Uma semana após ser lançado em Nova Iorque, o último documentário do cineasta Oliver Stone, Ao Sul da Fronteira, é alvo de polêmica, provocando um debate entre o diretor e o jornalista Larry Rohter, ex-correspondente do jornal New York Times no Brasil.
Em texto publicado na sexta-feira (25/6), Rohter apontou várias imprecisões ou erros no filme, acusando-o de apresentar uma visão deturpada sobre a “guinada à esquerda” dos governos latino-americanos, principalmente, do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Em resposta, Stone e os co-roteiristas Tariq Ali e Mark Weisbrot escreveram nesta segunda (28/6) uma carta aberta ao NYT rebatendo as críticas.
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Carta ao NYT, de Stone, Tariq Ali e Mark Weisbrot
No texto, Larry Rohter afirma que os 78 minutos de documentário de Stone não contêm apenas “erros e distorções, mas também detalhes que faltam, prejudicando o retrato de Chávez”. Nos 11 parágrafos seguintes, o ex-correspondente insiste que não foi apenas Stone que cometeu erros, mas também Tariq Ali.
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No dia seguinte, Stone, Ali e o economista Mark Weisbrot escreveram a carta que responde cada acusação de Rohter. A réplica foi publicada no site oficial do filme e traduzida pelo Opera Mundi.
Um dos argumentos usados por Rohter para desqualificar o documentário é o ponto de vista adotado pela narrativa para tratar das eleições de 1998, que levaram Chávez ao poder. Segundo ele, é um equivoco afirmar que a ex-miss universo Irene Saéz, então candidata à presidência, era a principal adversária do coronel, já que ela ficou em terceiro lugar, com 3% dos votos, e não o ex-governador Enrique Salas Romer, que teve 40%. Para os produtores do documentário, bastava ter feito uma análise mais abrangente do período eleitoral para entender o papel de Irene na campanha de 1998.
Detalhes
Sobre a escolha de ter mostrado imagens do documentário irlandês A Revolução Não Será Televisionada, que conta a história do golpe fracassado contra Chávez em 2002, Rohter afirma que Stone e Ali escolheram apenas uma das versões da história. Para o jornalista, o filme eliminou detalhes ao contar o processo da Revolução Bolivariana.
Respondendo aos comentários, Stone, Weisbrot e Ali alegam que as afirmações do jornalista são “falsas”, e que, “ironicamente, é Rohter quem abraça teorias conspiratórias”.
“A mídia é tendenciosa e distorce as informações sobre a América Latina, o tema principal do documentário”, afirmam na carta, explicando que a tentativa de “desacreditar” o filme se deve a isso e ao fato de o jornalista, segundo os produtores, estar empenhando numa “campanha anti-Chávez”.
Para Stone, os comentários do jornalista são enganosos e o NYT “deve desculpar-se por ter publicado aquele texto”.
Erros de Rohter
O jornalista norte-americano é conhecido por uma polêmica envolvendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2004, quando era correspondente no Rio de Janeiro. Na época, fez uma reportagem com o título “Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional“, na qual descrevia supostos excessos alcoólicos do presidente. O texto era acompanhado por uma foto de Lula bebendo cerveja na Oktoberfest no ano anterior. Em seguida, cometeu um erro em uma matéria sobre índice de obesidade na população brasileira, identificando em uma foto duas moças na praia como brasileiras mas, na verdade eram tchecas. O visto de jornalista de Rohter chegou a ser suspenso pelo Itamaraty, mas depois foi renovado.
Oliver Stone tem parte de sua produção focada na América Latina. O cineasta, vencedor do Oscar de melhor diretor por JFK – a pergunta que não quer calar (1991) e Nascido em 4 de Julho (1989), tem seis documentários sobre a região. Stone está produzindo atualmente um documentário sobre Fidel Castro e um filme com atores sobre o traficante de drogas colombiano Pablo Escobar.
Leia o texto de Larry Rohter no NYT (em inglês)
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