O governo da Venezuela pretende renegociar suas dívidas com o Brasil no valor aproximado de US$ 1 bilhão, de um total de US$ 154 bilhões que o país liderado por Nicolás Maduro precisa quitar a diferentes países, entre títulos, créditos e até decisões judiciais que seguem com pagamentos pendentes.
As informações foram divulgadas por uma reportagem da agência Bloomberg, publicada nesta quarta-feira (24/04), que estimou o início do processo de reestruturação de dívida para o ano de 2025.
O veículo conversou com Pedro Silva Barros, ex-responsável pela missão do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) na Venezuela, entre 2010 e 2014, que considerou a potencial reestruturação como “um passo importante para o Brasil retomar o espaço perdido na Venezuela”.
“O Brasil desembolsou pouco mais de US$ 2 bilhões em financiamento a empresas brasileiras que exportaram à Venezuela nos últimos 25 anos. E, nesse período, acumulou mais de US$ 40 bilhões de superávit comercial concentrados em exportações de qualidade”, explicou Barros, acrescentando que, após a cessação do crédito, verificou-se que as “exportações despencaram e o mercado foi ocupado por países de fora da região”.
De acordo com a Bloomberg, a recente contratação venezuelana do banco Rothschild & Co. como assessor financeiro do país “marca o primeiro passo de uma jornada colossal, que provavelmente se arrastará por anos”. Segundo a reportagem, seria um indício de que Maduro está trabalhando na reintegração da Venezuela aos mercados financeiros internacionais, além de “fortalecer uma recuperação econômica que vem se consolidando após um retrocesso de uma década”.
No entanto, para que os planos avancem, o mandatário dependeria de um afrouxamento das sanções norte-americanas que proíbem seu país de emitir títulos de dívida, além da necessidade de “reconquistar o aval dos Estados Unidos”. Ambos os países romperam seus laços diplomáticos em 2019.
Em diversas ocasiões, Maduro afirmou estar disposto a negociar com os credores e culpou as sanções de Washington pela falta de progresso nesse sentido.
A matéria relata que a Venezuela deve um valor próximo a US$ 67 bilhões aos detentores de títulos após ter entrado em “default” – quando as condições legais de um empréstimo são descumpridas -, há mais de seis anos. Já os bônus do governo são negociados em torno de US$ 0,20 por dólar, em comparação aos US$ 0,10 de 12 meses atrás, enquanto os da petrolífera estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) são negociados em torno de US$ 0,12, o que confere um valor quatro vezes maior que há um ano atrás.
“Os títulos receberam um impulso depois que os Estados Unidos levantarem restrições à negociação, e devido a que o JPMorgan Chase & Co. mostrou um plano para reajustar o peso dos papéis em seus índices de dívida de mercados emergentes, que são muito usados pelos investidores”, relata a Bloomberg.
Em meio a este cenário, as eleições presidenciais marcadas para julho se manifestam como uma nova possibilidade para o governo de Maduro, que lidera as pesquisas sobre a corrida eleitoral no país. Caso ele seja reeleito, e se a comunidade internacional reconhecer a votação como justa, a reportagem afirma que o mandatário poderá dar início à recuperação do seu espaço no âmbito global.
(*) Com Bloomberg e Valor Econômico