No Largo do Intendente, região central de Lisboa, organizações e movimentos sociais reuniram-se neste sábado (18/05) em defesa da Palestina, pelo fim do genocídio e pelo boicote a Israel, além de terem reforçado palavras de ordem que explicitaram a necessidade de contrapor quem se associa ou é conivente ao que tem ocorrido em Gaza.
A Opera Mundi, Pedro Prola, coordenador do Núcleo do PT na capital de Portugal, reconheceu a importância de manter a comunidade brasileira no exterior unida e solidária ao povo palestino em um momento em que o massacre e a limpeza étnica se intensificam ainda mais. Segundo ele, o apoio do governo Lula à África do Sul (que abriu um processo contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça) e a suspensão da compra de armas israelenses pelo Exército reforçam o compromisso do presidente, que já afirmou que o que acontece na Faixa de Gaza não é uma guerra e que há um genocídio em curso.
“Não dá para ignorar e continuar comprando armas e financiando aquilo que ocorre neste momento em Gaza. Não só em Gaza, como também na Cisjordânia. Enquanto movimentos e partidos políticos, precisamos continuar reforçando essa posição, expondo aquilo que está ocorrendo atualmente com o povo palestino e que não é só de agora. Já são décadas de crimes perpetuados por um sistema absolutamente opressivo sob um povo inteiro a quem é negado a cidadania e os mais básicos direitos. Esse crime contra a humanidade não pode continuar e nós precisamos permanecer na luta para que isso termine”, explicou Prola.
Matilde, uma jovem estudante de 21 anos, lamentou que países e organizações mundiais não estejam se empenhando em pôr um fim ao massacre na Palestina. Na semana passada, ela presenciou de perto a truculência policial na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa contra o acampamento que havia sido organizado pelos estudantes da instituição em apoio à causa palestina.
“Foi absolutamente terrível o que aconteceu. Nós já imaginávamos que seríamos retirados de lá, mas não com tanta violência. Acho que isso mostra a atitude do Estado português e das forças de segurança em relação a este tipo de protesto e ao que se passa na Palestina. Por isso, acredito que temos que continuar pressionando o governo para que uma ação seja feita em prol do cessar-fogo imediato”, disse.
Já Emna, uma estudante da Tunísia que está prestes a finalizar o seu curso de marketing, afirmou o quanto é importante participar desta manifestação. Para ela expor as mensagens em um local muito frequentado por turistas pode ajudar as pessoas a se questionarem sobre o que realmente está acontecendo com o povo palestino.
“A verdade é que muitos ignoram, apesar da enorme quantidade de informações, dados e provas disponíveis acerca do genocídio. Vejo isso desde que eu era criança, muito antes do 7 de outubro. Eu faço o que eu posso. E a única coisa que posso fazer agora é vir a esta manifestação e compartilhar nas redes sociais para que boicotem as marcas que apoiam esse massacre”, declarou a jovem de 25 anos.
Um cidadão palestino que trabalha na Cruz Vermelha também se juntou à manifestação organizada pelo Núcleo do PT de Lisboa em conjunto com PCdoB, PSOL, Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Centro Brasileiro de Solidariedade Aos Povos e Luta Pela Paz (Cebrapaz), Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores no Brasil (CUT Brasil) e Frente Internacional Brasileira Contra o Golpe e Pela Democracia (Fibra).
Por questões de segurança, ele preferiu não revelar o seu nome, mas disse que foi incrível ver brasileiros e portugueses dando suporte à causa palestina. “Ver tanta gente apoiando a justiça e a liberdade para a Palestina me dá muita confiança no mundo e no ser humano. Meu pai, que já está morto, era de Haifa, e a minha mãe nasceu em Yakum, ambos territórios da Palestina ocupados em 1948”, revelou.
Carlos Almeida, vice-presidente do Movimento Pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Oriente Médio (MPPM) valorizou esse gesto das organizações que representam a comunidade brasileira em Portugal. O pesquisador lembrou do contributo positivo do governo brasileiro em relação àquela que é a preocupação fundamental pelo fim do massacre. “Esse cessar-fogo não pode ser desligado da justiça que tarda para o povo palestino. Assinalamos no dia 15 de maio os 76 anos da Nakba, de limpeza étnica e de silenciamento. São mais de sete décadas em que o direito internacional tem sido, todos os dias, esquecido e violentado”, pontuou ao reforçar a incapacidade das Nações Unidas de impor, através das resoluções tomadas no Conselho de Segurança, na Assembleia Geral e demais órgãos da ONU, o reconhecimento do Estado da Palestina e o direito dos refugiados de regressarem às suas terras.
Almeida também lamentou a declaração feita pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, que, durante uma entrevista ao jornal El País, disse ser injusto acusar Israel de promover um genocídio na Palestina.
“A administração anterior também não explicou qual é a natureza das relações designadamente militares que o governo português mantém com o governo de Israel. E, nesta altura, com Israel no banco dos réus no Tribunal Internacional de Justiça, qualquer cumplicidade, sobretudo uma cumplicidade no terreno militar, é de uma gravidade extrema”, finalizou.