Um café inaugurado em março no bairro de Shoreditch, zona leste de Londres, se tornou um dos locais mais disputados para tomar o tradicional “chá das cinco” na capital britânica. Mas o motivo não é a variedade dos chás servidos ou a qualidade da comida no cardápio. O que tornou o Lady Dinah’s Cat Emporium um dos espaços mais cultuados da cidade em 2014 é um detalhe revelado no nome do local: os gatos. No estabelecimento, vivem atualmente 11 felinos (a capacidade é para 12 bichos), que dormem e brincam ao redor dos fregueses.
A ideia, inédita no Reino Unido, foi inspirada no Japão, onde estima-se que existam cerca de cem “cat cafés” apenas em Tóquio. Para abrir o espaço, as proprietárias fizeram uma campanha na internet pedindo doações, mas a resposta ao vídeo promocional foi surpreendente. Em apenas dois meses, as doações online chegaram a £109 mil (mais de R$400 mil).
Divulgação/Lady Dinah's Cat Emporium
Com o sucesso da casa, espera-se a abertura de um local semelhante, para cachorros, até o final deste ano
“Os ingleses adoram gatos, então a gente sempre imaginou que tinha tudo pra dar certo. A ideia surgiu da Ásia, onde os ‘cat cafés’ surgiram há cerca de cinco anos, especialmente em Tóquio. Mas a resposta (à campanha) realmente superou todas as nossas expectativas”, admitiu Lauren Pears, uma das proprietárias, a Opera Mundi.
O local mal inaugurou e já tem as reservas esgotadas até pelo menos setembro deste ano. Somente nas primeiras quatro horas após a inauguração, em 1º de março, foram feitas mais de três mil reservas.
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A reserva custa £5 (cerca de R$ 18) e, sem ela, só é possível observar a vitrine – onde os gatos se revezam para cochilar – ou pedir algo para viagem no balcão, longe dos “anfitriões”. O sistema foi adotado porque o espaço comporta apenas de 30 pessoas por vez, “para não cansar os gatos”. Cada reserva garante uma sessão de duas horas no local, mas o consumo é cobrado a parte.
Em troca das contribuições em dinheiro, os 1.681 doadores ganharam um “chá com muffin” no local. Por isso, nas seis primeiras semanas era impossível conseguir uma vaga. “Achamos justo que os primeiros a verem o resultado fossem os doadores”, afirmou Lauren.
Divulgação/Lady Dinah's Cat Emporium
Quem não faz reserva, só pode fotografar os gatos do lado de fora e fazer pedidos para viagem
A solidão dos londrinos e a “saudade” de ter um animal de estimação em casa é o ingrediente do sucesso do Lady Dinah’s. A própria empresária revelou que não possuía animais de estimação e que percebeu o potencial do negócio ao se deparar com um “cat café” no Japão. A curiosidade que um espaço como esse desperta também contribuiu.
De fato, o que os fregueses menos se preocupam é com a qualidade dos chás ou bolinhos do menu. “Em Londres é difícil ter animal de estimação em casa, porque a gente vive na rua, trabalhando. Então aqui dá para curtir um pouco os gatinhos”, contou uma das clientes.
Regra dos moradores
Os clientes são bem-vindos, mas quem manda no local são os gatos. Logo na entrada, os visitantes são direcionados a uma pequena sala, onde devem lavar as mãos (para evitar a transmissão de doenças para os felinos) e ouvir a lista de regras.
“É proibido pegar os animais no colo e acordá-los. Eles não são brinquedos. As pessoas podem acariciá-los e brincar, mas só se eles quiserem” explicou a proprietária. Também é proibido levar gatos de fora, para evitar a transmissão de doenças entre os animais. E crianças com menos de 8 anos de idade também não são bem-vindas. “Os gatos têm medo de crianças pequenas, principalmente o Romeu (um dos moradores)”, diz a regra explícita na página do café.
Para manter o espaço limpo, são feitas três grandes faxinas por dia e há frascos de álcool em gel em todas as mesas. Além de serem supervisionados por um veterinário, os gatos também têm uma espécie de babá, que monitora a atividade e limpa sujeiras “emergenciais”. Mas não se engane: gatos soltam pelo e quem tem alergia não deve se aventurar por lá. O próprio café avisa que é proibido fornecer medicamentos anti-alérgicos e que, em caso de reação, apenas encaminha os clientes a uma farmácia ou médico.
Divulgação/Lady Dinah's Cat Emporium
Clientes devem atender a uma série de requisitos para entrar no café: crianças de até 8 anos não são bem-vindas
Os 11 gatos – Mue (mãe de sete moradores), Adamska, Artemis, Biscuit, Carbonelle, Donnie, Indiana, Loki, Petra, Romeo e Wookie – foram selecionados com o apoio de uma organização não-governamental de defesa dos animais. Eles foram escolhidos de acordo com o nível de “sociabilidade”, ou seja: só foram escolhidos gatos que gostam de gente. Um deles, porém, pertence à principal doadora do café, que deu £20 mil (cerca de R$ 76 mil) ao projeto e, com isso, se tornou cliente vip.
Após o sucesso do café, Londres aguarda a chegada de espaços dedicados a quem gosta mais de cachorros que de gatos. Na capital britânica, já existem vários cafés “dog friendly”, onde os bichos são bem-vindos, mas nada ainda no modelo adotado pelo Lady Dinah’s. A expectativa é que o primeiro “dog café” londrino seja aberto ainda neste ano.