Na edição do programa SUB40 desta quinta-feira (18/02), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o treinador de boxe, ex-pugilista, historiador, militante antifascista e um dos fundadores do Boxe Autônomo Breno Macedo, sobre a relação entre boxe e política. Para Macedo, a modalidade é uma ferramenta contra o fascismo.
Macedo conta que as origens do boxe antifascistas vêm da Itália, onde a modalidade sempre foi muito popular. Segundo ele, pessoas de esquerda, de grupos mais marginalizados e humildes, queriam encontrar locais para treinar onde não tivessem que lidar com comentários racistas, ver quadros fascistas etc. Nesse contexto surgiram as “palestras popolares”, as academias populares. – um movimento que hoje está muito bem estruturado.
O ex-pugilista teve a oportunidade de visitar e trabalhar numa dessas academias por seis meses, em Roma. “Eu era mais boxeador do que militante, eles eram mais militantes do que boxeadores. Então foi uma troca muito grande”, afirma.
Para ele, a experiência o ajudou a entender ainda mais o poder transformador do boxe e a necessidade que o esporte (ou qualquer outro) seja considerado um direito social.
Projeto Boxe Autônomo
Em seu projeto atual, chamado Boxe Autônomo, Macedo busca resgatar a relação entre boxe e militância de maneira agregadora. “Quando você começa a oferecer treinamentos de boxe, você atrai um grupo de pessoas que vai além da sua bolha. E é aí que está o pulo do gato. Não vem só quem pensa como a gente para treinar. Mas a gente defende uma bandeira e é uma oportunidade para a gente de transmitir os nossos valores, quebrar os muros, agregar essas pessoas e mostrar como a gente enxerga o mundo. Acho que é nisso que se transformou o boxe antifascista”.
“Porque uma coisa que é inegável é que o boxe salva vidas. Você ajuda a sociabilizar crianças, transmitir valores, disciplina. Conheço pessoas que se não fosse pelo boxe estariam imersas na criminalidade, teriam sido mortas, estariam num subemprego. O boxe é um caminho de emancipação social, econômica e até mental. A gente imagina o boxe como um meio, não como um fim. Quer que o cara seja campeão, mas queremos ascensão social para além da medalha no peito”, defende.
“Infelizmente, o que a gente vive hoje é uma realidade muito conservadora no mundo do boxe. Não só no Brasil, como no mundo. E a esquerda durante muito tempo fechou os olhos para o esporte. Não o abraçou como fizeram, por exemplo, a URSS e Cuba”, conta.
Isso acontece, segundo Macedo, apesar das origens humildes da modalidade. “O boxe é um esporte marginalizado, é um esporte dos oprimidos: de imigrantes, ciganos, negros, judeus. Peguemos a comunidade ítaloamericana nos EUA de exemplo. Nas décadas de 20, 30 e 40, ela sofria muito preconceito e, dali, saíram muitos boxeadores. Quando essa comunidade ascendeu socialmente, boxeadores de origem ítaloamericana deixaram de ser tão comuns”, explica Macedo.
Por isso, segundo ele, em muitos países do mundo, o boxe esteve associado às lutas de esquerda – apesar de ter sido usado por todos os espectros políticos. “Por um lado, temos experiências magníficas, como o boxe cubano, fortalecido pelo movimento revolucionário. Por outro, temos o boxe italiano, que, na década de 1930, era financiado por um governo fascista”.
No caso do Brasil, a trajetória do boxe está diretamente ligada à da família Zumbano, principalmente a Waldemar Zumbano, segundo o historiador. Ele foi o primeiro a unir o boxe à luta política, o primeiro a pensar no boxe popular e antifascista. Zumbano também comandou uma brigada de choque da juventude comunista e por isso foi perseguido pelo governo Vargas.