Uma apuração realizada pela agência de notícias Associated Press (AP), publicada nesta quarta-feira (22/05), revela relatos sobre as denúncias de supostas agressões sexuais cometidas pelo Hamas no dia 7 de outubro, e indicam que as evidências apresentadas em tais acusações “se mostraram inverídicas”.
O caso já foi mencionado por autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) e entidades israelenses de direitos humanos israelenses, e se refere a supostos crimes sexuais cometidos por combatentes do Hamas em 7 de outubro de 2023. A denúncia teria sido feita por voluntários de uma organização israelense de busca e resgate chamada ZAKA e inclui provas fotográficas.
Segundo a AP, há dois depoimentos desmentidos provenientes de voluntários da ZAKA, cujas histórias, no momento da divulgação, provocaram repúdio em âmbito global.
A própria agência afirma, em sua reportagem, que independentemente do fato de que algumas organizações israelenses sigam considerando os relatos já desmascarados como verídicos, a apuração feita pela equipe jornalística concluiu que “as informações podem ter sido obscurecidas e distorcidas no momento de caos que se vivia durante o conflito”.
Interpretações infundadas
Um dos relatos que posteriormente se revelaria infundado foi o de Chaim Otmazgin, um voluntário da ZAKA que recolheu corpos após a ofensiva do Hamas.
No Kibutz Be’eri, uma das comunidades mais atingidas, Otmazgin diz ter encontrado o corpo de uma adolescente que, segundo ele, tinha as calças abaixadas, o que o levou a concluir que havia sido abusada sexualmente.
De acordo com a AP, o voluntário chegou a contar os detalhes da cena à imprensa e a parlamentares, mas atualmente nega ter declarado abertamente que a garota havia sofrido abuso sexual.
A história foi desmentida somente três meses depois, quando a ZAKA admitiu que a interpretação de Otmazgin estava errada. Após cruzar informações com contatos de militares, a organização descobriu que um grupo de soldados havia arrastado o corpo da garota pela sala para garantir que ele não ficasse preso. Com isso, suas calças acabaram ficando abaixadas.
O segundo relato desmentido foi feito por um colega de Otmazgin, Yossi Landau, também voluntário de longa data da entidade.
Landau retratou à mídia global “o que pensou ter visto”, que consistia na imagem de uma mulher grávida deitada no chão, com o feto ainda preso ao cordão umbilical arrancado de seu corpo.
No entanto, segundo Otmazgin, que estava supervisionando outros voluntários da ZAKA no momento em que Landau o chamou para ver a mulher, o que ele viu não foi exatamente aquilo que seu amigo havia descrito. Era o corpo de uma mulher com sobrepeso, que trazia um pedaço de um objeto não identificado preso a um cabo elétrico carbonizado.
Otmazgin afirmou que não se tratava de uma mulher grávida. Mesmo assim, Landau passou a contar a sua versão da história para os jornalistas, levando a notícia a circular internacionalmente.
Voluntários tiraram suas próprias conclusões após ataque
De acordo com o governo de Israel, o ataque de 7 de outubro da autoria do Hamas deixou aproximadamente 1,2 mil pessoas mortas no sul do território israelense, enquanto outras 250 foram feitas reféns.
Nesse cenário, a responsabilidade de recolher os corpos ficou nas mãos da ZAKA, uma organização civil privada composta por 3 mil voluntários, em sua maioria judeus ortodoxos. O objetivo da entidade é “dar a cada vítima um enterro judaico adequado”.
No momento após o ataque, Israel passou a liberar a visita da imprensa para que relatasse o cenário. Nas viagens, muitas vezes os jornalistas se encontravam com voluntários da ZAKA, uma vez que eram “os mais acessíveis e dispostos a conversar”.
Em sua reportagem, a AP afirma que “os protocolos de mídia usuais foram ignorados e voluntários que normalmente seriam examinados pelo porta-voz da ZAKA, antes de serem entrevistados, falaram diretamente com os jornalistas e tiraram conclusões sobre o que viram, embora a organização reconheça que seus voluntários não são trabalhadores forenses”.
Após os relatos da ZAKA terem sido desmentidos, alguns críticos da conduta israelense passaram a acusar o governo de Tel Aviv de usar inverdades para justificar o massacre promovido contra o povo palestino, através de uma ofensiva militar contra a Faixa de Gaza, iniciada naquele mesmo dia 7 de outubro e que já contabiliza mais de 35 mil civis mortos.