier para prisão domiciliar. O ato foi uma resposta a uma enorme mobilização do movimento indígena promovida não só pelo AIM como por várias outras entidades.

Durante décadas, além do AIM, inúmeras outras entidades indígenas norte-americanas e organizações pelos direitos humanos lutaram pela libertação de Peltier assim como vozes proeminentes do mundo todo, como o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela (1994-1999) e o papa Francisco.

“Foi um esforço global para trazê-lo para casa. Somos quatro gerações lutando por isso e o trabalho precisa continuar”, disse Lisa Bellanger, diretora executiva do Grande Conselho de Administração da AIM, lembrando que os nativos norte-americanos representam menos de 1% dos habitantes do país e quase 10% da população carcerária.

 

Com informações do Minnesota Star Tribune.