A organização das Avós da Praça de Maio anunciou nesta quarta-feira (28/12) que encontrou o neto de número 132, dos mais de 500 bebês desaparecidos durante a última ditadura militar da Argentina (1976-1983).

A entidade, também fundada em 1976 pelas mães de opositores que foram sequestrados por agentes da repressão, se dedica a buscar os netos, ou seja, os filhos daquelas vítimas da perseguição política, que foram adotados, ainda bebês, por militares argentinos, ou por famílias muito ricas, argentinas e estrangeiras.

Esse trabalho teve seu 132º sucesso nesta quarta-feira, com a revelação da identidade de Juan José Morales, filho da militante peronista Mercedes del Valle Morales. Ambos viviam na província de Tucumán quando foram sequestrados por repressores, em maio de 1976, quando ela tinha 21 anos e ele apenas 9 meses.

Em comunicação por videoconferência, Morales falou para uma plateia durante a apresentação do seu caso. Isso não é uma praxe para as Avós: os netos descobertos podem optar por ter sua identidade resguardada, devido ao trauma que a revelação da identidade pode causar. No entanto, o neto 132 não teve problemas em contar sua história.

En nuestro país las locas de la Plaza de Mayo siguen siendo un ejemplo de salud mental, de humanidad, de dignidad porque se siguen negando a olvidar en los tiempos de tantos jueces, de tantas candidatas, de tantos periodistas y de tantos funcionarios con discursos negacionistas. pic.twitter.com/39HLEjdYjs

— La Garganta Poderosa (@gargantapodero) December 28, 2022

“Sempre tive dúvidas sobre a minha identidade”, contou Juan durante a conferência. Ele também revelou que, apesar dessa desconfiança, só começou a investigar sua identidade a partir de 2004, quando teve a confirmação da sua outra família de que era um filho adotivo.

A recuperação definitiva da identidade só foi possível, anos depois, graças a um estudo de DNA feito pelo Banco Nacional de Dados Genéticos da Argentina (BNDG), um centro científico que ajuda as Avós a comparar os genes de pessoas com dúvidas sobre sua identidade com os de parentes vivos dos desaparecidos durante a ditadura.

A presidente das Avós, Estela de Carlotto, comemorou não só a identificação do neto 132, como também o fato de que ela acontece uma semana depois de ser encontrado o neto 131 – muitas vezes, se demora semanas ou até meses entre uma descoberta e outra. “Continuamos celebrando a vida”, disse Estela durante o anúncio do novo neto. 

O Tribunal Federal de Justiça da província de Tucumán também emitiu um comunicado dizendo que Juan que não é filho da pessoa que o criou, e confirmou que ele foi vítima de roubo, ocultação e suplantação de identidade no âmbito do terrorismo de Estado.