A Cúpula dos Povos encerrou-se na noite desta sexta-feira (22/06) com uma entrevista coletiva nos arcos da Lapa, tradicional ponto turístico do Rio de Janeiro, apresentando um documento final que resume as decisões tomadas durante as sessões plenárias.
No documento só há menção para uma única proposta prática: a criação de um “Dia Mundial da Greve Geral”. Segundo os organizadores, os maiores detalhes sobre essa nova data mundial e as outras proposições de caráter prático ainda serão divulgadas através dos anexos do documento, provavelmente neste sábado (23).
“O processo se encerra aqui enquanto organização do evento. Mas irá continuar de agora em diante em ações concretas acordadas nas plenárias”, disse o advogado Darci Frigo, um dos organizadores da Cúpula. “Nosso balanço geral é que a Cúpula cumpriu com um papel importante realizando o que se propôs: ser um contraponto ao processo oficial (a Rio+20)”.
Os organizadores da Cúpula também destacaram o que chamaram de fracasso da Rio+20 e criticaram o encontro que alguns de seus representantes tiveram esta manhã, no Riocentro, local onde foi realizada a Rio+20, com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.
“Quando ele [Ban] disse que deveríamos considerar o documento final da Rio+20 como um primeiro passo, foi admitido o fracasso absoluto da Rio+20. Porque essa declaração final deveria ir muito mais além do que foi a Rio-92, principalmente em termos de estabelecer compromissos claros, no curto e médio prazo. Sobre quais serão as metas concretas de investimento ou enfrentamentos das questões que nos foram postas. Isso não nos foi respondido”, disse Frigo.
Frigo afirmou que a Cúpula se recusou a fazer diálogos durante a Rio+20 porque, desde o início, “tínhamos a avaliação de que a negociação do documento deles não avançaria, o que se confirmou pela manhã, quando apresentamos ao secretário-geral da ONU visões que, para nós, precisavam ser encaradas. Entre as críticas, abordamos a questão de que a ONU se encontra sob captura das grandes corporações”.
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“Os próprios representantes dos países que estavam aqui reclamaram que seus países não fizeram uma escuta razoável. E isso é um problema. Nós fizemos um evento aqui para unificar mas cada país deveria também assumir o compromisso de ouvir as suas delegações e ter posições mais dialogadas no âmbito de suas sociedade. E há um problema de fundo, que é a qualidade de democracia no mundo que está em baixa”, disse Frigo.
Bastidores
Iara Pietricovsky, que comandou a delegação da Cúpula no encontro com o secretário-geral disse que Ban se prontificou a responder a todas as perguntas, mas deixou clara a diferença de visões entre as duas conferências. “Em um primeiro momento, expressamos nossa profunda insatisfação com o documento final da Rio+20. Criticamos a economia verde, a redução do papel dos direitos humanos, os retrocessos nos direitos das mulheres. Enfim, dissemos a ele que era um documento muito fraco”, revelou.
A resposta do diplomata sul-coreano, segundo ela, foi previsível: “Ele respondeu o contrário, dizendo que a economia verde será um instrumento importante, que trará uma solução pragmática e não ideológica. E que a ONU tem sido um fórum para contribuir com propostas para a igualdade entre os sexos. Claro, como homem, ele disse que não considera a retirada do termo dos direitos reprodutivos no texto um retrocesso. Só assim mesmo”, protestou.
Além disso, o sul-coreano também não deu abertura para que qualquer item proposto pela Cúpula pudesse ser discutido durante o restante do último dia da conferência oficial. “É uma pena, afinal a Rio+20 vai até o fim do dia, gostaríamos que houvesse essa boa vontade. Mas já esperávamos isso”.
Propostas
Além do Dia Mundial da Greve, uma das alternativas concretas que serão apresentadas no texto é a questão do desenvolvimento das economias locais sob conceito da economia solidária. “Acreditamos que a economia deve primeiro abastecer o setor local. Se você desenvolve mercados que se chamam de circuitos curtos, é possível diminuir os gastos energéticos, melhorar a distribuição de renda e a infraestrutura. Há uma série de ganhos. Mas a concentração da economia em grandes conglomerados não permite um balanço energético melhor”, disse Frigo.