O ex-vice-presidente do Equador, Jorge Glas, sequestrado pelo governo do atual presidente Daniel Noboa após invasão da Embaixada do México em Quito, onde o político estava exilado, declarou nesta quinta-feira (11/04) que foi torturado pelos policiais equatorianos que realizaram a operação na sede diplomática.
Falando da prisão de La Roca, onde está há três dias “em greve de fome, sem dormir, sem fornecimento dos seus analgésicos e trancado em um quarto sem luz 24 horas por dia” , por meio de ligação de vídeo com sua defesa durante audiência para uso do recurso de habeas corpus, Glas detalhou sua prisão pelas forças equatorianas.
“Eu abri a porta, eles colocam as lanternas na minha cara e apontam os rifles para mim. Eu estava de pijama e pedi permissão para tomar meu remédio”, contou, acrescentando que eram de 10 a 15 oficiais armados e uniformizados na sede diplomática em 5 de abril, quando ocorreu a invasão.
“Eles me chutaram e me deram joelhadas, pisaram no meu pescoço”, informou. Além disso, Glas relatou que um dos membros da equipe, identificado como o líder da operação, torceu intencionalmente seu dedo polegar “para que ele se lembrasse”. “Aí eles colocaram o polegar no lugar, não sei como fizeram isso”, acrescentou.
Glas também relatou que, durante seu sequestro, os agentes usaram a força contra o diplomata mexicano Roberto Canseco, que tentou impedir a entrada dos policiais equatorianos na embaixada e a sua captura.
O ex-vice-presidente também acusou o comandante do Grupo Equatoriano de Intervenção e Resgate de mentir “flagrantemente” durante seu depoimento perante o tribunal, ao afirmar que sua prisão ocorreu nas proximidades da embaixada e não na Unidade de Flagrantes.
Além disso, disse suspeitar que os agentes responsáveis por sua prisão sabiam que agiam de forma ilegal, uma vez que celebraram a sua captura afirmando que já se encontravam fora da embaixada.
Andrés Villegas, advogado do ex-vice-presidente, que impetrou o habeas corpus, exigiu a anulação da prisão de seu cliente, argumentando que era indevida. Também solicitou a devolução de Glas à embaixada mexicana em Quito e exigiu a apresentação do documento que, segundo o chefe da Polícia Nacional, autorizava o presidente Daniel Noboa a ordenar a prisão de Glas.
Villegas argumentou que a detenção de Glas foi arbitrária, ilegal e ilegítima, constituindo uma violação do direito internacional e dos direitos humanos do antigo vice-presidente.
Por sua vez, os advogados da Polícia e das Forças Armadas do Equador negaram as acusações de tortura durante a detenção de Glas e solicitaram a revisão dos atestados médicos do ex-vice-presidente.
Sobre as acusações de que os policiais uniformizados carregaram Glas pelas mãos e pelos pés, como mostram os vídeos, a polícia afirmou que a manobra está de acordo com o Código Orgânico do Uso da Força.
Segundo a força policial, quando as pessoas resistem às suas ações é necessário agir em conformidade, mas isso não implica tortura ou tratamento cruel ou degradante.
Por outro lado, as Forças Armadas declararam que realizaram uma operação de controle de armas fora da Embaixada do México e sua participação na detenção de Glas foi durante sua transferência para a Unidade de Flagrantes.
Cúpula de Celac adiada
A Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac) havia marcado para esta sexta-feira (12/04) a cúpula extraordinária sobre o ataque das forças de segurança do Equador à embaixada do México em Quito. No entanto, a reunião foi adiada para a próxima terça-feira (16/04).
📌 La canciller Alicia Bárcena acompañó al presidente Andrés Manuel López Obrador en la llamada que sostuvo con la presidenta de Honduras, @XiomaraCastroZ, quien ostenta la presidencia pro tempore de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños, para dialogar sobre la… pic.twitter.com/63EwwDIGRH
— Relaciones Exteriores (@SRE_mx) April 12, 2024
O informe foi feito pela presidente de Honduras, Xiomara Castro, e líder temporária da (Celac). Segundo ela, a data foi alterada a pedido do governo mexicano, que ainda pretende esclarecer alguns assuntos relacionados ao caso.
De acordo com a mandatária hondurenha, a sessão acontecerá virtualmente e examinará as acusações do México contra o Equador de violações do direito internacional e da Convenção de Viena de 1961.
A ação culminou no rompimento das relações diplomáticas entre as duas nações. A operação da polícia equatoriana foi condenada por toda a América Latina e União Europeia.
(*) Com Ansa e TeleSUR