O mundo está de olho no México não só pela renovação da cadeira presidencial do país – que representou a vitória de Claudia Sheinbaum (Continuemos Fazendo História) – mas porque um movimento recente acaba de se solidificar nesta segunda onda de governos progressistas na América Latina: o Movimento de Regeneração Nacional (Morena).
O partido obteve vantagem mais ampla do que indicavam as pesquisas eleitorais: venceu com 30 pontos de distância para a segunda colocada e recebeu 58% dos votos (até o fechamento desta reportagem). Entre os mais de 20.700 cargos em disputa no pleito deste domingo (02/06), o partido também conquistou novamente a gestão do Distrito Federal com Clara Brugada, maioria no Senado e, com partidos aliados, também maioria na Câmara dos Deputados.
O Morena foi cofundado pelo atual presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador (AMLO), Sheinbaum, entre outros.
Como votaram os mexicanos
A presidente eleita venceu em 31 das 32 entidades federativas do México: a exceção foi o estado de Aguascalientes, que deu preferência a Xóchitl Gálvez (Força e Coração) por uma diferença de 23.147 votos sobre Claudia Sheinbaum.
Sendo assim, o mapa do México ficou pintado de vinho, cor do Morena, e apenas Aguascalientes com o rosa de Força e Coração. Claudia arrasou no Estado do México, com 4,7 milhões de votos, seguido do Distrito Federal, com 2,8 milhões, e em Veracruz, com 2,1 milhões de votos.
Para o governo do Estado, as cores que representam partidos e coalizões ficaram mais distribuídas no território mexicano, em grande parte de votos reafirmando o desejo de continuidade das gestões atuais – com apenas uma exceção, em Yucatán – nas nove entidades federativas que disputaram a eleição este ano.
O partido de centro-esquerda Movimento Cidadão, terceiro colocado para a Presidência com o candidato Jorge Álvarez Máynez, conquistou a reeleição em Jalisco . Além deste estado, o partido também governa em Nuevo León.
O Partido Ação Nacional (PAN), de direita, voltou a ser eleito pela população do estado de Guanajuato, mas perdeu o governo de Yucatán , ao sul do país, que passará a ser governado pelo Morena a partir de outubro deste ano.
Além da novidade em Yucatán, o Morena foi reeleito no restante dos estados do país, que se distribuem de norte a sul: Veracruz, Distrito Federal, Morelos, Puebla, Chiapas e Tabasco.
As datas de tomada de posse variam em cada estado e acontecerão entre 26 setembro e 14 de dezembro deste ano. Sheinbaum, como presidente, assumirá no próximo 1º de outubro.
Como ficou composto o Parlamento mexicano após a eleição?
Segundo o Programa de Resultados Eleitorais Preliminares (PREP), as notícias já são boas para o Morena em termos de composição na Câmara e Senado.
Na Câmara dos Senadores, o futuro governo de Sheinbaum conseguiu maioria simples: dos 85 necessários para a maioria qualificada (ou seja, dois terços do recinto para votação), elegeu 83 senadores, somando todos os partidos de sua coalizão, o Continuemos Fazendo História. O Senado mexicano é composto por 128 cadeiras. Com a maioria simples, o Morena é a sigla com maior número de senadores na câmara, mas isso não garante que, sozinho, obtenha mais de 50% dos votos necessários para a aprovação de um projeto ou pauta no recinto.
Já em Deputados, o partido de AMLO conquistou a maioria qualificada na câmara com 372 senadores da coalizão vitoriosa do último domingo. Do total de 500 deputados na câmara mexicana, a maioria para garantir a aprovação de projetos é adquirida com 334 cadeiras. Foram 247 apenas com os votos diretos ao Morena, somados às 50 conquistadas pelo Partido do Trabalho (PT) e as 75 do Partido Verde Ecologista do México (PVEM).
A segunda coalizão mais representativa nas câmaras foi a Força e Coração, de centro-direita. A coalizão é composta pelo PRI, PAN e pelo PRD.
Este panorama revela um futuro promissor para a tramitação de projetos na gestão de Sheinbaum para o que chamam de "segundo andar da quarta transformação", como sucessão de AMLO. Uma maioria na Câmara significaria um caminho pavimentado para a reforma constitucional, um pacote de 20 medidas propostas por Obrador em 2020.
Entre as mais importantes estão um auxílio complementar para trabalhadores de baixa renda, iniciativas de combate à corrupção e o reconhecimento de direito público, patrimônio e personalidade jurídica própria para comunidades indígenas, além de proibir atividades extrativistas contaminantes como o fracking. Entre as criticadas estão a militarização da segurança pública com a Guarda Nacional e a extinção de instituições do Estado, como o INAI (Instituto Nacional de Transparência).