A comunidade brasileiro-palestina e a Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) denunciaram o presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB), Claudio Lottenberg, por racismo e discurso de ódio após uma publicação contra a comunidade palestina no portal UOL.
No texto, publicado nesta segunda-feira (20/05) e intitulado “Colocando os pingos nos is”, Lottenberg escreveu que o palestino é “esmagadoramente violento, misógino, homofóbico e antidemocrático”. Após a repercussão negativa da fala, o autor editou o artigo, suprimindo o trecho ofensivo.
A Opera Mundi, o presidente da FEPAL, Ualid Rabah, declarou que a entidade tomou a decisão juridicamente contra Lottenberg por considerar que a uma inação diante do caso “tenderia a aumentar o número de incidências e a gravidade delas” contra a comunidade palestina no Brasil.
O presidente da CONIB foi denunciado na Delegacia da Diversidade Online da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que investiga crimes de intolerância.
Segundo Rabah, essa não é a primeira atitude jurídica da FEPAL, que já promoveu dezenas de condutas, inclusive judicializadas e que já resultaram em inquéritos e denúncias do Ministério Público.
“Nesse caso não poderia ser diferente, especialmente se tratando de um presidente de uma confederação que se apresenta no Brasil como israelita com o discurso de ódio, intolerância, racismo explícito e supremacismo. Resolvemos agir porque se isso ficar sem resposta e impune, a tendência é a criminalização da comunidade brasileiro-palestina, estendida à comunidade árabe”, reiterou.
Comunidade brasileiro-palestina e FEPAL denunciam presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, por racismo e discurso de ódio em texto publicado no @UOL. pic.twitter.com/FmSQVN4Dap
— FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) May 24, 2024
O presidente da FEPAL ainda explicou que a denúncia contra Lottenberg não é exclusivamente pelas palavras de extermínio do povo palestino, mas também ampliada à luta contra o racismo, supremacismo racial, regimes de apartheid e genocídio em toda a humanidade.
“Quando se comete um crime de racismo no Brasil, contra quem quer que seja, ele afeta toda a humanidade. Quando nós enfrentamos o nazismo, os colonialismos e o Apartheid na África do Sul, é porque eles representavam um perigo contra a humanidade”, explica.
“Se Lottenberg ficasse absolutamente incólume na sua conduta, nós estaríamos abrindo a porta e escancarando as janelas para o racismo no Brasil, talvez até permitindo que a Lei Áurea seja abolida, porque foi ele que fez, abolir a Lei Áurea no Brasil”, urgiu.
Palavras nazistas que tentam justificar o genocídio palestino
Ainda para Opera Mundi, o presidente da FEPAL questionou a suposta “posição moderada” de Lottenberg . “Se ele que defende abertamente o genocídio na Palestina, sem meias palavras, e que usou de palavras absolutamente racistas, dignas do supremacismo colonial e do nazismo, é moderado, imagine o que serão os radicais”.
Rabah classificou que a posição da CONIB hoje no Brasil é “defesa intransigente e dolorosa do genocídio na Palestina, e busca justificá-la com mentiras e falácias sobre os palestinos”.
Na sua avaliação, o texto de Lottenberg tinha o objetivo de “justificar” o genocídio promovido por Israel e criminalizar os palestinos como povo onde quer que eles estejam. “Ao depreciar e desumanizar o grupo inteiro, Lottenberg faz justamente o que todo genocida faz: desumaniza todo o grupo para justificar o extermínio que leve à inexistência do grupo. Esse é o projeto sionista desde o início, tornar a Palestina sem palestinos”, disse o presidente da FEPAL.
Também a Opera Mundi, o diretor jurídico da FEPAL, Nasser Judeh, afirmou que a fala de Lottenberg “além de falsa e gravíssima”, configura preconceito, racismo e intolerância étnica, condutas consideradas criminosas pela Lei Federal n. 7716/89 e pelo Código Penal.
Segundo Judeh, a entidade pró-palestina espera que as autoridades jurídicas emitam consequências contra Lottenberg de acordo com a legislação brasileira.
O representante da FEPAL também especificou que a organização, através de seus diretores, registrou na quarta-feira (22/05), uma ocorrência policial junto a Polícia Civil de São Paulo, pedindo providências urgentes e cabíveis.
Já o diretor jurídico da FEPAL considera que manifestações como essa de Lottenberg “alimentam o ódio e a intolerância, em nada contribuindo para o convívio harmonioso e pacífico entre os povos”. A entidade também está fomentando ações individuais a partir dos registros de ocorrência online, além de elaborar um pedido de representação junto ao Ministério Público do estado de São Paulo (MPSP).
A CONIB foi procurada pela reportagem de Opera Mundi em relação à denúncia de seu presidente. No entanto, não forneceu respostas até o momento da publicação. Caso a entidade retorne o contato, a matéria será atualizada com sua versão.
(*) Com Revista Fórum.