Na edição desta quinta-feira (20/05) do programa SUB40, o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Luna Zarattini, cientista política, educadora popular, coordenadora da rede de cursinhos populares Elza Soares e dirigente do movimento Juventude em Disparada. De tradição política, Zarattini falou sobre a necessidade de ir às ruas lutar contra o bolsonarismo.
“Temos mais de um milhão de desempregados, fome voltando no país, não dá mais para conviver com esse governo. Bolsonaro tem uma base popular que vai defender qualquer coisa que ele falar, então precisamos mostrar que há um contraponto. Muita gente parou de culpar Bolsonaro e não dá mais para o povo morrer de fome e de covid. Precisamos ocupar as redes e as ruas. Não são coisas contraditórias”, argumentou Zarattini, comparando a situação brasileira com a colombiana.
Ao contrário da esquerda na Colômbia, a esquerda no Brasil optou por fazer resistência ao governo pela internet, com isolamento social, a fim de contrapor o discurso negacionista do presidente, como apontaram diversas lideranças progressistas.
Para Zarattini, seja à distância ou presencialmente, é necessário “voltar a dialogar com as grandes massas, principalmente as que não se posicionam, mas são levadas”. É nesse sentido que busca atuar o Disparada, segundo ela. “Queremos fazer a disputa da consciência política e ideológica, entendendo o que está acontecendo e quais são as necessidades da população diante da realidade”, diz.
Na opinião da dirigente, esse trabalho deve ser realizado de forma permanente, “para além das eleições. As eleições são o ponto alto de apresentação de projetos e saídas”, principalmente na visão de um movimento com horizontes socialistas. O movimento Juventude em Disparada forma parte do Partido dos Trabalhadores e, portanto, visa atrair jovens para o partido, “porque entendemos que o PT é o caminho e o instrumento para as mudanças radicais que a sociedade precisa”.
Por essa razão, a militante lamentou a burocratização exagerada do partido, iludido com o governo, como ela mesma definiu. “O PT foi fundamental para uma série de mudanças, que trouxe o povo para dentro do orçamento. Faltou trabalho de base, reformas mais incisivas, tratar de segurança pública, mas acho que o PT tem se reavaliado, buscado outros caminhos para fazer um enfrentamento nítido a Bolsonaro”, defendeu, por outro lado.
De acordo com Zarattini, essa mudança de atitude é essencial, sobretudo diante da mobilização da juventude de direita, “o que é preocupante num governo como este”.
Juventude de direita
“Existem muitos jovens de direita, figuras que foram protagonistas na derrubada de Dilma. A esquerda, na verdade, está na contracorrente. O pensamento hegemônico é o da direita”, relatou Zarattini.
Como exemplo está o Movimento Brasil Livre, liderado pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP). A cientista política explicou que grupos como o MBL e seus participantes, como Arthur do Val – o “Mamãe Falei” (PATRI-SP) -, além do próprio dirigente, “tentavam disputar a narrativa, mas, principalmente, buscavam deslegitimar as entidades existentes”. Esse discurso da antipolítica se contrapunha à direita tradicional, tornando-se muito atraente para jovens que viam a política e os políticos como corruptos.
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Luna Zarattini foi a entrevistada desta quinta-feira (20/05) do SUB40
“Mas acho que o MBL perdeu muita força, justamente porque apoiou o golpe e a eleição de Bolsonaro. Quem foi junto com Bolsonaro está afundando. Então acredito que haverá uma grande reorganização de partidos para essas eleições”, ressaltou.
Isso se deve, também, ao trabalho de base que a esquerda vem buscando fazer. Zarattini coordena a rede de cursinhos populares Elza Soares, nas periferias do estado de São Paulo. “Lá fazemos o debate político, tratamos das necessidades das pessoas, organizamos atividades culturais, falamos da importância de fazer a luta organizada”, contou.
‘A juventude quer votar por primeira vez em Lula’
Zarattini espera que todo esse trabalho, não apenas realizado pela juventude petista, mas por ações como a campanha de solidariedade contra a fome do PT, seja revertida em votos.
“A busca pelo PT aumentou muito. A juventude quer votar por primeira vez em Lula. Ele é a possibilidade de derrubar Bolsonaro, mas precisamos trabalhar para que o partido seja um espaço cada vez com mais juventude. Precisa haver renovação etária, a juventude tem que estar ocupando os espaços do PT, os espaços de transformação”, refletiu a dirigente juvenil.
Para o pleito de 2022, Zarattini aposta numa frente de esquerda, que possa se eleger e combater os problemas “pela raiz”. Para construir essa frente, ela falou sobre a necessidade de um diálogo e construção diárias até o momento de lançar candidaturas, sobretudo a nível estadual. Em São Paulo, Guilherme Boulos, do PSOL, já anunciou que disponibiliza seu nome para disputar o cargo no ano que vem.
“A perspectiva de ganhar o governo do estado é incrível e excelente. Só vivi sob governos do PSDB, com privatizações, ataques à educação, trensalão [esquema de corrupção no governo estadual de SP em que empresas fizeram um cartel para fraudar licitações do Metrô]. Não podemos mais ter apenas essa alternativa”, reforçou.