O capitão Carlos Lamarca (1937-1971), filho de um sapateiro e de uma dona de casa, de uma família moradora no Morro de São Carlos, no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, cursou o equivalente ao ensino médio num colégio religioso. Seguindo uma estratégia de sobrevivência comum entre jovens das periferias, conseguiu ingressar na Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre (RS).
No ano em que completou 22 anos, em 1955, transferiu-se para a Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ). Em 1960, era um aspirante a oficial. Em 1967, seria promovido a capitão.
Descontente com os rumos tomados pelo país conduzido pelos militares e lotado no 4º Regimento de Infantaria de Quitaúna, em Osasco (SP), cidade com um fortíssimo movimento operário e estudantil, Lamarca decide abandonar a carreira militar e ingressar na luta armada contra o regime, tornando-se o líder militar de uma das principais forças de resistência guerrilheira à ditadura, a Vanguarda Popular Revolucionária.
Foi perseguido implacavelmente e acabou executado em Ipupiara, na Bahia, em 17 de setembro de 1971, aos 34 anos. A ditadura também foi implacável com sua companheira Iara Iavelberg, morta em Salvador, onde conseguira se refugiar.
Com Lamarca, o baralho Super-Revolucionários ganha mais uma carta. Já foram publicados cards de Inês Etienne Romeu, Walter Benjamin, Emma Goldman, Florestan Fernandes, Pagu, Hugo Chávez, Rosa Parks, Vladimir Lênin, Clara Zetkin, Ernesto Che Guevara, Antonio Gramsci, Fidel Castro, Liudmila Pavlichenko, Luís Carlos Prestes, Frida Kahlo, Alexandra Kollontai, Bela Kun, Nelson Mandela, Mao Zedong, Simone de Beauvoir, Stálin, Marina Ginestà, Ho Chi Minh, Leon Trotsky, Olga Benario, Karl Marx, Salvador Allende, Tina Modotti, Carlos Marighella, Rosa Luxemburgo e Franz Fanon.
Com texto e concepção de Haroldo Ceravolo Sereza e desenho do artista plástico Fernando Carvall, essas cartas, numa análise séria, mas sem perder o humor jamais, atribuem “notas” à atuação desses grandes nomes da luta por um mundo mais justo e solidário.
Assim que alcançarmos um número suficiente de cartas, vamos montar um jogo inspirado no conhecido Super Trunfo e publicar um livro com os cards e informações sobre esses heróis da resistência e da transformação.
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REBELDIA: 8
Distante formalmente dos movimentos políticos, dois episódios dos primeiros anos de carreira militar de Lamarca mostram seu caráter crítico em relação à realidade. Quando, em 1962, integrou, por 18 meses, o Batalhão Suez, nas Forças de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas) em Gaza, na Palestina, escreveu numa carta a amigos que, se precisasse entrar em combate, o faria do lado dos árabes, dada a situação de crueldade que enfrentavam. Em 1964, já servindo a 6ª Companhia de Polícia do Exército em Porto Alegre, permitiu a fuga de um capitão brizolista que estava preso sob sua guarda.
DISCIPLINA: 9
A experiência militar do capitão Lamarca, apoiada na participação de outros militares, sobretudo de Onofre Pinto, foi fundamental para que a Vanguarda Popular Revolucionária alcançasse êxitos importantes em suas ações urbanas e rurais. A ação mais importante da VPR foi o sequestro do cônsul suíço Giovanni Bucher, que resultou na liberação de 70 presos políticos pela ditadura.
TEORIA: 6
Exímio atirador e homem de ação, Lamarca deixou um legado prático de resistência. Planejou e executou ações complexas, como a fuga de Quitaúna, que precisou ser antecipada em três dias, em 24 de janeiro de 1969, com o sargento Darcy Rodrigues, o cabo José Mariani e o soldado Roberto Zanirato, ele fugiu do Quitaúna numa Kombi, levando consigo 63 fuzis FAL, três metralhadoras leves e alguma munição, e a fuga do cerco no Vale do Ribeira, no interior de São Paulo, em 1970, quando 2.500 homens do Exército foram mobilizados para perseguir pouco mais de uma dezena de guerrilheiros.
POLÍTICA: 7
Numa época de forte repressão e de desmonte à base de assassinatos e torturas das organizações consideradas clandestinas, Lamarca mostrou-se capaz de estabelecer laços e de participar de processos de unificação de grupos políticos. Durante o período em que Lamarca foi um dos dirigentes da Vanguarda Popular Revolucionária, o grupo se juntou às organizações Colina (Comando de Libertação Nacional) e União Operária para formar a VAR-Palmares. Em 1971, diante das investidas da ditadura, Lamarca passa a integrar o MR-8, organização original de Iara Iavelberg.
COMBATIVIDADE: 9
Lamarca deixou incríveis lições militares e de resistência de focos guerrilheiros, ainda que a luta armada tenha fracassado na sua tentativa de mobilizar a população em geral contra a ditadura. O fracasso da luta armada no Brasil não elimina o heroísmo de combatentes como Lamarca, que, junto com Luís Carlos Prestes, entrou para o panteão dos militares rebeldes brasileiros, que não se conformam em servir de bucha de canhão para a classe dominante.
INFLUÊNCIA: 7
Lamarca encerrava seus textos com a palavra de ordem “Ousar lutar, ousar vencer”, síntese de sua ação de resistência. Ainda que derrotadas, a VPR e a VAR-Palmares marcaram a luta contra a ditadura. Em 2007, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça promoveu o capitão Carlos Lamarca a coronel, mas a decisão foi anulada em primeira instância pela Justiça Federal no Rio de Janeiro. Os dois episódios mostram como o nome de Lamarca permanece vivo, alimentando a luta democrática e incomodando os setores mais reacionários do poder no país.
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