No programa SUB40 desta quinta-feira (10/06), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o deputado federal pelo Rio de Janeiro e pré-candidato pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) à Presidência da República nas eleições de 2022, Glauber Braga.
Segundo ele, sua pré-candidatura tem como objetivo oferecer um projeto de governo anticapitalista reforçando a necessidade de estratégias socialistas, mas “que comece a enfrentar o bolsonarismo hoje, colocando-se à disposição das lutas atuais”, e contribua para formar uma plataforma de esquerda com radicalidade política.
“Há a necessidade de uma disputa das camadas populares. Em paralelo, a maioria da população rejeita a agenda ultraliberal, então para fazer essa disputa precisamos nos afastar de alianças com a direita liberal que se fantasia de centro. Nossa prioridade é enfrentar Bolsonaro e derrotar o bolsonarismo e o neoliberalismo”, reforçou Braga.
Ele rejeitou, ainda, a possibilidade de dividir o voto da esquerda, caso sua candidatura se confirme, dizendo que ela viria para fortalecer o sentimento de derrotar Bolsonaro.
“E acho que o questionamento deve ser feito a outras forças políticas também. Existe uma juventude que vem mostrando a necessidade de uma radicalidade política que não só vença contra Bolsonaro, mas enfrente as estruturas que o mantém ali. Se tivermos outras candidaturas de esquerda que reforcem isso, a nossa perderia força por incorporação”, ponderou.
Braga ressaltou a necessidade de uma candidatura que estimule esse tipo de reflexão e comparou seu programa ao do Partido dos Trabalhadores. Reconheceu convergências entre ambos, principalmente no que diz respeito a criar um orçamento que priorize investimentos públicos em saúde e educação; e revogação das medidas de privatizações, “apesar de que nossa aposta para concretizar isso é realizar um referendo revogatório, apostamos numa política que não se submeta apenas a aspectos institucionais”.
Outros pontos de divergência dizem respeito, sobretudo, a reformas no sistema financeiro. O pré-candidato do PSOL considera necessária a estatização financeira dos bancos públicos, sem a possibilidade de abertura de capital da Caixa, especificamente; e auditoria da dívida pública, “que é um elemento que divide a esquerda”.
“E há um elemento novo, ainda não abordado pela esquerda, que queremos introduzir que é o projeto por pleno emprego, tendo o Estado como empregador em última instância. Devemos tratar o emprego não como um favor do mercado, mas como um direito garantido”, argumentou.
Apesar das eventuais divergências políticas, no entanto, Braga relembrou que ele nunca reforçou o discurso antipetista. Pelo contrário, protestou contra a prisão de Lula e confrontou a Operação Lava-Jato.
O deputado federal também afirmou que sua possível candidatura não pretende enfraquecer a esquerda ou colocar em risco uma possível eleição de Lula: “onde existe qualquer risco de vitória de Jair Bolsonaro, agiremos com responsabilidade política”.
De acordo com Braga, agiriam da mesma forma caso sua candidatura dividisse os votos da esquerda de forma a impedir uma eventual ida de Lula ao segundo turno, forçando uma disputa entre Bolsonaro e outro candidato de direita.
“A nossa responsabilidade política não deixa de existir. A prioridade é derrotar Bolsonaro”, enfatizou.
Ele agregou, ainda, que se o PSOL decidir formar uma chapa comum com o PT, apoiando a candidatura do ex-presidente, ele acompanharia: “Sou um militante disciplinado, que busca seguir o conjunto das decisões do PSOL”.
Derrotando Bolsonaro
Braga, natural de Nova Friburgo, filho de brizolistas com tradição no Partido Socialista Brasileiro – sua mãe foi prefeita da cidade durante oito anos e ele mesmo foi filiado ao partido até 2014, quando a legenda declarou apoio à eleição de Aécio Neves -, discorreu sobre os elementos que ainda sustentam Bolsonaro. A partir destes, ele refletiu sobre os passos para derrotar o presidente.
Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) foi o entrevistado desta quinta do SUB40
“A agenda ultraliberal, o aumento do estado policial penal punitivo e o fundamentalismo. Os dois últimos são os mais difíceis de disputar, porque entram na questão do moralismo e das crenças das pessoas. Temos maioria social na oposição à agenda neoliberal, então não discordo de unidade de esquerda para realizar essa disputa. Mas não podemos realizar alianças com a direita que quer implementar esse programa porque perdemos a capacidade e legitimidade de diálogo com o povo”, explicou.
É por isso que, no caso de se lançar candidato e eventualmente vencer as eleições, Braga afirmou que seu trabalho começaria antes mesmo da posse, para desmontar a agenda neoliberal: “No dia seguinte, percorreria o Brasil com comitês para realizar um referendo revogatório das medidas aprovadas por essa agenda”.
Seu governo também incluiria uma reforma agrária, enfrentando a política de destruição ambiental, e reforçaria o combate ao racismo, machismo LGBTfobia e capacitismo. “O que não é sectarismo. Na luta de classes, o fortalecimento da classe trabalhadora passa elo entendimento dos atravessamentos da sociedade brasileira”, sustentou.
Ele, contudo, não realizaria necessariamente um processo constituinte. Para Braga, precisaria haver a correlação de forças adequada, “para evitar uma articulação de direita”.
“Além disso, vejo como uma necessidade não ficar limitado aos aspectos institucionais da política, avançando em elementos fomentadores da mobilização popular, sem flertar com a direita”, reiterou.