“Em termos econômicos, é uma burrice a Escócia se separar do Reino Unido. Mas não se trata de uma decisão econômica, é política. Há um forte nacionalismo que resgata as tradições e o orgulho escocês. Se levássemos essa discussão do ponto de vista econômico, é uma escolha irracional”, afirma a Opera Mundi o professor Simão Davi Silber, especialista em Economia Internacional da USP (Universidade de São Paulo).
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Defensor do “sim”, premiê escocês Alex Salmond (de gravata vermelha) faz campanha em Edimburgo
Grosso modo, as implicações econômicas da autonomia escocesa giram em duas polêmicas que dividem o eleitorado: o uso da libra esterlina e a exploração do petróleo no Mar do Norte. Se os escoceses optarem pela independência, a Grã-Bretanha e o país teriam 18 meses de negociações para resolverem essas duas pendências, de acordo com a Reuters.
“Ficar com a libra é a decisão mais razoável”, indica Silber. Apesar das constantes ameaças de o Reino Unido proibir o uso da libra esterlina caso a população vote pela independência no referendo marcado para esta quinta-feira (18/09), o especialista argumenta que não é possível impedir um país de usar a moeda que bem lhe aprouver, mas a Escócia perderia privilégios do Banco Central inglês.
Segundo o professor da USP, pelo menos 1/3 dos gastos do governo escocês com pensão, aposentadoria, saúde e educação são provenientes de transferência de renda do Reino Unido. “Não faz sentido Londres continuar a ajudar nesses pagamentos. Isso seria justificado em situações de ajuda humanitária para países em calamidade, como acontece na África, por exemplo, mas não é o caso da Escócia”, explica.
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Na mesma linha, o economista-chefe do Deutsche Bank, David Folkerts-Landau, declarou à BBC na semana passada que a Escócia cometeria um “erro econômico” se optasse pela independência do Reino Unido. Folkerts-Landau ainda alertou para o risco de “recessões, maiores impostos, menor gasto público e maiores taxas de juros” que a independência poderia gerar.
Para o FMI (Fundo Monetário Internacional), a incerteza seria o principal efeito imediato de uma Escócia independente, que resultaria em uma “reação negativa dos mercados a curto prazo”. Dois dos principais bancos britânicos com sede na Escócia, o Royal Bank of Scotland e o Lloyds Banking Group, já anunciaram transferência para Londres se o referendo for positivo para autonomia escocesa.
Relatório
Opera Mundi teve acesso exclusivo a um documento do banco espanhol Santander para os clientes institucionais na quarta-feira (17/09) a respeito do referendo escocês. Em uma análise sobre o cenário econômico, o banco aposta que, no curto prazo, a independência pode gerar uma grande volatilidade no mercado inglês, mas a tendência é que haja uma rápida estabilização. Para o banco, o movimento no médio e longo prazo depende mais de políticas fiscais do governo do que um evento específico.
Assim como classificou o FMI, há uma incerteza em torno do futuro econômico do Reino Unido, mas o Santander ressalta que essa incerteza é também proveniente de fatores externos, já que o cenário global apresenta um ambiente econômico desafiador.
Efe
Contrários a independência da Escócia desfilam na capital Edimburgo
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Alarmismos à parte, Alex Salmond, primeiro-ministro do governo escocês e líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP), argumenta que o Estado conseguirá se manter com o dinheiro proveniente da extração do petróleo no Mar do Norte, calculado em cerca de 57 bilhões de libras (R$ 217 bilhões) para 2018. Com um décimo dessa quantia, Salmond propõe criar um fundo soberano que ascenderia a 30 bilhões de libras (R$ 114 bilhões) “em uma geração”, de acordo com a Agência Efe.
No entanto, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, argumenta que as jazidas do Mar do Norte estão em franca decadência: 40 bilhões de barris já foram extraídos e estima-se que tenham restado em torno de 24 bilhões.
Além de confiar na arrecadação do petróleo, Salmond também aposta em uma união monetária com a libra como moeda comum para formar a economia da Escócia independente. O líder nacionalista reiterou os planos de conservar a moeda, pois a classifica como “um ativo comum” que deve ser repartido.
Contudo, o ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, já advertiu que o país teria que recorrer à chamada “esterlinização”, isto é, o uso da libra esterlina sem o apoio do Banco Central da Inglaterra e sem capacidade para emitir moeda, o que implicaria uma subordinação.
Outro ponto da campanha de Salmond foi argumentar que, com a independência, a Escócia controlaria seus recursos e poderia usá-los para construir uma sociedade “mais próspera e justa”, em vez dos cortes e privatizações impostos.
Na semana passada, o Instituto britânico de Estudos Fiscais publicou uma análise que revelou que o governo escocês estaria planejando fazer cortes nas despesas de saúde. Em resposta a essa polêmica, Salmond disse ao jornal The Guardian que a autonomia “significaria que a Escócia iria controlar suas próprias finanças para nos permitir proteger o nosso serviço de saúde e para atender a essas pressões de financiamento para o futuro”.