No programa SUB40 desta quinta-feira (14/10), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Josué Rocha, uma das novas lideranças da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Ele afirmou que o governo de Jair Bolsonaro “acabou com qualquer política habitacional a nível federal no país” e que a pandemia da covid-19 agravou o cenário. “O debate inicial para se proteger do vírus era ficar em casa, mas como pessoas em condições precárias, em acomodações com muita gente ou que já não conseguiam pagar o aluguel iam ficar em casa?”, ponderou.
Assim, o também médico celebrou as mobilizações de rua que estão ocorrendo contra o governo, afirmando que os retrocessos talvez tivessem sido ainda maiores se a população não tivesse saído a se manifestar.
Rocha enfatizou a questão da moradia como sendo urgente, já que as famílias não estão tendo outra alternativa além da ocupação. Nesse sentido, ele elogiou o programa Minha Casa, Minha Vida, pois reconhecia a moradia como um direito e algo a ser enfrentado com políticas públicas, ao invés de uma mercadoria.
“O ponto negativo foi que entregava os recursos do programa nas mãos das grandes construtoras. Aí eram construídas unidades em regiões afastadas sem nenhuma infraestrutura básica ou unidades de baixa qualidade, porque o objetivo das empresas não era construir a melhor moradia com aquele recurso, era ter lucro”, criticou.
Por isso, o líder foi taxativo ao dizer que novas políticas de moradia em um eventual governo de esquerda em 2023 não podem estar nas mãos de construtoras, ressaltando que o problema da moradia não se resolve apenas com construção de casas e “não depende só da esfera federal”.
Pensando nisso, ele relembrou que o MTST tem tido posicionamentos ativos nas últimas campanhas eleitorais e que não será diferente em 2022: apoiando Guilherme Boulos (PSOL) no governo do estado de São Paulo e o ex-mandário Lula na Presidência.
O trabalho do MTST
Rocha também contou sobre o trabalho do MTST atualmente, organização que surgiu em 1997 por militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, mas que se consolidou como entidade separada do MST no início dos anos 2000.
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Josué Rocha celebrou as mobilizações de rua que estão ocorrendo contra o governo Bolsonaro
Ele explicou que o movimento não ocupa prédios abandonados, por exemplo, mas prioriza terrenos sem função social: “A gente entende a importância de recuperar os imóveis abandonados do centro, mas queremos organizar os trabalhadores nas periferias e, nesses locais, os terrenos funcionam melhor, são maiores, podemos desenvolver nosso trabalho político”.
Isso porque o objetivo do MTST, segundo Rocha, não é apenas conquistar o acesso à moradia, mas desenvolver polos de mobilização a partir das ocupações que lutam pelos direitos dos trabalhadores daquela região, como melhoria em infraestrutura (escolas, transporte público, etc).
“É um desafio grande, não conseguimos na integralidade manter a base social organizada depois da conquista, mas sempre ganhamos militantes a partir do movimento orgânico. Nossa ideia é tornar os condomínios locais de trabalho permanente”, reforçou.
Além da entrada orgânica no MTST, isto é, de pessoas que buscam o movimento pela necessidade da moradia e que acabam unindo-se à luta, soma-se a entrada de jovens, principalmente, de classe média, como é o caso de Boulos e do próprio Rocha, que se uniu ao movimento enquanto cursava a faculdade de Medicina na Universidade Estatal de Campinas (Unicamp).
“Antes não tinha tanta organização na entrada, se entrava botando a mão na massa. O Boulos esteve presente desde o começo quase do MTST. Hoje é mais organizado. Temos brigadas de trabalho de base para as quais abrimos inscrições. É curioso criar um movimento de militantes da classe média e das classes mais pobres. Acho que isso é uma vantagem, porque gera uma possibilidade de troca muito mais interessante”, discorreu.
O projeto mais recente do MTST é a constituição de cozinhas solidárias, algo que vem sendo feito há aproximadamente dois anos.
“Existem outros temas essenciais para permitir a organização dos trabalhadores, além da moradia, tipo a fome, principalmente agora. Então a cozinha comunitária é para a produção e distribuição de alimentos, mas transformando aquele local num polo de convivência e organização”, explicou.
As cozinhas são construídas em terrenos já consolidados ou cedidos. Já existem 20 por todo o país que, além de cozinhar e distribuir comida, realizam atividades de reforço escolar, oficinas jurídicas, algumas contam com hortas comunitárias, entre outras.
“A ideia não é só entregar uma marmita, é estabelecer uma relação com as famílias que são atendidas pela cozinha”, agregou Rocha.