Em entrevista ao fundador de Opera Mundi, Breno Altman, no programa SUB40 desta quinta-feira (18/03), o atual presidente do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Juliano Medeiros, defendeu a necessidade de uma frente ampla para combater o bolsonarismo e uma unidade de esquerda para construir uma saída para o país.
Ele reconheceu, no entanto, que o discurso do PT, sobretudo de Lula, após a restituição de seus direitos políticos, tem sido mais combativo em relação ao governo Bolsonaro. Medeiros comemorou a decisão do ministro Edson Fachin em relação ao ex-presidente por considerá-la um ato de justiça.
“E me parece que ele [Lula] voltou com uma perspectiva de enfrentamento. Será que ele vai manter esse discurso? Se sim, vai ajudar muito e eu espero que ele mantenha”, afirmou, considerando até um possível apoio à uma candidatura do ex-presidente. “Não tenho veto ao nome de Lula, nem de ninguém, desde que tenha a capacidade de agregar a esquerda contra Bolsonaro”, pontuou.
O dirigente reforçou, contudo, que é preciso, primeiro, se concentrar em 2021. “As eleições são um debate importante, mas que vem sendo antecipado. Nossa prioridade é cumprir com as propostas imediatas: vacina, impeachment e auxílio emergencial”, ressaltou.
Nesse sentido, Medeiros avaliou como positiva a posição dos partidos progressistas, de esquerda e centro-esquerda, que vêm defendendo as mesmas pautas o que, no longo prazo, permitiria construir um espaço de convergência para discutir saídas para a crise.
“Construção de uma unidade eleitoral não sei, não sei nem se o PSOL vai ter disposição. Mas se eu não puder sentar com Flávio Dino, Marina Silva, Ciro, Lula, para discutir programa, acabou a esquerda no Brasil. É mais do que organizar uma resistência, precisamos pensar nas saídas porque aí vamos ver que as nossas diferenças não são tão grandes. São muito menores, aliás, do que as diferenças com a direita liberal e o bolsonarismo”, ponderou.
Bolsonarismo
Para Medeiros, a necessidade de uma frente para combater o bolsonarismo e uma unidade de esquerda são “coisas distintas”. O presidente do PSOl afirma que uma é “deter a agenda do bolsonarismo que tem tirado direitos, desmontado a Constituição, intimidado adversários e por aí vai”.
“Para cumprir isso, todo o mundo é bem-vindo, até mesmo o Rodrigo Maia. Outra coisa é a construção de uma unidade, mais do que só tática, entre as forças de esquerda e centro-esquerda para apresentar saídas para a crise que o Brasil vive”, afirmou.
Segundo ele, o PSOL defende que essas saídas passam por uma mudança da política econômica: revogar metas fiscais e o teto de gastos, “porque estrangulam a capacidade do Estado de combater a desigualdade social”, e uma reforma tributária “radical e profunda”, que vai “incomodar muita gente”. “Por isso digo que não há mais espaço para pactos com as elites”, afirmou.
Medeiros falou de uma revolução programática. Para o presidente do partido, a esquerda segue mantendo os ideais dos programas políticos dos anos 80, que ainda servem de guia pelo caráter anti-imperialista e anti-latifundiário que tinham, “e que continua sendo fundamental. Mas o Brasil de 2021 exige respostas atualizadas. Elementos como o feminismo e a luta antirracista devem se tornar estruturais, não apêndices”.
De acordo com Medeiros, a Constituição de 88, inclusive, já está desatualizada, pois não dá conta da realidade atual do país. Medeiros, entretanto, não acredita que a solução esteja na convocação de uma Assembleia Constituinte.
“Acho uma bandeira arriscada. Acho que a Constituição de 88 não dá mais conta, mas, do ponto de vista tático, não acho que temos a capacidade de ganhar essa disputa”, disse. E, segundo ele, se a esquerda ganhar o governo, “da forma que nós sustentamos”, uma constituinte não seria necessária.
“Uma esquerda antissistêmica, que se conecta com o sofrimento do nosso povo e com a falta de paciência para com o atual sistema político e econômico, é capaz de promover mudanças muito profundas. Mas uma esquerda que se elege refazendo os mesmos pactos de sempre não tem essas condições”, argumentou referindo-se ao Partido dos Trabalhadores.
Medeiros explicou que o que diferencia o PSOL do PT é o projeto estratégico. Enquanto o primeiro quer viabilizar o sistema socialista democrático que passa por transformações estruturais e o enfrentamento das elites, “me parece que pelo menos parte do PT quer apenas fazer as transformações dentro dos marcos do Estado, o que para nós é insuficiente”.
‘Nossa oposição ao PT era programática’
Hoje, o PSOL vê o PT como aliado, mas o partido já foi bastante crítico à legenda de Lula. “Nossa oposição era programática, ou seja, ao teor do projeto. Nesse sentido, as críticas que fazíamos eram corretas, sobre os limites da política do PT e os pactos com a burguesia. Acho que a história acabou nos dando razão”, disse.
O dirigente ponderou, contudo, que o PSOL poderia ter tido posições mais compreensivas com o PT em alguns momentos e lamentou que setores de sua legenda apoiaram o Mensalão ou foram lenientes com a Operação Lava-Jato.
“Hoje parece que quando começou a Lava-Jato todo o mundo já sabia o que ia virar. No caso do PSOL, o ponto de virada foi a condução coercitiva do Lula. Ali a gente se deu conta de que o que estava em curso não era para denunciar problemas reais. Havia problemas reais, estruturais, que não começaram com o PT, mas a Lava-Jato foi instrumentalizada para perseguir o projeto político que eles defendiam e isso ia chegar na gente, como chegou”, justificou.
O presidente partidário mais jovem da atualidade
A mudança na postura do PSOL, que antes fazia forte oposição ao PT, foi consolidada com a eleição de Medeiros como presidente nacional do partido. “Éramos a oposição dos governos petistas, do ponto de vista de cobrar mais mudanças. Mas a gente apoiava o que representava mudanças, como o Bolsa Família, projeto Minha Casa, Minha Vida. Mas aí o PT foi para a oposição, com o governo Temer, e era fundamental fazer alianças porque os partidos de oposição eram poucos”, contou.
A própria trajetória política de Medeiros passa pelo PT. Parte do movimento estudantil desde os 15 anos, ele foi filiado à legenda, que deixou em 2005 para formar parte do PSOL, fundado no ano anterior. Na época, ele formava parte da diretoria da União Nacional dos Estudantes.
Ele chegou à presidência do partido por meio do que ele define como um processo de renovação. “Se você ver a nossa bancada, com algumas exceções – Erundina, Ivan Valente, Chico Alencar e Marcelo Freixo -, temos todos menos de 40 anos. E esse processo de renovação chegou à direção. Eu também tenho uma longa trajetória de militância no PSOL, então foi uma forma de reconhecer esse trabalho e de colocar alguém que poderia ter uma dedicação um pouco mais exclusiva ao partido”, afirmou.