No dia 27 de abril de 1978, em Cabul, capital do Afeganistão, um brutal golpe de Estado põe fim ao governo do general Daoud Kahn, o responsável pela derrocada da monarquia cinco anos antes. Os soviéticos, que apoiaram o golpe, não duvidariam mais tarde que haviam se envolvido em uma grande aventura.
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Cinco anos antes, Daoud derruba seu primo e cunhado, o rei Mohammed Zaher Khan, e instaurado a república. Tentara uma política de não alinhamento, mantendo equidistância entre EUA e União Soviética. Contudo, sua política desagradava o governo soviético de Leonid Brejnev. Desse modo, foi deposto por um grupo de oficiais soviéticos.
O vencedor do golpe de abril de 1978 é o chefe do Partido Democrático do Povo Afegão, Mohammad Taraki. Transformaria seu país numa república popular alinhada à União Soviética. Estatiza tudo o que pode ser estatizado e tenta, por lei, reformar os costumes, o que convulsiona os religiosos e camponeses.
Por seu extremismo, passa a inquietar Moscou. No seio de seu próprio partido, a facção moderada Parcham (Bandeira), dirigida por Babrak Karmal, se opõe abertamente à corrente do presidente, Khalq (Povo).
Do outro lado da fronteira, no Irã, o xá é derrocado por um movimento popular que reclama o retorno às tradições muçulmanas. Como no Irã, os islamitas começam a se agitar. Alguns milhares de soldados soviéticos desembarcam discretamente em Cabul para proteger o regime. O presidente Taraki viaja então a Moscou. Na volta, em 16 de setembro de 1979, seu primeiro ministro, Hafizullah Amin, contrário a tal aproximação com a União Soviética o faz estrangular.
Em Moscou, Brejnev, idoso e doente, faz pouco caso das reticências de seu Estado-Maior e decide intervir. Parece que os serviços secretos norte-americanos habilmente o encorajaram a tanto, conscientes de que um envolvimento no Afeganistão esgotaria a URSS.
Em 24 de dezembro de 1979, os soviéticos tomam o controle dos aeroportos afegãos com algumas tropas aerotransportadas. Três dias depois, 20 mil homens equipados com armas pesadas ocupam o país e tomam Cabul.
Uma unidade de elite, sob o comando do coronel Yakov Semenov, invade o palácio presidencial e executa Amin. O presidente é prontamente substituído por Babrak Karmal. Conselheiros soviéticos são instalados em todos os níveis do Estado. A Assembleia Geral da ONU pede, em vão, a imediata retirada das tropas.
A intervenção militar se revela um desastre para o Exército Vermelho, cujo corpo expedicionário se elevaria a 150 mil homens. Os bombardeios das zonas onde a resistência se organizava empurrou milhares de afegãos a deixar o país em direção ao Paquistão ou Irã. Em cada região do país, chefes de resistência emergiam, como o comandante Massud no vale do Pandchir. Bom número de grupos de resistência são fundados com base na defesa da identidade islâmica contra o invasor ateu.
O exército regular afegão mostra-se frágil, corroído por deserções e infiltrado pela resistência. A partir de 1983, os grupos de resistência passam a receber mísseis portáteis e metralhadoras pesadas dos EUA.
Os soviéticos se enredam cada vez mais no conflito, que afeta consideravelmente sua imagem no terceiro mundo. Cerca de 15 mil soldados morrem no Afeganistão sem saber o porquê. Por outro lado, 70 mil afegãos pagam com sua vida a resistência à invasão.
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O dia seguinte ao golpe sobre o governo de Daoud
O novo líder do Kremlin, Mikhaïl Gorbachev, se convence do fracasso. Sob a égide da ONU e na presença dos EUA e do Paquistão, conclui com o governo afegão um acordo de retirada em Genebra, em 14 de abril de 1988. Os últimos soldados deixam o país em 15 de fevereiro de 1989.
As facções afegãs se veem face a face e é o começo de uma nova guerra, atiçada pelo vizinho Paquistão. De 1992 a 1995, trava-se uma guerra civil de forte dimensão étnica. Em 1994, um partido de fundamentalistas formados no Paquistão, os talibans, se sublevam contra os partidários do comandante Massud, de origem tadjik.
Com apoio ativo do governo de Washington tomam Cabul em setembro de 1996, passando a dominar a maior parte do país, impondo uma lei islâmica particularmente rigorosa. Um rico herdeiro saudita de nome Osama Bin Laden se instala então na montanha com suas milícias e empreende uma guerra total contra o Ocidente.
Também nesse dia:
1937 – Aviões alemães bombardeiam a cidade basca de Guernica
1941 – Tropas alemãs entram em Atenas
1992 – A Rússia e outras doze ex-repúblicas soviéticas ingressam no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial
1994 – Mandela é eleito presidente da África do Sul
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