No programa SUB40 desta quinta-feira (25/03), o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou a escritora e educadora popular Lana de Holanda, que foi assessora da vereadora Marielle Franco e hoje é assessora de sua viúva, a vereadora Monica Benício (PSOL-RJ).
Feminista ecossocialista, Holanda diz que se contou que se integrou às lutas sociais durante a época em que realizava sua transição de gênero e se viu acolhida nas rodas de conversa do PSOL, partido ao qual é filiada, e a Articulação de Mulheres Brasileiras.
“E sou muito agradecida porque a gente sabe que existe um setor do movimento feminista que é contra o movimento trans, dizem que quer roubar protagonismo, enfim. Poderia facilmente ter caído nesses espaços e criar uma visão errada do feminismo, temê-lo, mas primeiro caí nos espaços de aproximação e isso foi muito importante”, contou.
Como resultado, hoje a escritora defende que “a luta das mulheres move o mundo”, na mesma medida, ou até mais, em que a luta de classes também move o mundo.
“Para todas as lutas, todas as revoluções, mesmo que à frente estivessem homens, por trás, e é duro dizer isso, mas por particularidades de determinadas épocas realmente era por trás, estavam as mulheres que permitiam que esses homens fossem revolucionários. Em outros episódios de luta, elas foram protagonistas também, como na Revolução Russa. As mulheres sempre foram centrais, são as que têm um dos maiores motivos para se juntar à luta: a capacidade de gestar vida te traz para a luta porque você se preocupa com o mundo que está deixando para o serzinho que você está gestando”, refletiu.
Por isso, diz, “a gente precisa trazer as mulheres para o centro da equação” das lutas de esquerda. Mais do que isso, Holanda defendeu que todos os movimentos caminhem juntos: feminista, LGBTQIA+, negro e indígena. Segundo ela, as lutas ainda estão muito divididas, o que impede o avanço da esquerda em geral.
“A gente tende jogar a culpa nos homens brancos cisgênero e heterossexuais que não ouviriam as nossas pautas. E é verdade que muitos dirigentes partidários da esquerda nos excluem, e isso tem que ser dito, mas a gente não pode deixar de fazer uma autocrítica. A gente se divide tanto em caixinhas, deixa de ir no movimento trans porque não é trans, ou não vai na marcha das mulheres porque não é mulher. Isso nos enfraquece”, argumentou.
A pauta ambiental é outra que deve ser incorporada, na opinião da assessora, já que “atravessa a todos”. “Chegamos a um ponto em que hoje em dia temos medo da chuva [por causa de inundações e deslizamentos, cada vez mais frequentes]”, diz.
Combate ao bolsonarismo
Para ela, a ascensão e o governo de Jair Bolsonaro representou um retrocesso em todas essas pautas, “a pura catástrofe, porque não é só que estão impedindo o avanço de direitos, mas estão tirando direitos antes consolidados como o do aborto em casos de estupro, por exemplo”.
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Escritora e educadora popular Lana de Holanda foi a entrevistada desta quinta do SUB40
Holanda, porém, destacou que Bolsonaro não é o único responsável pelo atual cenário. O bolsonarismo é um projeto de governo da direita compartilhado por uma representativa camada da sociedade.
“Evito avaliar Bolsonaro a partir de uma questão moral, de que ele seria, portanto, ruim, e o resto da direita, razoável. Não é o caso, é um projeto de governo, o bolsonarismo é a favor da morte, mas não dá para dizer que não há crueldade ou sadismo por parte dele em ver mulheres, LGBTs, a população negra e a população indígena sofrendo”, lamentou.
A escritora reforçou que o projeto de ódio ainda é uma ferramenta muito útil e que será usada mais uma vez pelo atual presidente para tentar se reeleger. É por isso que ela reiterou que a esquerda não deve separar as pautas e “defender todas as dignidades e formas de vida, é aproximando os temas que a gente luta contra a extrema direita”, tarefa vista pela assessora como urgente.
“Ganhar uma eleição, chegar ao governo não faz a revolução, mas é muito importante, ainda mais agora que a gente precisa barrar um movimento fascista que vem avançando muito”, frisou.