O resultado apresentado como oficial do plebiscito realizado neste domingo (26/02) na Síria, a respeito da nova Constituição, está sendo questionado pela comunidade internacional. Autoridades norte-americanas e a Organização das Nações Unidas colocaram em xeque a legitimidade da realização de uma consulta popular meio aos conflitos que acontecem no país há quase um ano. De acordo com as informações divulgadas, 89,4% dos eleitores votaram a favor do novo texto.
“O referendo constitucional foi um ato absolutamente cínico do regime de Bashar al Assad, que apresentou uma proposta ridícula ao seu povo”, considerou o governo dos Estados Unidos.
Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, disse que as eleições não foram limpas, alegando que Assad controla o voto da população síria. “É impossível avaliar se a votação foi algo similar a um plebiscito, quando as pistolas, os tanques e a artilharia seguem bombardeando Homs, Hama e outras cidades em todo o país. Como pode existir algum tipo de processo democrático nessas condições?”, questionou.
Apesar dos resultados divulgados, em algumas regiões do país não foi possível realizar o plebiscito por conta dos conflitos que seguem entre forças de segurança do país e grupos opositores ao governo do presidente Bashar al Assad.
A Organização das Nações Unidas também questionou a credibilidade do referendo que aprova a nova Constituição síria. A prioridade, defende a organização, deve ser o fim da violência, para que depois se pense em um processo político “que atenda às aspirações democráticas dos cidadãos”.
Segundo o porta-voz da ONU, Eduardo del Buey, o resultado do referendo “dificilmente será crível”, por conta do panorama atual do país de constantes violações de direitos humanos. Buey afirmou ainda que a nova constituição poderia ser parte de uma solução política para a situação do país, mas a consulta popular deve acontecer em condições livres de intimidação.
Líderes ocidentais e dissidentes do regime de Assad também se manifestaram dizendo considerar a votação de domingo “uma farsa”. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia, contudo, demonstrou seu apoio ao regime sírio, qualificando a iniciativa como um “movimento em direção à democracia”.
Hamas
A declaração de apoio do movimento islâmico Hamas aos rebeldes sírios foi visto com preocupação por representantes dos EUA. Victoria Nuland afirmou: “obviamente, quanto mais apoio possam conseguir os grupos opositores ao regime de Assad, melhor. Mas existe preocupação de que extremistas fomentem a violência para conseguir objetivos próprios”.
A secretária de Estado de EUA, Hillary Clinton, citou o apoio do Hamas como motivo para ser contra a ideia de armar a oposição síria. A hipótese é levantada por congressistas norte-americanos e por alguns países, como a Arábia Saudita.
“Hamas está apoiando a oposição. Vamos apoiar o Hamas na Síria?”, disse Hillary em entrevista que foi ao ar nesta segunda-feira na rede CBS. A secretária demonstrou ainda preocupação de que as armas fossem parar com a rede terrorista Al Qaeda, que, segundo afirma a inteligência dos EUA, tem membros infiltrados na oposição síria.
Nova Constituição
A realização do referendo foi boicotada pelos grupos rebeldes, que disseram considerar que o país não tinha condições de segurança para realizar o pleito O Ministério do Interior do país divulgou que 57,4% das 14,5 milhões de pessoas que têm direito a voto no país comparecem às urnas. Ainda segundo o governo sírio, 9% votaram contra a nova Constituição.
O mandato do presidente da República, pelo novo texto constitucional sírio, ficaria limitado a sete anos, sendo possível renová-lo por mais sete em caso de reeleição. As novas diretrizes, no entanto, são válidas apenas a partir das novas eleições que deverão ser realizadas em 2014. Assim, Assad, atualmente com 46 anos e a 12 no poder, poderia permanecer no cargo até 2028 caso fosse eleito em 2014 e reeleito em 2021. A nova Constituição permite ainda a participação de outros partidos na disputa eleitoral. Há quase 50 anos, a Síria é governada pelo mesmo partido, o Baath.
*Com agências
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