Destino para turistas interessados em seu passado que remonta à Idade Média, Tallinn acumula uma série de títulos, como a cidade mais limpa e o centro medieval mais bem preservado da Europa. Com níveis de desenvolvimento humano impecáveis, a pequena capital da Estônia foi anexada ao bloco europeu em 2004 e, há três anos, o país faz parte da zona do euro. Desde fevereiro de 2013, Tallinn se tornou a primeira capital europeia com transporte público gratuito para todos os seus habitantes. Contudo, ela também esconde uma história intrigante pós-Idade Média: as influências do complexo passado soviético.
Patrícia Dichtchekenian/Opera Mundi
Vista de Tallinn, capital da Estônia
Localizada no golfo da Finlândia e banhada pelo Mar Báltico, Tallinn está situada a apenas 80 km de Helsinque, capital da Finlândia. Como a Estônia faz fronteira com a Rússia e a Letônia, uma das maneiras mais interessantes de se chegar à capital é por São Petersburgo. Para turistas de orçamento apertado, a viagem de ônibus dura cerca de 7 horas e custa a partir de € 3 (cerca de R$9,50) em empresas como a Simple Express. Outra opção é conhecer Tallinn por meio de cruzeiros que fazem trajetos pela Escandinávia e geralmente param lá também.
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Sem dúvidas, o centro histórico é a principal atração da capital. A principal característica é a presença de muralhas e de torres, datadas a partir do século XIV, que evidenciam a necessidade dos estonianos de se proteger contra invasões. Devido ao posicionamento geográfico privilegiado, o país foi ocupado por uma série de povos ao longo da Idade Média: de dinamarqueses a alemães, seguido por russos e suecos. Por conta disso, acredita-se que o nome Tallinn venha da expressão “Taani linn”, que significa “cidade dinamarquesa”, em estoniano.
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Raekoja plats, no centro de Tallinn
A praça mais icônica da cidade é a Raekoja plats. Lá, é curioso encontrar os habitantes vestidos com trajes medievais, tentando divulgar alguma loja de souvenir ou um restaurante típico das redondezas, como o III Draakon, que é a melhor pedida. Com decoração 100% medieval, a taverna vende tortas e sopas vindas de um grande caldeirão de barro a preço de € 1 (cerca de R$ 3,20) cada. Nos bares, as cervejas artesanais são servidas em jarros também de barro. Além de remeter a Asterix e Obelix, elas têm sabores exóticos, como mel, canela e ervas, e são deliciosas.
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Patrícia Dichtchekenian/Opera Mundi
Muralha que faz parte da paisagem de Tallinn desde o século XIV
A verdade é que a Estônia não é o mais religioso dos países. A principal é o luteranismo, mas não é tão representativo assim para os cidadãos. No entanto, há uma igreja que vale a pena conhecer e está localizada na parte alta da cidade velha: a catedral cristã ortodoxa Alexandre Nevsky, elaborada sob os moldes russos, isto é, iconoclasta e ostensiva. Não muito distante dali está situado o Museu da Ocupação. A instituição é parada obrigatória para quem quer conhecer um pouco mais sobre o período soviético do país, que durou de 1940 até a dissolução da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), em 1991.
Influência russa
Apesar da independência da Estônia já ter sido declarada há mais de 20 anos, cerca de 25% da população é proveniente da terra de Putin e o russo é a segunda língua do país. De acordo com locais, o idioma é requisito básico para os estonianos conseguirem emprego. Para compreender o significado dos 51 anos de ocupação russa, Tallinn apresenta outros pontos importantes a ser visitados.
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Um deles é o Sokos Viru, um hotel localizado fora da cidade velha que serviu como centro de monitoramento do KGB, principal organização de serviços secretos da URSS. No período soviético, o 23º andar do prédio era utilizado como quartel para espionar sobretudo expatriados estonianos que se hospedavam no local. Na entrada do hotel, podem-se comprar ingressos para visitas monitoradas aos quartos regidos pelo KGB.
Patrícia Dichtchekenian/Opera Mundi
Forte construído por Nicolau I da Rússia em 1828, que virou uma prisão; hoje, o “Patarei” é aberto a visitação
Além de histórias bizarras sobre as escutas, conta-se que a organização proibia uma série de produtos – como chicletes, uísque, a revista “Playboy”, jornais finlandeses e a bíblia – censurados por remeter ao sistema capitalista e ocidental. Apesar de o KGB ter abandonado o edifício em 1991, os quartos secretos só foram descobertos em 1994. Hoje, ironicamente, o hotel está conectado a um shopping.
No âmbito artístico, o museu Kumu é uma ótima escolha para conhecer as produções do leste europeu a partir de 1945. Quadros de Lênin e o surrealismo estoniano são grandes destaques da instituição que, em 2008, ganhou o título de museu europeu do ano. Outra boa opção para conhecer a influência russa em Tallinn é visitar um presídio soviético desativado na região norte da cidade. A prisão chamada de Patarei foi desativada apenas em 2005 e fica localizada às margens do Mar Báltico, o que tem um charme especial. Há tours especializados que levam até lá.