No programa SUB40 desta quinta-feira (01/04), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o socioambientalista Thiago Ávila. Contrapondo-se às teses da economia verde, que ganham força em países capitalistas ocidentais, de que seria possível uma economia sustentável que não degrada o meio ambiente, Ávila afirmou que a não exploração à natureza só é possível por meio do ecossocialismo como estratégia para a construção de um estado de bem viver.
“Acreditar que o capitalismo verde pode trazer alguma mudança é tão ingênuo quanto pensar que um capitalismo que inclui mulheres, negros e pessoas LGBT tem a capacidade de resolver opressões que são estruturais. É uma das falácias do capitalismo para manter sua estrutura. O capitalismo verde é uma mentira, não existe”, argumentou.
O problema, a seu ver, que leva a acreditar que iniciativas como a green economy representam um avanço. é que o movimento ambiental está desconectado das demais lutas, de forma a fragmentar as alas progressistas, “como se fosse uma luta que compete com as outras, mas, na verdade, elas são interdependentes”. Nesse sentido, Ávila acredita que o ecossocialismo engloba todas as lutas necessárias.
“Quando não tem água, quem sofre com isso? Quem morre com onda de calor ou frio? Quem precisa comer comida envenenada? Quem sofre com todos os extremos decorrentes do aquecimento global? Tudo isso é pago pela classe trabalhadora, animais não humanos e a natureza”, explicou.
Para ele, entretanto, mais do que lutar por uma sociedade ecossocialista, Ávila vê o ecossocialismo como uma estratégia para construir uma sociedade do bem viver. Isto é, mais similar ao que seria uma sociedade comunista, de vida comunitária, que una as populações do campo, da cidade e da floresta, todas conectadas a uma sabedoria ancestral de relação com a terra.
Na busca pelo bem viver, Ávila se vê obrigado a pensar “num senso de urgência ainda maior que é a destruição planetária. Porque o que a gente vai construir se não tivermos uma relação com a terra? É possível construir uma sociedade socialista numa terra arrasada?”, questionou.
Ele explicou, portanto, que o bem viver não aceita o desenvolvimento enquanto construção do capitalismo para impor uma experiência imperialista que mantém a divisão social do trabalho. O que não significa, contudo, que a sociedade do bem viver rejeite o desenvolvimento.
“Ao contrário. Acho que temos que romper com a lógica de produção e desenvolvimento do capitalismo. Questionar a lógica do crescimento econômico infinito. Temos a criatividade para avançar no sentido do bem comum, nunca colocando o sistema econômico acima do ecossistema. Em vez disso, o sistema econômico deve estar pensado no sentido da não exploração, não reprodução de opressões e não exploração da natureza”, defendeu.
A luta de 2021
Durante a conversa, o socioambientalista também falou sobre a luta em tempos de pandemia, no Brasil de Jair Bolsonaro.
“No Brasil, temos a tarefa histórica incompleta de construir uma maioria social. Vivemos um momento de crise prática da esquerda, de falta de credibilidade, de hesitação em apostar num programa de ruptura. Portanto, essa construção de uma maioria social passa por uma formação coletiva de três eixos: capacidade de fazer as resistências do nosso tempo com todas as armas que tivermos, dentro e fora da institucionalidade; se enraizar territorialmente, adquirindo consciência coletiva, promovendo o poder popular local; e unificar cidade, campo e floresta”, detalhou.
De forma mais concreta, Ávila vem participando de ações de combate à fome, de protestos contra despejos, promovendo ações nas redes sociais e mais. Sempre tomando todos os cuidados sanitários e as precauções possíveis, como reforçou.
“A gente tem ido para a rua porque a gente precisa lutar as batalhas do nosso tempo e vacina só vai ter com luta. A luta revolucionária sempre traz riscos e as pandemias são fruto de uma relação desequilibrada com a natureza, principalmente com animais não humanos, e podem se tornar o lugar comum”, alertou.
No entanto, Ávila admite que seria “mais fácil” mobilizar as massas para ir à luta se houvesse segurança sanitária no país: “se a gente tivesse uma política de vacinação, as primeiras manifestações já seriam massivas, mas a gente está vivendo uma política de genocídio que retarda propositalmente a vacina para evitar manifestações, e aí a vacina vem como promessa eleitoreira”.
Por outro lado, ele acredita que o descontentamento com Bolsonaro vem aumentando a ritmos cada vez mais rápidos, o que poderia se traduzir em movimentações importantes. E a reabilitação dos direitos eleitorais de Lula contribui para incitar a população.
Sobre o ex-presidente, Ávila celebrou a camaradagem com Lula, desde quando foi preso, quando diversos países denunciaram sua prisão; e com ele próprio quando foi preso na semana passada ao denunciar um despejo ilegal. “Mas a nossa camaradagem deve seguir para além da retórica”, ressaltou.
De cara a 2022, o socioambientalista acredita ser necessário construir um caminho “radical e antissistêmico”, preferencialmente por uma frente única de esquerda.
“Eu vou defender um programa antissistêmico e espero que seja de uma frente única de esquerda. Mas se será possível construí-lo dessa forma, é o que a nossa luta vai dizer”, disse.