Quinta-feira, 15 de maio de 2025
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O presidente argentino Javier Milei, que foi um crítico feroz do papa Francisco durante sua campanha presidencial, publicou uma nota de pesar na plataforma X nesta segunda-feira (21/04).

“ADEUS. É com profunda tristeza que soube nesta triste manhã que o Papa Francisco, Jorge Bergoglio, faleceu hoje e agora descansa em paz. Apesar das diferenças que hoje parecem pequenas, ter podido conhecê-lo em sua bondade e sabedoria foi uma verdadeira honra para mim. Como Presidente, como argentino e, fundamentalmente, como homem de fé, despeço-me do Santo Padre e estou ao lado de todos nós que hoje lidamos com esta triste notícia”, escreveu.

Durante sua campanha presidencial, em 2023, Milei criticou duramente o papa Francisco, chegando a chamá-lo de “representante do mal na terra” e de ser um papa que “promove o comunismo e uma agenda política globalista que empobrece os povos”.

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Após ser eleito, o belicismo do argentino diminuiu e ele chegou a encontrar o Papa Francisco, cordialmente, em fevereiro de 2024, quando o convidou a visitar o país.

Presidente da Argentina afirma ter sido uma honra conhecer o pontífice, apesar de divergências
Fórum Social Econômico / Wikimedia Commons

Nota oficial

Minutos antes da mensagem de Milei, o gabinete da Presidência da Argentina havia publicado um comunicado oficial lamentando a morte do pontífice nascido em Buenos Aires em 1936, o primeiro jesuíta e latino-americano a chegar no comando da Igreja Católica.

“A república Argentina, um país de larga tradição católica e terra do Papa Francisco, lamenta profundamente a partida de Sua Santidade e envia suas condolências à família Bergoglio. O presidente da nação acompanha esse triste momento a todos aqueles que professoram a fé católica e que encontraram no Sumo Pontíficie um líder espiritual”, diz o texto, ao acrescentar:

“O presidente Javier Milei destaca a incansável luta do papado de Francisco para proteger a vida desde a concepção, promover o diálogo inter-religioso e aproximar a vida espiritual e virtuosa dos mais jovens. Além disso, ele destaca o seu desejo de levar a austeridade à Santa Sé por meio de seus gestos pastorais”.

Vale destacar que a nota prioriza muito mais os valores de Milei do que os de Bergoglio, o primeiro argentino a liderar o Vaticano a partir de 2013. Em momento algum, Francisco fez do seu papado “uma luta incansável” contra o aborto, como quer Milei.

Sua luta incansável, e daí as críticas ferinas do líder da extrema-direita argentina durante sua campanha, foi justamente contra o neoliberalismo e o falácia das políticas de austeridade que o governo argentino encarna. Austeridade, aliás, é uma palavra que a nota do governo argentino usa em outro contexto, obviamente, mas de forma esperta.

Vale lembrar que, em sua passagem pelo Brasil, em 2016, durante o III Encontro Mundial dos Movimentos Populares, o Papa Francisco afirmou que ‘toda a doutrina social da Igreja e o magistério de [seus] predecessores se rebela contra o ídolo do dinheiro que reina ao invés de servir, tiraniza e aterroriza a humanidade’.

Naquele momento, em que a palavra “austeridade” ganhava intenso debate na imprensa nacional e internacional, ele criticou abertamente o neoliberalismo, afirmando que, em nome de uma “austeridade” se provoca ajustes que acabam sendo prejudiciais.

O que disseram os ex-presidentes da Argentina

Em suas redes sociais, o ex-presidente argentino Maurício Macri lembrou de seu último encontro com o papa Francisco:

Juliana, Agustina, Valentina e Antonia, que na época tinha 5 anos, me acompanharam ao meu último encontro com o Papa Francisco. Quando Antônia viu Francisco, ela começou a lhe fazer perguntas sem parar. Francisco respondeu a todos: “Quantos anos vocês têm? O que vocês comem à noite? Vocês têm uma mãe e um pai como eu?” E o mais engraçado de tudo: “Você dorme com essas roupas?” Francisco ficou divertido e muito carinhoso ao responder. Tenho a imagem daquele dia e também a de Francisco como um homem religioso de estatura inigualável, um político severo e, acima de tudo, um bom pastor. Sua vida foi marcada pelos ensinamentos que ele transmitiu por meio de suas palavras, seu comprometimento e suas ações. Ele mesmo, com sua carreira, é uma lição para todos. Foi uma honra incomparável conhecê-lo. Para mim, seu nome sempre merecerá admiração e respeito.

O ex-presidente Alberto Fernández também se pronunciou:

A Igreja tinha que estar do lado dos despossuídos, dos marginalizados e dos perseguidos. A Igreja teve que abraçar aqueles que foram condenados a serem minorias ou perseguidos em suas terras. A Igreja teve que levantar a voz contra aqueles que acumulam riquezas e distribuem a pobreza. No entanto, a Igreja só foi capaz de fazê-lo quando Francisco, o jesuíta, se tornou Papa. Precisamente na Páscoa nos deixou o melhor discípulo de Jesus nesta maldita modernidade do narcisismo. Nós, argentinos, devemos a ele o quanto ele silenciosamente fez por nós. Francisco, o maior líder moral da humanidade, se foi. Eu lamento por ele em silêncio. Os esquecidos desta terra devem estar fazendo isso também”, afirmou.

Já a ex-presidenta argentina Cristina Kirchner contou sobre a primeira vez que viu Francisco:

“A primeira vez que estive com Francisco em março de 2013, disse-lhe que, como Megafón, batalhas celestiais o aguardavam. Ele riu muito e me disse ‘É meu livro favorito, eu amo Marechal’. Concordamos que ‘Megafón, o la guerra’, literatura emblemática de Leopoldo Marechal, era um dos nossos romances favoritos. Essa foi a primeira vez que o encontrei como papa. Ele era o rosto de uma Igreja mais humana, com os pés no chão sem deixar de olhar para o céu. Vamos sentir sua falta Francisco, a tristeza que temos é infinita”, disse.

Sete Dias de Luto Nacional

O governo argentino anunciou nesta segunda-feira que decretará sete dias de luto nacional pela morte do Papa Francisco. Às 8h30, horário local (11h30 GMT), o arcebispo de Buenos Aires, Jorge García Cuerva, celebrará uma missa na Catedral Metropolitana.

Bergoglio, que nasceu em 17 de dezembro de 1936, na capital argentina, realizou grande parte de seu trabalho pastoral na Catedral Metropolitana de Buenos Aires.