Atualizada às 15h36
Morreu nesta terça-feira (19/04), aos 97 anos de idade, o ex-presidente chileno Patricio Aylwin (1990-1994). Alywin marcou a história no Chile por ser o primeiro presidente eleito no país após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Agência Efe (1999)
Patricio Aylwin morreu nesta terça-feira, aos 97 anos de idade
A biografia de Aylwin foi marcada por momentos distintos, que se dividem em sua postura antes e depois do golpe de Estado de setembro de 1973. Antes do golpe, ele foi um dos mais fortes defensores da destituição do presidente socialista Salvador Allende (1973-1990), sendo um dos que justificou o golpe, semanas depois.
Após a ditadura, em seu mandato como presidente, Aylwin enfrentou os primeiros e mais conturbados anos da transição democrática no Chile, tendo o ex-ditador Augusto Pinochet como comandante-em-chefe das Forças Armadas – condição imposta pelos militares no acordo realizado com as forças políticas do país.
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O então presidente Patricio Aylwin discursando no Parlamento, nos anos 90
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Também foi o seu governo que impulsou, ainda em 1990, a primeira comissão da verdade realizada no país – a investigação dos crimes da ditadura a partir dos arquivos da Paróquia da Solidariedade, e que produziu o chamado Informe Rettig. A comissão da verdade foi o fato que mais marcou o seu mandato, já que foi criticada pelas organizações de direitos humanos e, especialmente pelos militares.
Durante os quatro anos de mandato, Aylwin sofreu duas ameaças de golpe organizadas por Pinochet, uma delas como represália à ideia de investigar os crimes da ditadura.
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Em foto de 1972, o então presidente Salvador Allende (esq.) e Patricio Aylwin
A presidente chilena Michelle Bachelet foi uma das primeiras a visitar a casa da família após a divulgação da notícia, na manhã desta terça-feira. “A presidência de Aylwin marcou a história do Chile pela coragem de ter pedido perdão ao país, em nome do Estado chileno, pelos crimes da ditadura, o que fez assim que assumiu o governo. Não todos os países que enfrentaram ditaduras recentes tiveram um gesto como esse logo no primeiro minuto após a recuperação da democracia”, afirmou Bachelet. A presidente também anunciou que foi decretado luto nacional de três dias.
Além de Bachelet, também compareceram às cerimônias de despedida, que durante esta terça-feira serão reservadas à família e a figuras mais próximas, os ex-presidentes Eduardo Frei Ruiz-Tagle (1994-2000) e Sebastián Piñera (2010-2013). Os protocolos referentes ao funeral com honras de chefe de Estado serão iniciados a partir desta quarta-feira (20/4), e se realizarão no prédio do antigo Congresso Nacional, no centro de Santiago.
Uma biografia dividida pelo golpe
A participação de Aylwin na história política do Chile se iniciou em 1957, quando foi um dos fundadores do Partido Democrata Cristão (PDC) e um dos primeiros senadores eleitos pelo partido, sete anos depois.
Como senador, Aylwin foi o principal líder parlamentar do governo do democrata-cristão Eduardo Frei Montalva (1964-1970), sendo posteriormente um dos mais férreos opositores ao seu sucessor, o socialista Salvador Allende (1970-1973). Durante o governo socialista da Unidade Popular, Aylwin foi presidente do Senado (entre 1971 e 1972) e manteve um discurso de enérgica oposição a Allende, sendo um dos que democratas cristãos que defenderam a ação dos militares contra o governo em 1973.
Entre as muitas polêmicas de sua trajetória está uma entrevista realizada dias após o golpe de Estado, onde ele, já como senador destituído pelo fechamento do Congresso, justifica a ação dos militares, chama o golpe de “pronunciamento” e acusa o governo de Allende de organizar milícias visando realizar um autogolpe, e que “as Forças Armadas simplesmente se anteciparam a esse risco (de autogolpe) para salvar o país de cair numa guerra civil ou numa tirania comunista.”
A presidente Bachelet foi nesta terça-feira à casa da família de Aylwin prestar solidariedade