O governo de Israel está bloqueando a continuidade de uma investigação realizada pelas Nações Unidas (ONU) sobre denúncias de supostos crimes sexuais do Hamas para impedir uma apuração dos seus próprios abusos contra os palestinos.
Isso ocorre porque, ao pedir permissão para investigar os crimes do Hamas, a responsável pela área de Violência Sexual em Conflitos na ONU, Pramila Patten, solicitou averiguar também as denúncias de abusos similares por parte dos soldados israelenses.
Para isso, o escritório de Patten pediu acesso aos centros de detenção israelenses. Porém, o regime sionista de Benjamin Netanyahu recusou.
Caso a investigação de Patten fosse permitida por Tel Aviv, para apurar os relatos denunciados e encontrasse evidências de que o grupo palestino cometeu crimes sexuais, isso poderia resultar na inclusão do Hamas na lista da ONU de organizações suspeitas de violência sexual em zonas de conflito.
No entanto, segundo o jornal israelense Haaretz, um negativa de Israel poderia sair pela culatra, e o país ser inserido na lista e não o grupo palestino.
Ainda de acordo com o periódico, Patten escreveu uma carta ao governo israelense recomendando que fosse permitido aos órgãos da ONU acesso para que pudessem realizar investigações. No entanto, foi negado.
“O escritório está explorando uma futura missão à região após receber um convite da Autoridade Palestina sobre relatos de violência sexual contra palestinos relacionada ao conflito, bem como o contato do governo de Israel para uma visita de acompanhamento sobre os ataques de 7 de outubro e suas consequências”, afirmou o escritório de Patten.
“Oportunidade perdida de descobrir a verdade”
Ruth Halperin-Kaddari, chefe do Rackman Centro, que visa melhorar o status legal das mulheres de Israel, avalia que a recusa de seu país é um erro.
“É uma oportunidade perdida de descobrir a verdade e dar reconhecimento às vítimas”, disse ela, acrescentando que a cooperação oferece uma chance a Israel de mostrar que quer investigar as acusações que pesam contra suas Forças Armadas.
As duas organizações de mulheres citadas e o Hadassah, uma ONG de mulheres judias norte-americanas, pressionam a ONU para incluir o Hamas na lista negra. Patten responde que diversos grupos participaram do ataque de outubro e que é preciso investigar mais para identificar os responsáveis pelos crimes sexuais.
Israel sempre restringe acesso
Um relatório da Comissão Independente de Inquérito sobre o Território Palestino Ocupado, também da ONU, mencionava violência de gênero atribuída ao “Hamas e outros grupos armados”. Porém, também destacava que não tinha recebido acesso direto a testemunhos e provas que pudessem ter reforçado essas conclusões, já que Israel restringiu a investigação.
A falta de cooperação de Israel com organismos internacionais que investigam a violência é um dos principais problemas apontados esta semana pelo relatório conjunto da Rede de Mulheres de Israel e pelo Coletivo de Documentação e Pesquisa sobre Mulheres e Guerra.