A Organização Internacional do Trabalho (OIT) ratificou nesta quinta-feira (10/10) a meta de erradicar as “piores formas” de trabalho infantil até 2016, embora seu diretor-geral, Guy Ryder, reconheça que esse objetivo da ONU ainda está “muito distante”.
A reafirmação dessa meta traçada em 2010 foi anunciada na declaração final da 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil, encerrada hoje em Brasília por Ryder e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ryder alertou que conseguir esse objetivo torna-se “cada dia mais difícil”, principalmente porque 168 milhões de crianças ainda trabalham no mundo e metade delas em condições que a OIT classifica como “piores formas” de exploração: escravidão, trabalho forçado, servidão e exploração sexual.
No entanto, a declaração final da conferência sustenta que ainda há tempo para isso, embora ressalte que é necessário “reforçar as ações nacionais e internacionais” para dar “uma resposta específica”, sobretudo nos países em desenvolvimento.
A relação direta entre trabalho infantil e pobreza foi destacada por Lula, que se definiu como uma vítima do “trabalho precoce” durante um emotivo discurso no qual evocou a miséria de sua própria infância.
“O trabalho precoce é uma experiência pela qual passei, movido pela necessidade de contribuir para o sustento da minha família”, declarou Lula, que lembrou que, quando criança vendeu laranjas e amendoim, lustrou sapatos e trabalhou em uma tinturaria. Tudo “antes de ter 17 anos”, quando se formou como torneiro mecânico e conseguiu emprego em uma fábrica, na qual perdeu um dedo “trabalhando das dez da noite às seis da manhã, apesar de ser proibido que um menor trabalhasse à noite”, recordou.
Agência Efe
Ex-presidente Lula relembrou, em conferência, quando precisou trabalhar ainda criança
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O ex-presidente disse ainda que seus sete irmãos também trabalharam desde criança, mas “não porque gostassem” ou porque sua mãe “queria”, mas porque de outro modo não haveria comida em sua casa.
“E quando alguém tem que levar comida para casa, põe até sua própria vida em jogo para conseguir, e por isso vemos tantas meninas se prostituindo no mundo”, ressaltou Lula, insistindo que “o único caminho” para erradicar definitivamente o trabalho infantil passa por acabar primeiro com a fome e a pobreza.
O ex-presidente afirmou que “o mapa do trabalho infantil coincide rigorosamente com o mapa da fome e da miséria”, motivo pelo qual “a primeira tarefa” é “coordenar ações de distribuição de renda em todas as regiões mais pobres de nosso planeta”. Lula exigiu um maior compromisso da comunidade internacional com os objetivos da OIT e sustentou que “não faltam recursos”, mas “vontade política”.
Segundo o ex-presidente, “a crise econômica consumiu trilhões de dólares para ajudar sistemas financeiros irresponsáveis” e outros “trilhões de dólares são gastos em guerras ao redor do mundo”, o que, em sua opinião, demonstra que “sobra dinheiro”.
No último dos três dias da conferência também, foi decidido reforçar a campanha “Cartão Vermelho contra o Trabalho Infantil”, que a OIT mantém desde 2002, principalmente com a proximidade da Copa do Mundo de 2014.
Além disso, foi estabelecido que a 4ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil será realizada em 2017 na Argentina. A presidente da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Infantil na Argentina, María do Pilar Rey Méndez, declarou que “a meta agora é chegar à quarta conferência com dados muito mais otimistas” sobre o número de crianças que trabalham no mundo.
“O objetivo agora são as milhões de crianças que hoje trabalham no planeta e conseguir que sejam muitos menos em 2017”, concluiu.