“Quem matou Marielle Franco? Quem mandou matá-la?” Essas perguntas, até hoje não respondidas a contento pelos responsáveis pelas investigações, marcaram a história recente brasileira.
Marielle Franco (1979-2018) foi assassinada em 14 de março de 2018 no Rio de Janeiro, após uma atividade política. Na ação de extermínio, também foi morto seu motorista, Anderson Gomes. Em 12 de março de 2019, a Polícia Civil prendeu o policial reformado Ronnie Lessa, acusado de atirar contra a vereadora, e o ex-militar Élcio Vieira de Queiroz, que, segundo a polícia, dirigia o carro que perseguia Marielle.
A principal suspeita é que o crime tenha sido cometido pelo Escritório do Crime, milícia que atua no Rio de Janeiro e que tinha como comandante o ex-integrante do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) Adriano da Nóbrega. Nóbrega, morto numa ação policial na Bahia em 2020, tinha conhecidas relações com o hoje senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro. Por proposta de Flávio Bolsonaro em 2005, então deputado estadual, Nóbrega recebeu a Medalha Tiradentes, mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Marielle, negra, mulher, militante LGBT e socialista, vereadora pelo PSOL, soube unir todas as lutas centrais para a emancipação do povo brasileiro neste primeiro quartel do século 21. Essa trajetória é hoje uma referência para os partidos de esquerda brasileiros.
Socióloga e mestre em administração pública, Marielle representava também o resultado prático de lutas do movimento das favelas e do povo negro e das ações afirmativas promovidas pelos governos progressistas no Brasil de 2003 a 2016.
Essa carta dedicada a Marielle no baralho Super-Revolucionários é uma forma de contribuir para manter sua chama de luta viva, uma pequena homenagem diante de um nome que ganhou o mundo e que passou a representar tantas frentes de defesa da igualdade.
Super-Revolucionários é um projeto que tem texto e concepção de Haroldo Ceravolo Sereza e desenho do artista plástico Fernando Carvall. Essas cartas atribuem “notas” à atuação desses grandes nomes da luta por um mundo mais justo e solidário. Mais que um jogo, no entanto, essas cartas são uma forma de apresentar às novas gerações, de modo lúdico e didático, vidas que nos ensinam a lutar.
As avaliações são provisórias e estão sujeitas a modificação.
REBELDIA: 7
A militância de Marielle Franco em defesa dos direitos humanos começou em 2000, depois que uma amiga foi morta durante uma troca de tiros entre policiais e traficantes na Maré. Em 2004, militando pela causa LGBT, iniciou um relacionamento amoroso com Mônica Benício, com quem vivia quando foi morta. Em 2006, tornou-se assessora parlamentar de Marcelo Freixo (PSOL), tendo sido responsável pelo acompanhamento de algumas de suas mais importantes ações como deputado estadual.
DISCIPLINA: 8
A disciplina de Marielle pode ser medida pelo empenho em superar os limites impostos aos negros, mulheres e pobres em ter acesso à educação. Marielle começou a trabalhar aos 11 anos, ajudando os pais como camelô. Foi dançarina da equipe de funk Furacão 2000 e aos 18 conseguiu um emprego de educadora infantil em uma creche. Em 2002, começou a fazer Ciências Sociais na PUC-RJ, onde se formou com uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni), instituído no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
TEORIA: 7
Já formada em Ciências Sociais, Marielle tornou-se mestre pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com a dissertação UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Os debates que Marielle promoveu sobre questões de segurança pública, da defesa dos direitos das mulheres e da comunidade LGBT e da população negra fizeram de Marielle uma referência teórica e prática para a ação política, sobretudo entre os jovens.
POLÍTICA: 8
Antes de ser eleita vereadora, Marielle foi assessora parlamentar de Marcelo Freixo (PSOL) por dez anos. O respeito que conquistou de diferentes movimentos e partidos progressistas por sua coragem e dedicação explica o sucesso de sua eleição em 2016. Marielle era uma possível candidata ao Senado pelo PSOL do Rio de Janeiro.
COMBATIVIDADE: 10
A atuação em diversas frentes em defesa dos direitos humanos levou Marielle a ser eleita vereadora em 2016 com 46 mil votos. Na Câmara, presidiu a Comissão de Defesa da Mulher e foi escolhida, em 28 de fevereiro de 2018, para relatar uma comissão de vereadores encarregada de monitorar a intervenção federal no Rio de Janeiro. Menos de um mês depois dessa escolha, ela seria morta.
INFLUÊNCIA: 9
A luta de Marielle e seu assassinato brutal marcaram a luta política brasileira e repercutiram internacionalmente. Ela tornou-se uma referência para todos os partidos de esquerda, e não apenas no Brasil. A cidade de Paris, em uma das muitas homenagens que fez à vereadora brasileira, deu seu nome a um jardim. O Estado do Rio transformou o 14 de março no “Dia Marielle Franco – Dia de Luta contra o genocídio da Mulher Negra”. E o Congresso Nacional concedeu a ela, in memoriam, o Diploma Bertha Lutz, concedido a mulheres que defenderam os direitos da mulher.